Zita Seabra (n. 1949), então deputada do PCP (http://www.pcp.pt/), foi a primeira a abordar a questão da FLS na reunião plenária de 15 de Abril de 1982, fazendo as seguintes declarações:
"Na Fábrica de Loiça de Sacavém, a administração, em três meses, despediu quatro dirigentes sindicais, violou as instalações da comissão de trabalhadores, proibiu plenários legalmente convocados, levantou cerca de 60 processos disciplinares, tentou levar por diante, de forma fraudulenta, a criação de uma empresa noutra zona do mesmo ramo de actividade, com consequente despedimento de 1200 trabalhadores.
Incapaz de prosseguir os seus planos, a administração encontra no Dr. Ângelo Correia [Ministro da Administração Interna] o aliado necessário. É assim que cerca de 300 elementos da GNR invadiram as instalações da empresa, trazendo nas mãos um despacho do MAI em que, para além da cobertura policial do administrador responsável, se dava ordens para proibir a entrada de dirigentes sindicais considerados como «agitadores».
Ainda ontem, nova incursão na fábrica por parte das forças militarizadas teve como objectivo fazer uma prova de força. A firmeza da luta e serenidade dos trabalhadores têm sido exemplares e por isso daqui os saudamos, manifestando-lhes a nossa inteira solidariedade.
[Aplausos do PCP, do MDP/CDE e da UDP]"
(...)
"Por último, faço uma referência à questão que me foi colocada pelo Sr. Deputado Mário Tomé [UDP], que agradeço, a qual, na verdade, não posso deixar de passar sem um comentário: é lamentável que aqui, na Assembleia da República, quando trabalhadores de uma fábrica, como é o caso da Fábrica de Louça de Sacavém, que têm tido uma luta exemplar e que têm lá tido a GNR a mando do Sr. Ministro da Administração Interna, só porque estão em defesa dos seus postos de trabalho e do seu direito ao trabalho, haja deputados nesta Câmara que se riam quando esta questão è aqui posta.
Essa virtude é, na verdade, de um desprezo e de uma vergonha total perante o que é o povo português e o que são os trabalhadores.
Nós iremos hoje à Fábrica de Louça de Sacavém com outros deputados desta Câmara e não deixaremos de lá referir a gargalhada que os Srs. Deputados da maioria aqui soltaram quando aqui se falou nos problemas e na luta que com tanto sacrifício eles travam.
[Aplausos do PCP, da UEDS, do MDP/CDE, da UDP, e do Sr. Deputado Carlos Lage (PS)]"
(...)
"A Oradora [Zita Seabra]: - Como é que consegue entrar aqui de repente e pronunciar-se sobre um assunto que nem sequer ouviu?
Por exemplo, o Sr. Deputado [Sousa Tavares, PSD] pergunta como é que se pode ter falado na Fábrica de Louça de Sacavém quando se falou de revisão constitucional. É que eu não falei de revisão constitucional, mas sim da Fábrica de Louça de Sacavém.
A diferença é só esta: li uma página do meu discurso sobre essa Fábrica e o Sr. Deputado é que está com a revisão constitucional na cabeça. Lá tem as suas razões…!
Aliás, compreendo perfeitamente que esteja tão preocupado com isso, que sonhe, que todos os dias delire e que venha para aqui ainda a pensar na revisão constitucional.
[Protestos do Sr. Deputado Silva Marques, do PSD.]"
(...)
Excertos transcritos do Diário da Assembleia da República, I Série, número 74, de 16 de Abril de 1982.
Veja-se alguma da propaganda alusiva ao PCP, produzida na FLS, aqui: http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/pcp.
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