O INÍCIO DE UMA CARREIRA NA FLS (I)
Nunca na minha infância sonhei que algum dia iria trabalhar na indústria cerâmica, embora soubesse que a minha família era dona da Fábrica de Loiça de Sacavém e que o meu avô e o meu pai trabalhavam lá. Só quando acabei o secundário em Londres, sem quaisquer ideias quanto ao meu futuro, é que aceitei ir fazer o curso de cerâmica em Stoke-on-Trent. Isto passou-se em 1956.
As primeiras impressões não foram nada boas. As "Potteries", como era conhecida a área da cidade de Stoke-on-Trent (composta por seis vilas – Burslem, Fenton, Hanley, Longton, Stoke e Tunstall), eram o centro da indústria cerâmica de Inglaterra e nessa altura existiam centenas de pequenas e médias empresas todas à volta das grandes cerâmicas, tais como a H&R Johnson, Royal Doulton, Twyfords, Wedgwood, e outras. Todas estas fábricas, particularmente as centenas das mais pequenas que ainda não tinham investido em fornos modernos devido às dificuldades económicas do pós-guerra, debitavam cá para fora uma espessa camada de fumo proveniente dos antigos fornos redondos, bottle ovens, e das chaminés das caldeiras que ainda eram alimentadas a carvão. Nessa época era impossível usar uma camisa branca pois era sabido que pela altura do almoço o colarinho já estaria preto... Só para dar uma ideia, as papelarias e tabacarias locais vendiam uns postais de Stoke-on–Trent apresentando uma imagem totalmente a preto com o título "Stoke-on-Trent by night", havendo outros exactamente iguais mas com o título "Stoke-on-Trent by day"!
Ao fim de algum tempo ficávamos habituados não só ao denso fumo como à chuva e ao frio, sendo tudo atenuado pelas amizades que se criavam – ainda em Julho passado me veio visitar um antigo colega de curso que hoje em dia vive na Austrália e eu não via há mais de quarenta anos!
© Clive Gilbert
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