Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém

Novembro 14 2012

 

Figura de um potro em barro parian apresentando incisa, na parte superior da base, a assinatura "A. Moreira" (António Moreira, datas desconhecidas, activo na FLS durante as décadas de 1960 e 1970).

 

Um exemplar da tabela de Maio de 1960 existente no CDMJA, cuja numeração impressa acaba na peça número 726, apresenta uma adenda manuscrita de novas peças até ao número 759, onde esta surge sob o número 755 e a designação "Fig. de Poldro" sem qualquer indicação de preço, embora se registe que a peça pesa 240 gramas.

 

Esta figura já não se encontra referenciada na tabela de Maio de 1979.

 

Fotografias da peça por Hector Castro, coleccionador e proprietário deste exemplar.

 

 

© MAFLS

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Novembro 12 2012

 

Tigela formato Norte, do último período de produção da FLS, decorada com esmalte aplicado a aerógrafo sobre stencil (chapa recortada).

 

Veja-se um exemplar do mesmo formato e com a mesma decoração, mas em cores diferentes, aqui: http://mfls.blogs.sapo.pt/167814.html.

 

 

© MAFLS

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Novembro 11 2012

 

Prato fundo, com cerca de 21,4 cm. de diâmetro, sem qualquer marca mas de possível fabrico português.

 

Apresenta a particularidade de ostentar um motivo central que se foi desenvolvendo em três diferentes fases cromáticas – primeiro surgiram o verde, o castanho claro e o encarnado, aplicados sobre stencil ou chapa recortada; depois o castanho escuro, em barbotina aplicada livremente, que veio conferir baixo-relevo ao desenho; finalmente, o amarelo, aparentemente aplicado também sobre stencil.

 

Quer o motivo central quer o estampilhado do rebordo foram aplicados sobre o tradicional revestimento estanífero opaco, que confere maior projecção ao baixo-relevo.

 

Por curiosidade, pode observar-se abaixo uma diferente técnica para representar um motivo semelhante. Trata-se de um prato produzido na fábrica francesa B. H. & Cie., de Boisy-le-Roy, onde o desenho surge como um relevo negativo moldado na pasta. Depois de preenchido com o vidrado, este passa a dar uma noção de quase tridimensionalidade que lhe advem das suas diferentes profundidades.

 

 

A fábrica Boulenger-Hautin et Cie. teve a sua origem na empresa Paillart, fundada em 1804. Em 1824, Valentin Paillart (?-1836?), o único sobrevivente daquela sociedade de três irmãos, associou-se a Hippolyte Hautin (datas desconhecidas). Por sua vez, este associou-se a Louis Boulenger (?-1863?) em 1836, dando origem à B. H. & Cie.

 

O filho deste último, Hippolyte Boulenger (1836-1892), passou a administrar a fábrica a partir de 1863. Embora a marca B. H. & Cie. continuasse a ser usada, até pela coincidência de iniciais, a companhia passou a denominar-se Hippolyte Boulenger et Cie. a partir de 1878.

 

A empresa continuou a expandir-se até 1920, ano em que adquiriu as fábricas de faiança de Creil-Montereau e passou a denominar-se Hippolyte Boulenger, Creil, Montereau. Mas este apogeu veio a revelar-se dramático ao longo da década seguinte. Embora continuasse a operar em Montereau até 1955 a companhia acabou por encerrar a sua fábrica em Choisy-le-Roi no ano de 1936, sendo essas instalações demolidas em 1952. 

 

Sobre esta empresa ver: http://fr.wikipedia.org/wiki/Fa%C3%AFence_de_Choisy-le-Roi e http://www.ihs94.org/spip.php?article57.

 

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Novembro 10 2012

 

Azulejo com decoração moldada, correspondente ao motivo 17, e vidrado monocromático. No tardoz apresenta a inscrição "(coroa) / SACAVEM", em relevo. 

 

Vejam-se outros exemplares monocromáticos, com este motivo, aqui: http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/motivo+404.

 

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Novembro 08 2012

 

Prato de fatias, formato Aldeia, com decoração pintada à mão sobre o vidrado.

 

A peculiaridade desta decoração assenta no facto de ter sido executada com um esmalte translúcido que produz efeitos rosa-irisados pouco comuns na produção da FLS.

 

Estes fazem recordar os revestimentos químicos (flashing) utilizados nos vidros portugueses do século XX para produzir o tom alarajado vulgarmente conhecido como "casca de cebola" (cf. http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/286639.html).

 

Pelo seu tom rosado, esses reflexos irisados fazem ainda recordar o verniz de esmalte para unhas, o que acrescenta um inesperado toque feminino a esta temática marinha.

