Grupo escultural em porcelana dourada e pintada à mão, da fábrica Artibus, Aveiro, com cerca de 17,7 cm. de altura.
Conforme aqui foi referido anteriormente (http://mfls.blogs.sapo.pt/12467.html), a Artibus produziu cerâmicas de alta qualidade, quer quanto à pintura quer quanto à modelação, sendo esta peça paradigmática dessa sua excelente execução.
Como se pode verificar abaixo, o logótipo da empresa pretende sugerir o da VA, através da haste levantada no início do A e da consequente sugestão de um pequeno v a anteceder essa letra, certamente não apenas porque alguns dos seus técnicos eram daí oriundos mas também pelo prestígio associado a essa marca.
De acordo com o Diário do Governo, a Artibus foi estabelecida por escritura pública de 11 de Abril de 1947, embora o início da sociedade ficasse registado nesse mesmo documento como tendo ocorrido a 1 de Janeiro desse ano.
O seu capital social inicial era de 400.000$00, distribuído pelas seguintes quotas: Hernâni Henriques Salgueiro com 150.000$00; José Maria Vilarinho com 150.000$00; e Carlos Alberto Pinto da Mota com 100.000$00.
Este último sócio, Carlos Alberto Pinto da Mota, assumiu o cargo de gerente técnico da fábrica.
Frasco de chá, a que falta a tampa, dourado e pintado à mão.
Esta figura feminina, evocativa dos Ballets Russes, de Diaghilev (Sergei Pavlovich Diaghilev, 1872-1929), surgia já numa pequena jarra, datável de 1928-1930, decorada por Guido Andlovitz (1900-1971) para a empresa Società Ceramica Italiana di Laveno, como se pode verificar na página 37 do livro Artes Decorativas do Século XX: Art Déco (1990), de Carla Cerutti (n. 1955).
A 31 de Outubro de 1949 uma nova escritura veio alterar significativamente quer o pacto social quer o capital da sociedade, que foi aumentado para 4.400.000$00 e ficou assim distribuído:
José Maria Vilarinho, 2.000.000$00; Adélia Teixeira Vilarinho, 100.000$00; Fernando Arcanjo de Sá Marta, 600.000$00; Carlos Alegre Marta, 400.000$000; Eduardo Arcanjo de Sá Marta, 300.000$00; António de Ataíde Marta, 100.000$00; Manuel Alegre Marta, 200.000$00; Augusto Alegre Marta, 100.000$00; Lucílio Garcia, 100.000$00; António Luís Marta, 200.000$00; Maria Alice de Ataíde Marta Proença, 100.000$00; Mário Ferreira da Costa, 100.000$00; Armando Costa, 25.000$00; José Ferreira Correia, 25.000$00; João Fernandes Torrão, 25.000$00; e António Valente da Silva, 25.000$00.
Como se verifica por estes dados, José Maria Vilarinho foi o único elemento que transitou da sociedade anterior, ficando a Artibus, a partir de 1949, a ser controlada pelas famílias Vilarinho e Marta.
A saída de Carlos Alberto Pinto da Mota foi suprida com a entrada dos novos sócios António Valente da Silva, Armando Costa, João Fernandes Torrão e José Ferreira Correia, que vieram assegurar competências técnicas nos diversos sectores da fábrica.
Dos trabalhadores da fábrica registe-se ainda o nome de José Augusto Ferreira dos Santos (n. 1930), que aí trabalhou como oleiro, entre 1948 e 1959, antes de se transferir para a fábrica Aleluia onde permaneceu até 1969, tendo exercido nesta última a actividade de pintor de painéis e de modelador (cf. http://www.prof2000.pt/users/secjeste/ZeAugusto/Antospg31.htm e http://www.cm-aveiro.pt/www/cache/imagens/XPQ5FaAXX29248aGdb9zMjjeZKU.pdf).
A Artibus ainda existia em 1988, pois nas actas da C. M. de Aveiro de 8 de Agosto desse ano (http://www.cm-aveiro.pt/www/cache/imagens/XPQ5FaAXX20848aGdb9zMjjeZKU.pdf) refere-se que seriam imputados à empresa 50% dos custos globais (estimados em 42.266.600$00) das infraestruturas da área sul do Canal do Cojo, onde se situavam os terrenos da fábrica.
O grupo escultural aqui reproduzido ilustrou um dos artigos do catálogo da exposição Portuguese Ceramics in the Art Deco Period, realizada em 2005 nos EUA.
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