Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém

Setembro 20 2010

 

 

Pormenor do painel Sagres, de Jorge Colaço (1868-1942), concluído em 31 de Julho de 1922. Note-se como no ângulo superior esquerdo surge no promontório uma figura serena, supostamente o Infante D. Henrique (1394-1460), que se sobrepõe à agitação de Poseidon / Neptuno e das restantes divindades marinhas.

 

© Google Earth / IGP/DGRF / Tele Atlas / Digital Globe

 

Situado à esquerda do observador, este é um dos quatro painéis que ornamentam a fachada principal do actualmente denominado Pavilhão Carlos Lopes, localizado na zona nascente do Parque Eduardo VII, em Lisboa. O revestimento azulejar estende-se também às colunatas e portas interiores, que se encontram agora entaipadas.

 

 

© MAFLS

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Setembro 02 2010

 

(continuação)

 

"Foi na Fábrica de Louça de Sacavém que o artista [Jorge Colaço] começou a trabalhar em azulejos, e dali saíram os seus panneaux decorativos dos Passos Perdidos da Escola Médica de Lisboa, e em seguida os do Hotel do Bussaco, da Estação dos Caminhos de Ferro no Pôrto, já feitos com um processo de trabalho diferente. A par da sua vida de ceramista, continuou mais tarde a colaborar em jornais de caricaturas, fundando o "Talassa", que começou em 1913, e acabou a 14 de Maio de 1915. Nesta familiar descrição que o mestre nos faz, ressurgiu-nos [sic] os seus últimos trabalhos realizados para a Exposição do Rio de Janeiro, Sevilha, etc. A Ala dos namorados, In Hoc Signo Vinces, e tantos outros. Nas molduras que orlam êstes quadros, domina o baroco [sic], que em Portugal ficou quási inteiramente livre de exagêros. É já tempo de deixar o mestre novamente entregue à sua obra; e por isso, despedimo-nos de aquela figura típica de artista sempre de negro, barbicha quichotesca, grande laço preto a emmoldurar-lhe a expressão."

 

in Como se Trabalha em Azulejos, artigo publicado no magazine Civilização, número 44, de Fevereiro de 1932.

 

 

Pavilhão de Portugal na Exposição de Sevilha de 1929.

 

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Setembro 02 2010

 

Fotografia de Jorge Colaço (1868-1942), reproduzida no magazine Civilização, número 44, de Fevereiro de 1932.

 

Nesse número, José Dias Sanches (1903-1972) assinou um artigo intitulado Como se Trabalha em Azulejos, onde se referem os trabalhos de Alves de Sá (1878-1872), Jorge Colaço, Leopoldo Battistini (1865-1936), Viriato Silva (datas desconhecidas), Jorge Pinto (1900-1983), Conceição e Silva (datas desconhecidas), Vitória Pereira (datas desconhecidas) e Eduardo Leite (datas desconhecidas), com particular destaque para os três primeiros que, aliás, têm os seus retratos aí reproduzidos.

 

Transcreve-se desse artigo a passagem referente a Jorge Colaço:

 

"Visitemos agora mestre Jorge Colaço. O nosso espírito sente-se deslumbrado ao contemplar os seus quadros, de um azul penetrante e de uma técnica bem diferente da antiga. A nossa insatisfeita curiosidade pretende saber alguma coisa da sua vida. E a sua bonomia atende-a amàvelmente. Discípulo do grande mestre francês Fernand Cormou [1845-1924], estudou em Paris durante seis anos, regressando depois a Marrocos, onde nasceu, e onde se deixou enfeitiçar pelos sports regionais, abandonando os motivos que o podiam sugestionar para a realização dos quadros. Aproximou-se êste artista do nosso país, em virtude de seu pai ser o representante de Portugal em Marrocos.

 

Mais tarde seduziu-se novamente pela pintura, tentando realizar uma exposição no Brasil, o que só mais tarde levou a efeito.

 

Tomada de Lisboa. Painel de azulejos que obteve medalha de ouro na Exposição de Sevilha de 1929. Magazine Civilização, Fevereiro de 1932.

 

Travando conhecimento com Silva Graça [1858-1931], êste propôs-lhe a direcção de um jornal humorístico. Entretanto era eleito presidente da Direcção da Sociedade Nacional de Belas-Artes, alcançando no fim do desempenho de êsse cargo a concessão do terreno para nêle ser edificada a actual sede. Essa concessão obteve-a pondo em prática o seu lápis de humorista. Caindo nas mãos do parlamento, o projecto que autorizava a construção do edifício não conseguia obter despacho favorável. Decidiu-se Jorge Colaço a fazer um requerimento humorístico para o desemperrar.

