Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém

Julho 30 2013

 

Caneca formato Grossa, com capacidade para 1 litro, apresentando a efígie de João Chagas (1863-1925) estampada a verde sob o vidrado. A designação Grega, que surge sob a marca, refere-se ao motivo que decora a parte exterior e interior do rebordo.

 

Por deferência de uma seguidora deste espaço, apresenta-se aqui uma curiosa e invulgar peça da FLS. Com efeito, encontramo-nos perante a imagem de um João Chagas relativamente jovem, que não retrata ainda o político investido em funções oficiais pelo regime republicano instaurado em 1910 (veja-se aqui uma caricatura de 1906 onde surge já envelhecido: http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/36028.html).

 

Ora é este retrato de uma personalidade que durante a década de 1890 foi deportada diversas vezes, e várias vezes condenada à prisão até 1910 (http://republica-sba.webnode.com.pt/products/jo%C3%A3o%20chagas,%20o%20jornalista%20panfletario%20/), que aqui se nos apresenta de forma intrigante. 

 

Intrigante porque o retrato corresponde, até no pormenor da gravata, a uma gravura publicada na imprensa em 1891 e reproduzida na página 48 do livro A Revolução Portugueza: O 31 de Janeiro (1912; http://www.gutenberg.org/files/29484/29484-h/29484-h.htm), de Jorge de Abreu (1878-1932).

 

Intrigante porque não será plausível que entre 1891, data da sua primeira condenação e deportação, e 1910 tenha sido produzida e comercializada uma caneca com estas características.

 

Intrigante porque não será também plausível que depois de 1910, quando Chagas contava já com 47 anos, fosse utilizada uma antiga imagem para consagrar o político republicano.

 

Intrigante porque, assim, esta peça será provavelmente datável de 1890 (o que é consistente com a marca), correspondendo ao período do Ultimato inglês.

 

Finalmente, intrigante porque a FLS era propriedade de industriais de origem inglesa e aí se produziu este símbolo de contestação e protesto anti-britânico.

 

Contudo, se atendermos ao comportamento atribuído a John Stott Howorth (1829-1893; http://mfls.blogs.sapo.pt/195720.html) nessa época, talvez alguns destes intrigantes aspectos se desvaneçam...

 

Fotografias da peça por Ana Teresa Pinheiro, coleccionadora e proprietária deste exemplar, a quem se agradece a cedência das imagens.

 

 

© MAFLS

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Julho 28 2013

 

Prato coberto, com cerca de 12,2 x 29,8 x 18,8 cm., apresentando decoração monocromática a azul estampada sob o vidrado, reproduzindo o motivo Beira, e complementos a dourado, sobre o vidrado.

 

Esta peça conjuga um dos mais elegantes e esculturais formatos da loiça doméstica da FLS na viragem do século XIX para o século XX, o formato Paris, com um dos dois motivos (sendo o outro o motivo Chorão) que, nessa época, terão rivalizado em vendas e popularidade com o motivo Estátua.

 

 

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Julho 27 2013

 

Prato fundo de faiança, com cerca de 27,6 cm. de diâmetro, apresentando decoração policromática pintada à mão, e motivo central aplicado sobre stencil (chapa recortada), sem qualquer marca visível.

 

Adquirido numa época em que se pediam exorbitâncias por peças semelhantes, mercadejava-o o vendedor como sendo de Estremoz, pedindo a exorbitância correspondente à raridade dessas peças.

 

Conta a proprietária que, sem contrariar a opinião do vendedor, o conseguiu adquirir por menos algumas centenas de escudos, convencida que não seria de Estremoz, mas sim da região de Gaia.

 

Não se tratando obviamente de um peça que se enquadre nas características da faiança de Estremoz, deixamos ao critério dos especialistas na faiança oitocentista do Porto e Gaia a determinação da sua origem, embora nos pareça que quer as cores da aba quer a sua disposição apontam certamente para esta última origem.

 

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Julho 26 2013

 

Azulejo em relevo com vidrado semi-mate verde-azeitona, apresentando o tardoz a legenda SACAVEM inscrita no interior de um grande círculo.

