Herbert Gilbert fotografado cerca de 1900.
© Clive Gilbert
O INÍCIO DE UMA CARREIRA NA FLS (VIII)
Voltando aos meus primeiros tempos na Sacavém, que, como já referi, decorreram a partir de Julho de 1960, devo notar que passei esse período nos laboratórios da empresa, principalmente no dos ensaios físicos. Aqui eram ensaiadas diariamente amostras das três linhas de produção - loiça de mesa, sanitária, azulejo e mosaico, bem como amostras de cada remessa das várias matérias-primas que entravam, tanto das diversas pastas como dos vidros.
Este trabalho permitiu-me conhecer ao longo dos primeiros anos as várias linhas de produção da empresa numa altura importante, pois a Sacavém estava a investir em equipamento que permitisse não só melhorar a qualidade dos produtos como também melhorar a produtividade.
No entanto, este programa teve lugar numa altura em que o meu avô, como presidente do conselho de administração, já contava com mais de oitenta anos e com cinquenta e cinco anos de trabalho na empresa. Era um trabalhador incansável. Ia para Sacavém de manhã e durante a parte da tarde ia para os escritórios de Lisboa, por cima da loja da Avenida da Liberdade, onde se encontravam a Direcção Comercial e Compras e a Direcção Administrativa.
Para além de tudo isto, ao chegar a casa, no fim do dia, continuava a trabalhar até bem para além da meia-noite. Isto significava que ele é que controlava tudo na empresa. Até que um dia se esqueceu de encomendar uma remessa de barro e a fábrica esteve quase a parar a sua produção.
Com este contratempo, chegou à conclusão que não podia continuar a gerir a empresa daquela forma e ele próprio tomou a decisão de se reformar. Assim sendo, o conselho de administração resolveu chamar uma empresa francesa de organização, a Paul Planus, que durante vários meses trabalhou na Sacavém a montar um sistema que permitisse à empresa funcionar de uma forma mais descentralizada.
Entretanto, eu, já mais dentro dos vários processos de fabrico, comecei a reparar que as perdas na produção eram excessivamente elevadas, principalmente porque, devido às dificuldades existentes durante a Segunda Guerra Mundial em termos de importação de materiais acessórios à produção - tais como corantes ou placas refractárias para apoio no cozimento da loiça, a empresa se vira forçada a desenvolver por si própria muitos destes produtos. Mas estes não apresentavam a mesma qualidade do material importado, pois não detínhamos nem a técnica nem o equipamento especializado para o produzir.
A partir do momento em que começámos novamente a importar estes produtos, a melhoria na qualidade da loiça e azulejos foi notável, de tal forma que a Sacavém passou a fornecer loiça sanitária aos hotéis de luxo, que começaram a ser inaugurados no final da década de sessenta e o início da década de setenta, até porque foi possível começar a produzir a loiça na pasta vitrificada (vitreous china) exigida para este tipo de fornecimento.
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