 

Compôs uma caricatura, que representava um circo romano, encontrando-se no lugar de César o Conselheiro João Franco [1855-1929], e desempenhando o papel de mártir o mestre Jorge Colaço. O instrumento de suplício era o projecto, e os espectadores que se alinhavam nas bancadas, os deputados, que pediam clemência para o mártir. Com o sêlo da praxe, lá seguiu o risonho pedido, que em sessão foi criticado com um sussurro de gargalhadas. E assim conseguiu obter a aprovação. Tendo realizado a sua viagem ao Brasil, em 1908, por eleição dos seus colegas de Lisboa e Pôrto, como delegado artístico à Exposição Nacional, organizada pela República Brasileira, para comemorar a abertura dos portos ao comércio por D. João VI [1767-1826], obteve naquele país êxito memorável."

 

(continua)

 

 

Pavilhão de Portugal na Exposição de Sevilha de 1929.

 

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Agosto 21 2010

 

Pormenor do painel Cruzeiro do Sul, de Jorge Colaço (1868-1942), concluído em 5 de Agosto de 1922. Note-se como a nau segue na água um reflexo que evoca a cruz latina, sugerida também pelo próprio Cruzeiro do Sul. Curiosamente, note-se ainda como as estrelas apresentam as seis pontas características da hebraica estrela de David.

 

Situado à direita do observador, este é um dos quatro painéis que ornamentam a fachada principal do actualmente denominado Pavilhão Carlos Lopes, localizado na zona nascente do Parque Eduardo VII, em Lisboa. O revestimento azulejar estende-se também às colunatas e portas interiores, que se encontram agora entaipadas.

 

Em adiantado estado de degradação, o edifício tem, desde há alguns anos, projecto para vir a ser recuperado e adaptado a  Museu Nacional do Desporto.

 

© Google Earth / IGP/DGRF / Tele Atlas / Digital Globe

 

Inicialmente, este edifício foi desenhado pelos arquitectos Guilherme Rebelo de Andrade (1891-1969), Carlos Rebelo de Andrade (1887-1971) e Alfredo Assunção Santos (datas desconhecidas) para funcionar como Pavilhão de Portugal na Exposição Internacional do Rio de Janeiro. Realizada entre 1922 e 1923, esta exposição comemorou o primeiro centenário da independência do Brasil.

 

Inaugurado em 1923, o conjunto foi entretanto desmontado, transferido para Portugal, e novamente reedificado no local onde hoje se encontra, sendo reinaugurado em 1932, no âmbito da Exposição Industrial Portuguesa. 

 

Devidamente adaptado, recebeu em 1947 o Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins, onde Portugal se sagrou pela primeira vez campeão do mundo e acabou com a hegemonia de títulos da Inglaterra, que se prolongava desde o Campeonato da Europa de 1926.

 

 

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Agosto 17 2010

 

Detalhes de painéis de azulejos da estação ferroviária de S. Bento, Porto.

 

Note-se como a saia da figura reproduzida acima, em primeiro plano, evoca, nas flores estilizadas em círculos, o Orfismo e a obra dos pintores Robert (1885-1941) e Sonia Delaunay (1885-1979).

 

Provavelmente trata-se apenas de uma coincidência, embora estes, amigos dos pintores Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) e Eduardo Viana (1881-1967), tenham permanecido no Minho e em Vila do Conde durante alguns meses do início da primeira Guerra Mundial, período que coincidiu com a conclusão das obras desta estação.

 

 

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Agosto 01 2010

 

Detalhes dos painéis da estação ferroviária de S. Bento, Porto.

 

No canto inferior direito do painel azul e branco reproduzido acima, intitulado Torneio dos Arcos de Valdevez (século XII), note-se o rectângulo de tela adesiva que assegura a manutenção in situ de alguns azulejos. Embora diversos painéis tenham sido restaurados por F. Gonçalves (activo entre c. 1954 e c. 1978) em 1978, a verdade é que o revestimento azulejar necessita actualmente de uma urgente intervenção de consolidação.

 

O friso multicolorido, com representações alegóricas da história dos transportes, remata todos os alçados do átrio.

 

No painel reproduzido abaixo, note-se como a locomotiva não só surge flanqueada pelo verde-rubro da bandeira republicana como apresenta ainda as mesmas cores nos amortecedores. Tal não será surpreendente se recordarmos que as obras, iniciadas ainda durante o período monárquico, se prolongaram por uma década, concluindo-se já em pleno período republicano.

 

 

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Julho 28 2010

 

Detalhe do painel de azulejos intitulado Egas Moniz Apresentando-se, Com a Mulher e Filhos, ao Rei de Leão (século XII), que se encontra na estação ferroviária de S. Bento, Porto.