 

Apesar de este motivo estar ilustrado no catálogo de 1910, onde surgem combinações policromáticas com vidrado transparente (http://mfls.blogs.sapo.pt/78509.html), o presente exemplar é já do terceiro quartel do século XX.

 

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Julho 24 2013

 

A propósito da publicação desta caricatura do coleccionador e estudioso de cerâmica José Queirós (1856-1920), que foi executada em 1914 por Alberto de Sousa (1880-1961), foram-nos colocadas algumas questões.


Uma delas prendia-se com as iniciais patentes no vestuário do caricaturado e com a peça que este segura na sua mão direita, indagando-se se seria esta a peça que surge na capa do volume António Capucho: O Homem Através da Colecção (2004).


Ora, tal peça, como se pode comprovar pela catalogação presente nesse volume, corresponde a um dos dois cisnes (re)criados já na segunda metade do século XIX por Wenceslau Cifka (1811-1884), muito provavelmente nas instalações da Cerâmica Constância, às Janelas Verdes, em Lisboa.


Nesta caricatura, contudo, representa-se a célebre terrina ostentando as armas do Marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo, 1699-1782) executada por Tomás Brunetto (datas desconhecidas; activo na fábrica entre 1767 e 1771) na Fábrica do Rato (1767-1834), peça que desde 1947 integra o acervo do Museu Nacional de Arte Antiga (http://www.museudearteantiga.pt/pt-PT/exposicao%20permanente/outras%20obras%20essenciais/ContentDetail.aspx?id=132).

 

Obviamente, as abreviaturas correspondem, assim, às iniciais da Fábrica do Rato e à assinatura de Tomás Brunetto.


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Julho 22 2013

 

Pequena jarra, com cerca de 12,3 cm. de altura, apresentando fundo azul cobalto e decoração floral a esmalte policromático sobre o vidrado.

 

Apesar da distinta representação do rebordo, este exemplar parece corresponder ao formato 81 patente no catálogo de formatos de jarras da FLS que tem vindo a ser referido: http://mfls.blogs.sapo.pt/123502.html.

 

Veja-se outra decoração floral aplicada sobre fundo azul cobalto, com a mesma técnica e semelhante gramática decorativa, aqui: http://mfls.blogs.sapo.pt/242140.html.

 

 

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Julho 21 2013

 

Procurando complementar as mais recentes e diversas referências que a autora do espaço *CMP (http://ceramicamodernistaemportugal.blogspot.pt/search/label/Lu%C3%ADs%20Ferreira%20da%20Silva) vem fazendo à obra de Luís Ferreira da Silva  (n. 1928; http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/ferreira+da+silva), apresenta-se hoje mais uma placa cerâmica, com cerca de 16 x 16 x 2,7 cm., produzida por este ceramista durante a década de 1960 para a fábrica Secla, das Caldas da Rainha.

 

No tardoz apresenta, incisas, a sigla e as iniciais do artista, "FS", a inscrição "Secla / Portugal" e o número "4", que corresponde à decoração, ostentando ainda, a exemplo do que acontece com outro exemplar já aqui apresentado (http://mfls.blogs.sapo.pt/94060.html), quatro suportes em borracha.

 

Recorde-se que diversas placas semelhantes a estas haviam sido exibidas por Ferreira da Silva, em 1960, na sede da The Architectural League of New York, onde, complementarmente, uma montra ao nível da rua lhe foi dedicada em exclusivo.

 

Durante toda a década de 1960 as suas peças, muitas delas únicas, não cessaram de ganhar reconhecimento internacional, sendo essa a altura em que o empresário sueco Ingvar Kamprad (n. 1926), fundador da célebre cadeia IKEA (http://www.ikea.com/ms/pt_PT/about_ikea/the_ikea_way/history/index.html), se tornou no maior coleccionador particular da obra deste notável ceramista.

 

A fim de evitar mal-entendidos sobre dois artistas distintos, mas que têm apelidos iguais e são ambos oriundos da região do Grande Porto, aproveita-se esta oportunidade para reproduzir abaixo a imagem de uma peça de Mário Ferreira da Silva e referir alguma da sua obra.

 

 

Apresentada no número 37, IV série, da revista Panorama, publicada em Março de 1971, esta imagem mostra a peça com que Mário Ferreira da Silva (datas desconhecidas) obteve o Prémio Nacional de Cerâmica de 1969, atribuído no IV Salão Nacional de Arte organizado pela Secretaria de Estado da Informação e Turismo (S.N.I.).

