Júlio Pomar (10 de Janeiro de 1926 - 22 de Maio de 2018), in memoriam.
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Júlio Pomar (10 de Janeiro de 1926 - 22 de Maio de 2018), in memoriam.
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Jarra em faiança, com cerca de 18,1 cm. de altura, produzida pela consagrada fábrica holandesa Plateelbakkerij Zuid-Holland, cujas instalações se situavam na cidade de Gouda.
Uma das inúmeras fábricas de cerâmica daquela região, muito afamada também pelos seus queijos, a Plateelbakkerij Zuid-Holland, cujas peças começaram a ser marcadas como PZH ou Plazuid a partir de 1928, e em 1932 recebeu o direito de usar a distinção Real - N. V. Koninklijke Plateelbakkerij Zuid-Holland Gouda, foi fundada em 1898, acabando por encerrar em 1964.
Sobre as diversas fábricas existentes em Gouda, e as características das marcas da PZH em particular, que nos permitem saber que esta é uma peça datável de 1926, veja-se um extenso espaço dedicado a esta cerâmica em: http://www.goudadesign.co.uk/page1.html.
Note-se, depois de consultar aquele espaço, como a predominância de um fundo claro, patente neste exemplar, não é comum na cerâmica da região de Gouda.
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Chávena de café e pires formato Porto, da Sociedade de Porcelanas de Coimbra, com filetagem dourada e decoração geométrica esmaltada sobre o vidrado. Ambas as peças apresentam a marca SP1.
O motivo geométrico triangular aplicado nesta decoração é claramente evocativo de uma famosa litografia construtivista de El Lissitzky (1890-1941), editada em 1919 e reproduzida abaixo, denominada Derrotar os Brancos com a Cunha Vermelha, título que alude ao confronto entre bolcheviques (vermelhos) e mencheviques na URSS.
A evocação é ainda mais evidente quando se sabe que esta decoração também foi comercializada pela SP em vermelho (cf. http://modernaumaoutranemtanto.blogspot.com/2012/01/servico-de-cafe-modelo-cubico-porcelana.html#links), embora neste caso se tratem de chávenas e pires octogonais do formato Cúbico, onde o valor simbólico da intersecção do círculo pelo triângulo está diluído.
Este exemplar foi exibido na exposição Portuguese Ceramics in the Art Deco Period, realizada nos EUA em 2005, conjuntamente com um bule, uma leiteira, um açucareiro e uma chávena de chá com pires (respectivamente, números 45 e 48 a 51 do catálogo) do mesmo formato e com a mesma decoração, embora as asas destes últimos estejam apenas decoradas com uma filetagem a ouro.
Conforme já foi referido anteriormente (cf. http://mfls.blogs.sapo.pt/143462.html), aquela que mais tarde ficou a ser a Sociedade de Porcelanas de Coimbra denominava-se Porcelana de Coimbra quando se constituíu como sociedade anónima de responsabilidade limitada, em 13 de Maio de 1922.
A designação Sociedade de Porcelanas, Limitada, foi instituída a 31 de Agosto de 1926, num período em que a situação empresarial e financeira da Porcelana de Coimbra (PC) era já preocupante e a SP lhe sucedeu, com a fábrica na Arregaça.
Com efeito, a PC acabou por ser dissolvida em 8 de Julho de 1929, tendo entrado em imediata liquidação, para a qual foram nomeados "com os mais amplos poderes" Faustino Corrito e José Cordeiro Guerra, poderes que incluíam os "de venda ou alienação de bens móveis e imóveis da sociedade particularmente, sem dependência de hasta pública".
O activo desta sociedade veio a ser colocado em praça a 17 de Julho desse ano. Ainda a 25 de Outubro de 1929, na sequência deste processo, foi contraído pela SP um empréstimo junto da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, garantido com hipoteca e penhor mercantil dos antigos bens da Porcelana de Coimbra.
Este empréstimo encontrava-se ainda por liquidar a 28 de Junho de 1935, data em que foi substituído o pacto social da SP. A 15 e 27 desse mês havia-se registado a primeira intervenção da Empresa Electro-Cerâmica (EEC), do Candal, e da Vista Alegre, de Ílhavo, no capital social da SP, que era então de 10.000$00 e passou a estar equitativamente dividido por estas duas empresas.
Um dos responsáveis pela VA, João Teodoro Ferreira Pinto Basto (1870-1953), na sua obra A Cerâmica Portuguesa (1935), que reproduz um discurso proferido em 20 de Dezembro de 1934, refere o seguinte sobre a SP:
"6.º Centro – Coimbra – Porcelana – Sociedade de Porcelanas. Produz loiça domestica e artigos electricos. Começou a sua laboração há cerca de 12 anos. Emprega caolino da sua concessão de S. Vicente em Ovar e tem aperfeiçoado principalmente o fabrico de loiça domestica de uso corrente."
