Fundada em 1790 e encerrada em 2007, a fábrica de Sarreguemines, em França, construíu ao longo dos séculos XIX e XX uma sólida reputação na área da faiança e da majólica.
Na viragem do século XIX para o século XX, a fábrica Sarreguemines produziu alguma cerâmica monocromática, quer com vidrado brilhante simples quer com vidrado brilhante nacarado.
Apresentando tons conservadores, como o clássico francês "Rose Pompadour" ou o clássico chinês "Sang de Boeuf", este com o pormenor do vidrado nacarado, a cerâmica era totalmente inovadora nas formas.
Também durante os finais do século XIX e os princípios do século XX a cerâmica decorada com microcristais atingiu nesta fábrica grande perfeição e notável equilíbrio estético, suplantando a sua já consagrada produção em faiança ou pasta de argila vermelha.
Como se pode observar na primeira jarra, que tem cerca de 29,6 cm. de altura, o corpo de argila vermelha trabalhado com barbotina traduz já uma clara influência das sinuosidades florais de influência Art Nouveau, embora mantenha alguma da gramática decorativa que se encontrava noutras fábricas, com a próxima Keller et Guérin (http://mfls.blogs.sapo.pt/277249.html).
A apresentação de peças industriais com este corpo de argila vermelha é mais característica de fábricas ou oficinas francesas de menores dimensões, como a Longchamp, com as suas terre de fer, ou a SISPA, sendo pouco comum na Sarreguemines.
Já a segunda jarra, em grés e com cerca de 39,6 cm. de altura, ostenta um claro motivo japonizante com design atribuído a Victor Kremer (1857-1908; cf. http://www.sarreguemines-museum.com/accueil/calendrier/kremer.asp.), que na década de 1880 trabalhou também na fábrica inglesa Burmantofts, de Leeds.
Vejam-se mais algumas peças que ilustram as criações deste ceramista, aqui: http://www.culture.gouv.fr/public/mistral/joconde_fr?ACTION=CHERCHER&FIELD_98=AUTR&VALUE_98=KREMER Victor &DOM=All&REL_SPECIFIC=3.
Entre as decorações de vidrado microcristalino desenvolvidas pela fábrica Sarreguemines, a partir do final do século XIX, encontravam-se diversas variantes de azul, castanho-dourado e verde, que representavam um corte radical com os vidrados monocromáticos de tons conservadores, como o "Rose Pompadour" e o "Sang-deBoeuf".
Demonstrando um aperfeiçoamento do tratamento químico dos vidrados, este acabamento microcristalino e as miríades de tonalidades daí resultantes traduzem-se numa iridisação das superfícies decorativas que também foi comum à vidraria artística da época, como se pode observar na famosa produção da fábrica europeia Loetz e nas peças Favrile desenvolvidas nos E.U.A. por Louis Comfort Tiffanny (1848-1933).
A iridisação verde de cobre patente na peça ilustrada acima, que tem cerca de 10, 9 cm. de altura e 16,2 cm. de diâmetro máximo, revela-se ainda intérprete hodierna de l'air du temps, pois evoca o verde do absinto novo, bebida em voga entre intelectuais e artistas no final do século XIX, e posteriormente proibida em França, e as suas propriedades alucinogéneas.
Este vidrado microcristalino nas suas versões azuis, castanho-douradas e verdes foi agrupado e comercializado sob a classificação genérica de Etna, numa óbvia alusão às erupções e ao magma do vulcão homónimo.
As três peças ilustradas, cujas alturas variam entre os cerca de 13,8 e os 32 cm., correspondem a esta decoração.
Na mesma época, a Sarreguemines comercializou ainda uma outra série inspirada nas imagens vulcânicas e denominada Vesuve, que apresenta também vidrados escorridos mas sem recorrer à componente microcristalina.
Vejam-se outros exemplares da produção de Sarreguemines aqui: http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/tag/sarreguemines.