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Jarra de Louis Dage (1873-1963), com cerca 11 de cm. de altura e 23,4 cm. de diâmetro máximo, em faiança e com aplicações de ferro forjado.
Embora a sua actividade de ceramista lhe tenha merecido, em 1924, a designação de meilleur ouvrier de France, alguma da sua produção tenha sido expressamente realizada para as afamadas galerias Printemps, de Paris, e as suas peças integrem diversas colecções públicas e privadas, é muito escassa a bibliografia sobre a sua obra e pouco se sabe sobre Louis-Auguste Dage.
As suas criações cerâmicas, características do período Art Déco, apresentam vidrado espesso sobre o qual se aplicam muitas vezes decorações florais estilizadas. Menos vulgares são os exemplares com aplicação de ferro forjado, como o que se ilustra.
De acordo com algumas fontes, a inscrição manuscrita que se encontra na base desta jarra, VAL, corresponde à identidade do autor das aplicações metálicas, Eugène Val (datas desconhecidas), e o número, neste caso 69, ao modelo dessa aplicação.
Esta hipótese é consistente com outras peças conhecidas apresentando diferentes aplicações em ferro forjado, as quais ostentam também a mesma inscrição combinada com numeração diversa, mas não foi possível obter qualquer informação complementar sobre tal autor.
Vejam-se outras peças de Dage, em colecções portuguesas, aqui: http://modernaumaoutranemtanto.blogspot.pt/search/label/Dage.
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Taça com vidrado monocromático azul.
Veja-se um conjunto de chávena e pires, com vidrado semelhante, aqui: http://mfls.blogs.sapo.pt/91130.html, e algumas taças de aperitivos mais pequenas, mas com formato semelhante, aqui: http://mfls.blogs.sapo.pt/13526.html.
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Jarra em faiança, com cerca de 26,6 cm. de altura, apresentando efeito craquelé induzido e assinatura correspondente ao monograma de Henri Chaumeil (1877-1944).
Antes da I Grande Guerra (1914-1918), Chaumeil exibiu no Salon des Artistes Indépendants, tendo depois do conflito participado no Salon d'Automne e no Salon des Artistes Décorateurs.
Contudo, foi a partir da década de 1920, já com a colaboração do seu filho Paul (1902-1984), que as criações cerâmicas de Henri Chaumeil se vieram a consagrar, chegando a ser comercializadas na famosa galeria Rouard, situada na avenue de l’Opéra, em Paris.
A imagem de marca de Chaumeil, dentro da gramática Art Déco, foi a cerâmica com motivos estilizados, de bagas ou flores, aplicados sobre acabamento craquelé, conhecendo-se, no entanto, exemplares com motivos de inspiração medieval executados com a técnica de sgraffito.
Ao contrário do que acontece com diversas outras peças Art Déco de Chaumeil, cuja técnica de corda seca, para separar as cores e destacar a decoração do fundo craquelé, remete para a produção da fábrica belga Boch Frères / Keramis e da fábrica francesa Longwy, o motivo decorativo desta jarra foi pintado sobre o craquelé e quase não apresenta qualquer relevo perceptível ao tacto.
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Saleiro em faiança com decoração complementar a dourado, sobre o vidrado.
Executado em oficina não identificada, será muito provavelmente de fabrico português.
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Fundada em 1903 pelo conde Charles Henri Olivier Hallez d'Arros (1842-1904?), a fábrica La Faïencerie Héraldique depressa passou a ser popularmente conhecida pelo nome da localidade francesa onde se situava - Pierrefonds.
Apesar da sua designação, a fábrica produziu peças em faiança mas também em grés, sendo estas últimas as que mais contribuiram para sua consagração. O fundo cromático predominante era um amarelo mostarda, a que se sobrepunham os famosos cristais azuis, mas também surgiam, com menor frequência, peças com um fundo de uma tonalidade mais esverdeada, a que se sobrepunham cristais verdes.
