Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém

Novembro 01 2012

 

O INÍCIO DE UMA CARREIRA NA FLS (III)

 

Tendo concluído os meus estudos em Stoke-on-Trent, no verão de 1960, planeei um regresso a Portugal juntamente com um amigo e colega de curso, no carro dele, por forma a aproveitar a viagem visitando fábricas de cerâmica. Assim, decidimos escrever a empresas da Holanda (Sphinx), Alemanha e Luxemburgo (Villeroy & Boch), Suíça (Laufen), Itália (Gibertini) e Espanha (Roca), solicitando autorização para visitar as suas instalações e conhecer os seus meios de produção.

 

Todas as empresas foram impecáveis e convidaram-nos para as visitar quando quiséssemos. Foi uma óptima oportunidade para comparar processos de produção diferentes daqueles que estávamos acostumados a ver em Inglaterra, tudo isto em relação ao fabrico de loiça sanitária, loiça de mesa, azulejos e mosaicos, bem como tijolos e telhas. A viagem foi extraordinariamente interessante pois aprendemos muito, para além de conhecermos uma boa parte da Europa, ou seja, foram dois coelhos de uma só cajadada!

 

De regresso a Portugal, iniciei a minha carreira na Divisão Técnica da FLS, supervisionada na altura pelo extraordinário João de Sousa, filho de José de Sousa, o primeiro Encarregado Geral português da Fábrica de Loiça de Sacavém. O João de Sousa, que tirou o mesmo curso que eu em Stoke-on-Trent, nos anos 30, habitou toda a sua vida dentro da fábrica, pois a empresa disponibilizava meia dúzia de moradias na parte alta dos seus terrenos para os técnicos ou quadros indispensáveis a que tudo corresse bem no dia-a-dia.

 

Uma das razões, se não a principal, para a existência destas casas devia-se ao facto de Sacavém, na época, não ter infra-estruturas que assegurassem rápida ligação a Lisboa, ou a outras localidades - a estrada era péssima e os transportes públicos regulares, com excepção dos comboios, quase não existiam.

 

Quem vivia dentro dos muros da empresa eram o Encarregado Geral, o Director da Produção, o Director dos Recursos Humanos, o Chefe dos Fornos, o Chefe dos Electricistas e o Director Técnico. As casas foram construídas pelo pessoal da Secção dos Pedreiros, sendo o projecto das últimas quatro da autoria de Leonardo (Rey Colaço) Castro Freire (1917-1970), arquitecto que veio a ser distinguido com o prémio Valmor em 1970.

 

Para além destes aspectos, a Sacavém foi pioneira numa política social inovadora, pois o Estado, nos anos 20 e 30, pouco fazia pelos trabalhadores em termos sociais. Assim, o meu avô Herbert Gilbert (1878-1962) lançou nessa época os seguintes serviços de apoio:

 

● Cantina subsidiada (poucas empresas nessa altura tinham cantinas).

● Creche para as crianças do pessoal

● Subsídio de férias e férias junto ao mar para todas os trabalhadores (casas alugadas em S. Martinho do Porto, Ericeira, e outros locais)

● Médico da empresa

● Suplemento da reforma

● Aulas de ginástica para os mais novos dentro do horário de trabalho

 

Mais tarde, a empresa foi das primeiras em Portugal a introduzir a semana inglesa (trabalho durante cinco dias e meio, em vez de seis) e, já nos anos sessenta, a semana americana (trabalho durante cinco dias).

 

© Clive Gilbert 

© MAFLS

publicado por blogdaruanove às 13:09

Estou a adorar ler estas memórias. Obrigada!
Sandra Pena a 2 de Novembro de 2012 às 19:39

Fiquei muito contente em saber que está a gostar das minhas memórias. Obrigado! Clive Gilbert
Clive Gilbert a 10 de Novembro de 2012 às 15:24

E a interessante história continua...
Realmente fiquei surpreendida com os benefícios sociais instituídos por Herbert Gilbert na FLS.
Já sabia da existência da creche por fotos que vi na "História da Fábrica de Loiça de Sacavém", editada em 2000 pelo MCS, e ali li que lhe deram o nome da Baronesa Howarth de Sacavém, mas a minha dúvida é se esse título se refere a Alice Rorstrand ou a Margarida Pinto Basto.
Será que tem dados para me esclarecer?
Cumprimentos
Maria Andrade a 3 de Novembro de 2012 às 09:30

Obviamente referia-me a Alice Rawstron, troquei-lhe o nome, peço desculpa pela gafe.
Maria Andrade a 3 de Novembro de 2012 às 21:10

De facto Alice Rawstron foi a mulher legítima de John Stott Howorth, e não Margarida Pinto Basto, embora alguns descendentes dos Stott Howorth cá em Portugal afirmem que o barão se divorciou de Alice e casou em segundas núpcias com Margarida.
Parece é que houve uma relação extra-conjugal entre ambos da qual nasceu pelo menos um filho, que aparentemente está enterrado na campa do Barão Howorth no Cemitério da Igreja Anglicana de Saint George, em Lisboa.

Obrigado pelo seu interesse!

Clive Gilbert
Clive Gilbert a 10 de Novembro de 2012 às 15:30

Clive, Maria Andrade:

Os registos genealógicos disponíveis on line indicam que John Sttot Howorth (1829-1893) teve descendência de três senhoras:

Alice Rawstron (1831-1925; que ainda aparece como accionista da FLS em 1922: http://mfls.blogs.sapo.pt/138305.html), mãe de Alice Annie Howorth (nasceu e faleceu em 1859).

Henriquete da Conceição Almeida (datas desconhecidas), mãe de João George Howorth (1865-?) e Henrique Almeida Howorth (1868-?).

Maria Margarida Pinto Basto (1866-1916), mãe de John Pinto Stott Howorth (?-1949), Mary Stott Howorth (1890-1977) e Henrique Anthony Stott Howorth (1891-1981).

Embora Alice Rawstron surja como accionista da FLS, algumas fontes referem que Maria Margarida Pinto Basto usou o título de Baronesa Howorth de Sacavém.

Contudo, ao contrário do que acontece com Alice Rawstron, nem as duas últimas senhoras nem nenhum dos seus descendentes aparece nos registos de 1922 a 1946 como accionista da FLS.

Maria Andrade:

Grato pela questão. Reescreverei os dados de 1 de Setembro de 2009 de modo a incluir estas reflexões.

Saudações!

MAFLS
blogdaruanove a 10 de Novembro de 2012 às 18:43

mais sobre mim
Novembro 2012
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9

13
15

19
21
23

27
29


arquivos

Setembro 2024

Setembro 2023

Setembro 2022

Setembro 2021

Setembro 2020

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

pesquisar