O jornal Público começou a distribuir semanalmente, a partir da passada terça-feira, 24 de Março, um conjunto de oito volumes intitulados Design Português, que pretendem dar uma visão do design em Portugal desde o início do século XX até ao presente.
Com a saída do terceiro volume da série, hoje ocorrida, já é possível ter uma ideia geral dos critérios editoriais da obra, coordenada por José Bártolo (n. 1972), docente da Escola Superior de Artes e Design, em Matosinhos, e apresentando diversos autores responsáveis pelo texto principal de cada um dos volumes.
Maria Helena Souto (n. 1956), docente do IADE, que assina o texto principal do primeiro volume, declara logo na sua introdução – "Quando se investiga na área da História do Design, uma das verificações é que não existe uma História do Design, mas antes diversas histórias do Design. Através deste estudo que agora se propõe, queremos dar a ler a nossa História do Design em Portugal de uma forma não exaustiva, mas que se espera pedagógica, suscitando algumas ideias sobre a emergência do design no país."
Estas palavras aplicam-se perfeitamente aos três volumes que até agora se publicaram. Estamos perante a História do Design em Portugal destes autores que, de facto, do ponto de vista iconográfico, não é exaustiva nem contempla áreas significativas da produção industrial, e dos objectos do quotidiano, que são quase completamente ignoradas.
Não interessa aqui efectuar uma crítica de conteúdos, nem uma crítica da selecção iconográfica. Até porque esta série passará, inquestionavelmente, a ser uma obra de referência na historiografia do design e das artes decorativas em Portugal.
E porque assim é, lamenta-se que não tenha existido um maior cuidado na revisão dos conteúdos. Poder-se-ia, desse modo, ter evitado que, no volume I, a obra cerâmica de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) seja exemplificada através de réplicas das jarras com rãs de produção recente, que a produção de Sacavém surja representada, sem qualquer contextualização evidente, por uma pobre e deteriorada tigelinha estampada, com a surpreendente indicação de ser datável de c. 1910, ou que se afirme que a capa da obra Tentações de Sam Frei Gil (1907), de António Corrêa d'Oliveira (1878-1960), não se encontra assinada, quando, de facto, apresenta as iniciais A. C., correspondentes ao consagrado pintor António Carneiro (1872-1930).
E também porque não interessa centrar a nossa atenção nesses pequenos deslizes, publicar-se-ão, amanhã e depois, dois artigos que pretendem exemplificar a iconografia de outras áreas que não foram contempladas nestes três volumes mas poderiam surgir noutras Histórias do Design em Portugal.
Capa com ilustração de Raul Lino (1879-1974).
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