 

As manchas circulares na base demonstram que, apesar de este ser um prato para fatias, foi claramente usado como base para terrinas de outros modelos ou diferentes recipientes com esse formato circular.

 

 

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Novembro 06 2012

 

Caixa em faiança, enquadrável nos modelos vulgarmente denominados como caixas boleiras, com cerca de 13,8 x 21,8 x 14,5 cm., apresentando pequenas variantes do motivo 626 (cf. http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/motivo+626) da FLS.

 

Apesar da quase total coincidência nos detalhes do motivo, esta peça não foi produzida pela FLS mas sim pela fábrica alemã Steingutfabrik Störnewitz AG, localizada em Meissen-Störnewitz.


Partindo do pressuposto, muito provavelmente correcto, de que este motivo tenha sido lançado em primeiro lugar pela SS, volta-se a documentar mais uma vez a significativa influência das decorações cerâmicas alemãs na produção de uma fábrica portuguesa administrada por diversas gerações de ascendência inglesa...


Note-se ainda como o registo de produção da SS Meissen é exactamente igual ao da FLS na época, um registo comum também a muitas outras fábricas europeias desde o século XIX – um número inciso (736) para o formato e um número carimbado (1890), ou pintado, consoante o acabamento, para o motivo.


Conforme já havia sido declarado no passado fim-de-semana, estas imagens são dedicadas ao espaço MUONT (http://modernaumaoutranemtanto.blogspot.pt/), que acaba de completar um ano de publicação, e aos seus autores, a quem endereço felicitações pela efeméride.

 

 

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Novembro 04 2012

 

Figura da série Bébé, representando um Pauliteiro de Miranda do Douro, criada por Leonel Cardoso (1898-1987).

 

Como já foi referido anteriormente, esta figura corresponde ao número 425 da tabela de Maio de 1951, onde surge sob a designação Figura bébé "Pauliteiro", ao preço de 40$00 para "Côres Mates ou coloridos s/ ouro", não surgindo já na tabela de Maio de 1960.


Um exemplar da tabela de Novembro de 1945 existente no CDMJA, cuja numeração impressa acaba na peça número 415, apresenta uma adenda manuscrita de novas peças até ao número 547-B, onde esta figura surge ao preço de 35$00 par "Colorido s/ ouro".

 

Sobre esta série, veja-se ainda o que foi escrito aqui: http://mfls.blogs.sapo.pt/56396.html. Sobre figuras semelhantes, de outras fábricas portuguesas, veja-se também: http://mfls.blogs.sapo.pt/189777.html.

 

Fotografias da peça por Hector Castro, coleccionador e proprietário deste exemplar.

 

 

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Novembro 03 2012

 

Caixa em faiança, com cerca de 16,4 x 23,2 x 11,8 cm., enquadrável nos modelos vulgarmente denominados em Portugal como caixas boleiras, pois destinavam-se a conter biscoitos, bolachas ou bolos.

 

Embora não apresente qualquer marca, foi certamente produzida numa das fábricas Lusitânia. Na exposição Portuguese Ceramics in the Art Deco Period, realizada nos EUA em 2005, foi exibida uma caixa de formato diferente, mas com as mesmas características decorativas e cores similares, ostentanto a marca CFCL2.

 

Como já foi aqui referido (http://mfls.blogs.sapo.pt/?skip=10&tag=formato+norte), o laranja surge como uma cor característica do período Art Déco, tendo sido usada com profusão na cerâmica europeia e americana desse período. Em Portugal esta cor foi particularmente usada em peças do Candal, da Lusitânia, da FLS e da SP de Coimbra. 

 

Na Europa, em Inglaterra, o laranja foi uma particular imagem de marca das peças de Clarice Cliff (1899-1972), ocorrendo ainda na produção das fábricas Crown Devon, A. E. Gray e Myott. Entre outras, surgiu também com destaque nalgumas peças da fábrica belga Boch Frères Keramis (http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/133073.html) e da fábrica checoslovaca Amphora (http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/161780.html).

 

Nos EUA o laranja destacou-se na produção da Hall China e da Homer Laughlin.

 

 

Uma caixa com o mesmo formato da exibida nos EUA e com decoração semelhante, mas noutras cores, foi também apresentada por MUONT no início do mês passado: http://modernaumaoutranemtanto.blogspot.pt/2012/10/caixa-art-deco-canelada-com-escorridos.html#links.

