Canecas em vidro branco transparente com decoração, intitulada Bailados-de-Portugal, a esmalte policromado. Produção de uma das fábricas da Marinha Grande, eventualmente CIP, NFV ou Stephens, realizada nas décadas de 1950 ou 1960.
As decorações reproduzidas são atribuíveis a Álvaro Mendes Alves (1905-1996), decorador e pintor da FLS, encontrando-se a imagem da caneca da direita ilustrada no catálogo da exposição Dar Sentido à Argila: Os Ateliês de Decoração na Fábrica da Loiça de Sacavém, realizada no MCS em 2007.
A recuperação e reformatação dos valores do folclore bem como a sua dinamização nas décadas de 1940 a 1960 está geralmente associada ao Estado Novo e aos vários organismos corporativos desenvolvidos pelo regime – SPN/SNI, FNAT, Casas do Povo.
Todo o revivalismo dos supostos valores tradicionais veiculados pelo folclore foi exacerbado na cerâmica (entre outros exemplos, na produção da Aleluia, de Aveiro, da Cerâmica Macedo, de Barcelos, e da Vista Alegre), nas edições postais dos CTT, com a série Conheça as suas Danças (dezoito exemplares diferentes editados entre 1957 e 1963), na decoração do vidro, na própria promoção turística dos ranchos folclóricos e na sua projecção através de cartazes de instituições oficiais.
Um aspecto, contudo, é muitas vezes subvalorizado ou escamoteado na análise desse revivalismo. É que ele havia sido promovido já na década de 1920 por artistas como Bernardo Marques (1898-1962) ou Roberto Nobre, (1903-1969), certamente na senda da recuperação de um imaginário popular europeu relançado anteriormente pelos Ballets Russes, de Diaghilev (Sergei Pavlovich Diaghilev, 1872-1929), e rapidamente aplaudido, acarinhado e adoptado pelos modernistas.
Capas de Roberto Nobre (1903-1969), à esquerda, e Bernardo Marques (1898-1962), respectivamente para o magazine Civilização, número 12, de Junho de 1929, e número 14, de Agosto do mesmo ano.
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