 

Esta nova consagração da obra de Mário Ferreira da Silva (http://www.mariofsilva.com/biografia.html) seguiu-se à que já havia ocorrido em 1960, quando recebera o prémio Sebastião de Almeida, destinado à cerâmica e atribuído a uma base de candeeiro, no II Salão dos Novíssimos promovido pelo SNI. 

 

No catálogo correspondente ao Salão de 1960, onde apresentou três peças – 24, Base de Candeeiro; 25, Jarra Decorativa; 26, Jarra Decorativa, surge sob o nome Mário Ferreira da Silva, com morada na Rua Domingos de Matos, 644, em Coimbrões, V. N. de Gaia.

 

Já nos catálogos dos Salões de 1962, onde apresentou duas peças – 135, Fantasia I, Jarra, e 136, Fantasia II, Jarrão, e de 1965, onde apresentou quatro peças – 101, Pássaros (faiança), 102, Prato (grés), 103, Base para Candeeiro (grés), e 104, Base para Candeeiro (grés), surge apenas sob o nome Mário Silva, com morada na Rua Gil Eanes, 282, 2.º Esq.º, em Vila Nova de Gaia.

 

 

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Julho 20 2013

 

Prato coberto estampado sob o vidrado com decoração monocromática a azul.

 

Embora não apresente qualquer marca, esta peça corresponde indubitavelmente ao formato Inglês das terrinas e pratos cobertos produzidos pela FLS (http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/formato+ingl%C3%AAs). Pelo que foi possível comprovar noutros exemplares semelhantes a este, mas marcados, a decoração aqui apresentada corresponde ao motivo Rio.

 

Apesar de as designações de motivos correspondendo a topónimos serem correntes em diversas fábricas nacionais e estrangeiras, não se pode ignorar que o facto de a FLS comercializar motivos com as denominações Brasil (http://mfls.blogs.sapo.pt/221134.html) e Rio (esta suficientemente ambígua para corresponder à cidade do Rio de Janeiro) poderia constituir um atractivo suplementar visando uma eventual exportação para o mercado brasileiro.

 

Nesse mercado, estas designações apelariam não só aos nacionais mas também à vasta comunidade portuguesa. Em Portugal, apelariam ainda particularmente à nostalgia daqueles emigrantes portugueses que, tendo feito fortuna (ou não...) no Brasil, haviam regressado a Portugal – os brasileiros de torna-viagem.

 

Na literatura portuguesa do século XIX, estes brasileiros de torna-viagem já haviam sido consagrados por Camilo Castelo Branco (1825-1890) em muitas das suas obras, havendo ainda no século XX alguns autores que testemunharam essa mesma experiência de emigração, como Ferreira de Castro (1898-1974) e Miguel Torga (pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, 1907-1995).

 

Capa do catálogo da exposição Os Brasileiros de Torna-Viagem no Noroeste de Portugal, realizada em 2000.

 

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Julho 18 2013

© MCS/CDMJA


Fotografia de um serviço de chá formato Aldeia apresentando açucareiro, bule, chávenas de chá e pires, leiteira, manteigueira e prato de fatias. Note-se como a tradicional representação daquilo que se designa por serviço (com 12 peças) ou meio-serviço (com 6 peças) não é aqui respeitada.

 

A decoração, com dois círculos parcialmente sobrepostos, parece corresponder ao motivo 806, do qual já se apresentou uma variante de cor aqui: http://mfls.blogs.sapo.pt/214710.html.

 

Sublinhe-se ainda que a cafeteira correspondente à designação Aldeia no catálogo de Maio de 1950 nada tem a ver com estes formatos, que ali também se encontram ilustrados, antes correspondendo a um formato cujo corpo parece corresponder a uma inspiração floral Art Nouveau.

 

A reprodução desta fotografia é uma cortesia do Museu de Cerâmica de Sacavém / Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso.

 

© MAFLS

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Julho 16 2013


Azulejo com motivo estampado a azul sob o vidrado, apresentando no tardoz a inscrição SACAVEM em relevo.

 

© MAFLS

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