Conforme também já foi anteriormente referido, a aposta da VA na SP consolidou-se em 1945.
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Jarra com decoração policromática, aplicada à mão sob o vidrado.
Na base apresenta as seguintes inscrições: "X: 1 [pintada a negro] / 184/3 / BELO / C. DA RAINHA [incisas] / E. L. [pintada a negro]". Os números incisos referem-se ao formato (184) e ao tamanho (3) da peça, sendo que os números mais altos indicam peças maiores. Neste caso a peça mede cerca de 17,3 cm. de altura, correspondendo o tamanho 1 a cerca de 10,5 cm.
De acordo com a brochura Caldas da Rainha, Roteiro-Guia, publicada pelo jornal Gazeta das Caldas em 1926, a situação da indústria cerâmica de então era a seguinte:
"Ha muitas fabricas de Faianças nesta vila: Fabrica Bordalo Pinheiro, Lt,ª − junto ao Parque das Faianças nesta vila; Francisco Elias, R. Tenente Sangreman Henriques; José A. Cunha, Sucessores, Lt.ª, R. Candido dos Reis; Avelino Belo, R. da Liberdade; José Belo, R. da Liberdade; Salvador F. Souza, Rua Candido dos Reis; Eduardo Elias, R. Sebastião de Lima; João Arroja, R. Miguel Bombarda; João Angelico, R. da Liberdade; Herculano Serra, Largo da Copa."
A mesma publicação destaca ainda os seguintes ceramistas:
"Dos actuais ceramistas sobresae Francisco Elias, o miniaturista que todo o Paiz conhece pelos seus trabalhos que mais dignos eram de ser feitos em ouro e prata do que no barro fragil; Avelino Belo, considerado o melhor tecnico da ceramica caldense; José Carlos dos Santos e Acelino de Carvalho, os dois mestres da actual Fabrica Bordalo Pinheiro; Eduardo Elias, que se tem dedicado a faiança religiosa, tendo imagens de valor; Salvador Fausto de Sousa, Raul Figueiredo, José Belo, Germano da Silva, Francisco do Couto, Herculano Serra entre outros, havendo em todas as fabricas trabalhos de muito merecimento que colocam a faiança caldense num logar de destaque – sendo de maior valor as terras-cotas e as tintas de fogo com vidrados perfeitos, sempre superiores á louça pintada depois de cosida."
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Azulejo com decoração aerografada, e retoques manuais a castanho e amarelo, sob o vidrado. No tardoz apresenta em relevo a inscrição " U / SACAVEM / 3 ".
Exemplares similares a este azulejo, que integram a colecção Feliciano David e Graciete Rodrigues (†), foram exibidos na exposição Itinerário pela Produção da Fábrica de Loiça de Sacavém, realizada em 2000 no Museu de Cerâmica de Sacavém, e podem ser encontrados no catálogo homónimo.
Claramente evocativo dos nenúfares que surgem em dezenas das famosas pinturas executadas por Claude Monet (1840-1926) no seu jardim de Giverny, este azulejo não se limita a essa memória do Impressionismo. Com efeito, remete ainda para alguma da influência oriental que esse movimento pictórico recebeu, bem como para as imagens lacustres e ribeirinhas do Simbolismo.
Paisagens lacustres e ribeirinhas que, aliás, foram também imagem de marca de muita da notável produção vidreira de Émile Gallé (1846-1904) e dos irmãos Daum (Auguste, 1853-1909, e Antonin, 1864-1930), já no período Art Nouveau.
Essa imagem de marca, por sua vez, foi suficientemente duradoura para que diversas fábricas de cerâmica produzissem variantes dessas decorações até princípios da década de 1920, sobressaindo entre elas algumas fábricas escandinavas e a notável fábrica americana Rookwood.
Ainda em 1926, sob essa influência e sob a direcção artística de J. Cazaux (datas desconhecidas), a VA produziu para uma talha "Franceza" a belíssima decoração P. P. 464, que poderia perfeitamente ter sido uma indelével imagem do esprit du temps se tivesse sido desenhada 30 anos antes.
Jarra em pasta de vidro gravada a ácido e pintada a esmalte, produzida em Nancy, França, pela empresa dos irmãos Daum. Última década do século XIX, primeira década do século XX.
Uma das características das decorações com paisagens da empresa Daum era a apresentação de árvores cujos ramos ultrapassavam o rebordo da peça, aspecto que não era comum nas peças de Gallé.
A partir da última década do século XX o mercado de antiguidades foi inundado com cópias e falsificações das obras destas duas empresas, com maior incidência nas obras de Gallé. Desde então devem tomar-se as maiores precauções na aquisição de peças atribuídas a estas duas fábricas, sendo da maior importância conhecer, tanto quanto possível, a proveniência das mesmas.
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