 

Colocado à esquerda da entrada do edifício, este é um dos diversos painéis do conceituado pintor Jorge Colaço (1868-1942) que revestem o átrio da estação.

 

 

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Julho 20 2010

 

Azulejos, com cenas rurais e religiosas, instalados no átrio da estação ferroviária de S. Bento, Porto.

 

Conforme referido anteriormente, e ao contrário do que algumas fontes declaram, estes azulejos foram produzidos na FLS entre 1905 e 1916, sob o traço e a orientação do pintor Jorge Colaço (1868-1942).

 

Na exposição As Fábricas de Loures no Contexto da República, actualmente a decorrer no MCS, pode-se consultar correspondência da FLS que atesta essa produção.

 

 

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Junho 28 2010

 

Detalhe do painel de azulejos intitulado O Infante D. Henrique na Conquista de Ceuta (século XV), que se encontra na estação ferroviária de S. Bento, Porto.

 

Colocado à direita da entrada do edifício, este é um dos diversos painéis do aclamado pintor Jorge Colaço (1868-1942) que revestem o átrio da estação.

 

Adjudicado em 1905, o revestimento azulejar foi concluído em 1916. Embora algumas fontes refiram que este trabalho foi executado na fábrica Lusitânia (cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Esta%C3%A7%C3%A3o_Ferrovi%C3%A1ria_de_Porto-S%C3%A3o_Bento), deve notar-se que nesse período Jorge Colaço colaborava quase exclusivamente com a FLS, empresa que tratava de lhe arranjar colaboradores na pintura de azulejo.

 

 

Aliás, em correspondência da FLS remetida para Inglaterra e relativa ao primeiro trimestre de 1906, transcrita no livro Fábrica de Louça de Sacavém (1997), de Ana Paula Assunção (n. 1957), refere-se o seguinte:

 

"(...) temos vindo a considerar um director de azulejo e pensamos que o Sr. Harding seria o homem exacto para nós, mas temos que saber primeiro se ele é bom no vidrado de majólica, fornos, etc., etc., e se está acostumado a dirigir homens e tem coragem para o fazer. (...) Para além de dirigir a secção dos azulejos, terá que ajudar o meu filho Raul na direcção geral, quando necessário, com certeza que  terá muito tempo para isso. (...) Estamos mesmo com muita pressa de ter o homem cá. (...)"

 

No entanto, esta hipótese acabou por ser abandonada, de acordo com uma carta, datada de 16 de Abril de 1907, transcrita na mesma obra: " (...) lamentamos que o senhor [Harding] não sirva para o Sr. Colaço (...)".

 

Em correspondência do primeiro semestre do mesmo ano havia-se especificado assim o trabalho a desempenhar junto de Jorge Colaço: "(...) o Sr. Colaço procura um homem para pintar em azulejos, com isto, queremos dizer que ele será necessário para preencher com cores depois de o Sr. Colaço ter trabalhado o desenho. (...) Um simpático companheiro com 25/30 anos (...)".

 

 

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Junho 10 2010

 

Pormenor de um painel de azulejos, datado de 1912 e pertencente a uma antiga mercearia, existente no cruzamento da Avenida Visconde de Valmor com a Avenida 5 de Outubro, em Lisboa. Para além da pintura policromada sob o vidrado, este painel apresenta ainda retoques a dourado sobre o vidrado.

 

No CDMJA existe uma lista dactilografada pela secretaria-geral da FLS, intitulada ESTRANGEIROS QUE ESTIVERAM AO SERVIÇO DA FÁBRICA EM DIVERSOS SECTORES DE TRABALHO e datada de 5 de Abril de 1971, onde são enumerados sete pintores.

 

Surgem aí referenciados Taylor (datas desconhecidas, inglês, pintor sobre vidro), John Dean (datas desconhecidas, inglês, pintor sobre vidro), Jorge Colaço (1868-1942, marroquino, pintor de azulejos), Fabian Tomaz Lagore (datas desconhecidas, espanhol, pintor de azulejos), Bernard Gusgen (datas desconhecidas, alemão, pintor sobre vidro que trabalhou na fábrica entre 1924 e 1927), Wilhelm Wagner (datas desconhecidas, alemão, pintor sobre biscoito que trabalhou na fábrica entre 16 de Junho de 1928 e 1945), Karl Huber (datas desconhecidas, alemão, pintor sobre biscoito que trabalhou na fábrica entre 12 de Janeiro de 1932 e 31 de Agosto de 1969).

 

Muito provavelmente, o inglês John Dean aqui listado corresponderá a este A. Dean que assinou o painel.

 

 

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