"D. Nicéforo Fernandes ocupava a cabeceira da mesa e, modo de honrar meu pai, sentando o Dr. Temudo à direita, sentou-me a mim logo à sua esquerda, antes dele. De modo que eu ouvia, quer quisesse quer não, espremendo-me quanto podia, o cavaco que iam entretecendo os dois. E para mim, que nunca tal pensara, esse cavaco, sem me alhear do arroz de cabidela e do peixe de barrica, que as vareiras traziam à feira de S. Mateus, servido ali à farta em travessas de Sacavém, enlodado de molhanga, foi banqueteando por sua vez a minha curiosidade."
Passagem retirada do romance Cinco Reis de Gente (1948), de Aquilino Ribeiro (1885-1963), cuja acção decorre na Beira Alta durante a última década do século XIX.
Ao longo deste romance, onde se efectua uma revisitação da infância do autor, Aquilino revela particular enlevo pela cerâmica, fazendo referências ao azul de Saxe, à figura de um cão em faiança, à cerâmica de Delft e à obra de Palissy.
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