O INÍCIO DE UMA CARREIRA NA FLS (II)
Iniciei os meus estudos em matéria cerâmica no então denominado North Staffordshire Technical College (hoje, North Staffordshire University), em Stoke-on-Trent, em Setembro de 1956.
Os cursos estavam divididos entre Barro Branco e Barro Vermelho e, em princípio, tinham a duração de três anos. O ano escolar, por sua vez, estava dividido em dois períodos (de Setembro a Abril, para a teoria, e de Maio a Agosto, para a prática). Neste último período o estudante tratava de arranjar o seu estágio numa fábrica, em Inglaterra ou no estrangeiro, podendo o NSTC encarregar-se disso caso ele não o conseguisse.
O primeiro ano foi essencialmente bastante básico, abordando, em termos de Física e Química, matéria tratada no antigo 7.º ano do secundário. Era um ano comum aos estudantes de Barro Branco e de Barro Vermelho.
Por sua vez, o segundo ano já era mais especializado em termos da área cerâmica que cada qual tinha escolhido. No meu caso era o Barro Branco, tratando portanto de áreas que lhe estavam directamente ligadas – vidros, corantes, moldes, madres, e outros aspectos técnicos.
Finalmente, o terceiro ano era ainda mais especializado e incluía outros aspectos práticos desenvolvidos nas fábricas de Stoke. Lembro-me, por exemplo, que fui o primeiro aluno a produzir uma sanita, do princípio ao fim, na fábrica Royal Doulton. Enchi e despejei o molde, tirei a peça do molde, acabei-a, coloquei-a no secador, vidrei-a, coloquei-a e tirei-a do forno antes de fazer a escolha. Hoje a peça faz parte da colecção do museu da Universidade.
No curso, o mais surpreendente era o facto de a matéria continuar a ser exactamente igual há mais de vinte anos. Curiosamente, o Director do Departamento Técnico da FLS era o João de Sousa, filho do Mestre José de Sousa, o primeiro português a ocupar este lugar depois dos ingleses Barlow, pai e filho. O João de Sousa tinha estudado em Stoke nos anos 30, pelo que pude comparar os meus apontamentos com os dele. Eram praticamente iguais!
Algo de ainda mais extraordinário ocorria nos estudos relativos ao cozimento. Aqui, noventa por cento da matéria era dedicada aos fornos intermitentes redondos e apenas o muito pouco que restava aos fornos-túneis, que já eram norma em grande parte das empresas. Quanto aos fornos de rolos para azulejos, que já existiam na Sacavém, nenhuma referência! Quando levantei a questão responderam que ainda não estavam suficientemente testados nem dados como fiáveis! Estou convencido que lá no NSTC ainda nem sequer tinham ouvido falar deles!
© Clive Gilbert
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