Muito embora nem a modelagem das peças (são notáveis apenas duas ou três dezenas delas) atinja a qualidade estética da fábrica Denbac, nem o controle de distribuição e crescimento de microcristais atinja a perfeição da fábrica Sarreguemines, a produção da fábrica Pierrefonds é considerada um expoente da cerâmica Art Nouveau de microcristais, sendo as suas peças avidamente coleccionadas hoje em dia.
Página de um catálogo não datado da fábrica La Faïencerie Héraldique.
A tendência decorativa Art Nouveau sucedeu a uma primeira abordagem de revivalismo histórico, no seguimento do movimento Historismus da segunda metade do século XIX, e foi adoptada na fábrica com a chegada em 1912 do ceramista Émile Bouillon (datas desconhecidas), o qual veio a adquirir a fábrica em 1937. Entretanto, a empresa recebera já uma medalha de prata na Exposition des Arts Décoratifs de Paris, em 1925.
O formato da jarra aqui ilustrada, com cerca de 27,6 cm. de altura, terá sido certamente concebido no período correspondente à actividade de Bouillon e, de acordo com a página de catálogo reproduzida acima, parece ter sido comercializado em três diferentes tamanhos, com os números – 389 (o de esta peça), 390 e 394, correspondendo este último a um exemplar com cerca de 40,5 cm. de altura.
Atingindo o seu apogeu entre as duas grandes guerras, quando simultaneamente com a produção de peças Art Déco voltou a adoptar formas e modelos revivalistas, a fábrica de Pierrefonds, como muitas outras na Europa e na América, começou a declinar no pós-guerra e acabou por encerrar em 1986 (http://fr.wikipedia.org/wiki/Gr%C3%A8s_de_Pierrefonds).
Conferir um artigo técnico sobre a vitificação cerâmica com cristais em: http://www.ceramicstoday.com/articles/hamer_crystals.htm.
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Factura datada de 30 de Junho de 1918 onde se pode encontrar a designação Gilman & Commandita patente no impresso e a designação Gilman Limitada presente no carimbo.
Esta encomenda, que ironicamente foi efectuada em Sacavém, e não em Ílhavo ou Aveiro, e parece ter coincidido com a nomeação, ou o exercício do cargo, de João de Almeida como comandante da região militar de Aveiro, consta do seguinte:
• Um serviço [de jantar?], com motivo 43, sem ouro
• Um serviço de chá, com motivo 44, sem ouro
• Meia dúzia de chávenas de café, formato Sacavém, com filete verde
• Uma dúzia de chávenas de chá, com motivo 44, sem ouro
Incluindo um desconto especial de 5% (1$24) e o custo de uma caixa (1$20), a encomenda ascendeu a um total de 26$05.
João de Almeida (1873-1953) começou por se celebrizar como oficial durante a acção militar desenvolvida na região do Cuamato, Angola, entre 1906 e 1908, e na pacificação dos Dembos. Após a implantação da República, colocou-se ao lado do movimento monárquico, tendo sido feito prisioneiro em Chaves durante a incursão couceirista de 8 de Julho de 1912, pelo que foi demitido do Exército em Outubro desse ano.
Reintegrado alguns anos depois, ocupou em 1918, durante o sidonismo, o cargo de comandante militar da região de Aveiro, com o posto de coronel. Entre Janeiro e Fevereiro de 1919, período em que vigorou a monarquia do Norte, colocou-se novamente ao lado dos monárquicos, tendo-se refugiado posteriormente em Paris.
Regressando a Portugal na década de 1920, foi director da Empresa Eléctrica-Oceânica de Aveiro, entre 1920 e 1936, administrador da Companhia do Papel do Prado, desde 1929, e presidente da Real Companhia Vinícola do Norte, a partir de 1933.
Nos seus últimos anos dedicou-se à investigação histórica, tendo, entre outras obras, sido autor da Reprodução Anotada do Livro das Fortalezas de Duarte Darmas (1943) e do Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses (1945).
Documento pertencente ao acervo de José Carlos Roseiro, a quem se agradece a cedência da imagem.
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