 

Aliás, a peça hoje apresentada é dedicada aos autores desse espaço, que tanto e tão bem têm vindo a divulgar os paralelismos entre a cerâmica portuguesa e europeia do século XX e recentemente se têm debruçado sobre exemplares de caixas semelhantes a esta.

 

Também porque o MUONT celebrará um ano de publicação nos próximos dias, ser-lhe-á ainda dedicada na próxima terça-feira a imagem de uma caixa alemã em faiança que apresenta decoração praticamente igual a um dos motivos comercializados pela FLS.

 

 

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Novembro 02 2012

 

Prato formato Berlim com decoração floral estampada, complemento a aerógrafo, no rebordo, e filetagem a dourado.

 

Embora este exemplar não se encontre marcado, corresponde ao formato Berlim da FLS, já aqui apresentado anteriormente (cf. http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/formato+berlim).

 

No catálogo da exposição Primeiras Peças da Produção da Fábrica de Loiça de Sacavém: O Papel do Coleccionador, realizada em 2004 no Museu de Cerâmica de Sacavém, podem encontrar-se uma saladeira e pratos rasos deste formato e com esta decoração.

 

 

© MAFLS

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Novembro 01 2012

 

O INÍCIO DE UMA CARREIRA NA FLS (III)

 

Tendo concluído os meus estudos em Stoke-on-Trent, no verão de 1960, planeei um regresso a Portugal juntamente com um amigo e colega de curso, no carro dele, por forma a aproveitar a viagem visitando fábricas de cerâmica. Assim, decidimos escrever a empresas da Holanda (Sphinx), Alemanha e Luxemburgo (Villeroy & Boch), Suíça (Laufen), Itália (Gibertini) e Espanha (Roca), solicitando autorização para visitar as suas instalações e conhecer os seus meios de produção.

 

Todas as empresas foram impecáveis e convidaram-nos para as visitar quando quiséssemos. Foi uma óptima oportunidade para comparar processos de produção diferentes daqueles que estávamos acostumados a ver em Inglaterra, tudo isto em relação ao fabrico de loiça sanitária, loiça de mesa, azulejos e mosaicos, bem como tijolos e telhas. A viagem foi extraordinariamente interessante pois aprendemos muito, para além de conhecermos uma boa parte da Europa, ou seja, foram dois coelhos de uma só cajadada!

 

De regresso a Portugal, iniciei a minha carreira na Divisão Técnica da FLS, supervisionada na altura pelo extraordinário João de Sousa, filho de José de Sousa, o primeiro Encarregado Geral português da Fábrica de Loiça de Sacavém. O João de Sousa, que tirou o mesmo curso que eu em Stoke-on-Trent, nos anos 30, habitou toda a sua vida dentro da fábrica, pois a empresa disponibilizava meia dúzia de moradias na parte alta dos seus terrenos para os técnicos ou quadros indispensáveis a que tudo corresse bem no dia-a-dia.

 

Uma das razões, se não a principal, para a existência destas casas devia-se ao facto de Sacavém, na época, não ter infra-estruturas que assegurassem rápida ligação a Lisboa, ou a outras localidades - a estrada era péssima e os transportes públicos regulares, com excepção dos comboios, quase não existiam.

 

Quem vivia dentro dos muros da empresa eram o Encarregado Geral, o Director da Produção, o Director dos Recursos Humanos, o Chefe dos Fornos, o Chefe dos Electricistas e o Director Técnico. As casas foram construídas pelo pessoal da Secção dos Pedreiros, sendo o projecto das últimas quatro da autoria de Leonardo (Rey Colaço) Castro Freire (1917-1970), arquitecto que veio a ser distinguido com o prémio Valmor em 1970.

 

Para além destes aspectos, a Sacavém foi pioneira numa política social inovadora, pois o Estado, nos anos 20 e 30, pouco fazia pelos trabalhadores em termos sociais. Assim, o meu avô Herbert Gilbert (1878-1962) lançou nessa época os seguintes serviços de apoio:

 

● Cantina subsidiada (poucas empresas nessa altura tinham cantinas).

● Creche para as crianças do pessoal

● Subsídio de férias e férias junto ao mar para todas os trabalhadores (casas alugadas em S. Martinho do Porto, Ericeira, e outros locais)

● Médico da empresa

● Suplemento da reforma

● Aulas de ginástica para os mais novos dentro do horário de trabalho

 

Mais tarde, a empresa foi das primeiras em Portugal a introduzir a semana inglesa (trabalho durante cinco dias e meio, em vez de seis) e, já nos anos sessenta, a semana americana (trabalho durante cinco dias).

 

© Clive Gilbert 

© MAFLS

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