Tendo começado a produzir cerâmica em 1748, em França, François Boch implantou uma fábrica no Luxemburgo, a partir de 1767. No século seguinte, em 1836, essa fábrica fundiu-se com uma outra de Nicolas Villeroy, dando origem à empresa Villeroy & Boch. Afectada pela separação política e administrativa entre o Luxemburgo e a Bélgica, parte da família Boch implantou uma fábrica neste último país a partir de 1841. O local escolhido foi La Louvière, próximo da fronteira com o Luxemburgo, onde a fábrica se manteve até ao seu encerramento, já na segunda metade do século XX.
O nome Boch passou, assim, a ser partilhado por duas empresas – a fábrica Boch Frères / Keramis, na Bélgica, e a fábrica Villeroy & Boch, no Luxemburgo. Esta última empresa ainda se encontra em produção, embora a sua sede actual seja na Alemanha (http://www.villeroy-boch.com/).
A fábrica Boch Frères produziu ao longo do século XIX, com sucesso comercial, diversa loiça utilitária e decorativa, mas foi a partir do início do século XX, com a chegada de Charles Catteau (1880-1966), que a empresa atingiu a consagração, marcando o design contemporâneo no estilo Art Nouveau e, particularmente, no estilo Art Déco.
Catteau foi engenheiro ceramista na École Nationale de Sèvres cerca de 1902 ou 1903, e decorador da fábrica de Sèvres entre 1903 e 1904. Teve ainda formação complementar na Königlich-Bayerische Porcellan-Manufaktur de Nymphenburg, na Alemanha, até 1906, ano que em passou a trabalhar para a Boch Frères / Keramis.
Capa do catálogo editado em 2001, por ocasião da exposição das peças da fábrica Boch Frères / Keramis doadas por Claire De Pauw e Marcel Stal à Fondation Roi Baudoin, Bruxelas, Bélgica.
Antes desta data colaborou ainda com a fábrica de Rambervillers, em França, onde assinou algumas peças de clara inspiração Art Nouveau. Já no âmbito do estilo Art Déco, desenhou a partir de 1927 diversos modelos em vidro para a fábrica belga Scailmont (cf. http://www.artdecoducentre.be/Scailmont.html).
Com a chegada de Catteau, as peças da BFK passaram a apresentar, entre outras opções estéticas e técnicas, desenhos pintados a esmalte sob vidrado uniforme, esmalte escorrido sob o vidrado, esmalte mate com fundo negro (a exemplo da cerâmica holandesa Gouda), esmalte monocromático com fundo craquelé e, o que constituiu imagem de marca da fábrica durante o período Art Déco, esmalte cloisonné sobre fundo craquelé, representando animais, flores ou formas vegetais estilizadas.
Inserindo-se nestas últimas características, a jarra em grés aqui reproduzida, com cerca de 15,4 cm. de altura, ostenta o motivo número 775, que foi concebido cerca de 1923.
A produção de cerâmica decorativa diversificou-se então, quer no formato das peças quer na sua decoração, vindo a fábrica a traduzir melhor do que anteriormente l'air du temps. Neste período, a produção de peças decorativas foi também desenvolvida em grés, aproximando-se algumas destas, pela sua contenção formal e pelo seu minimalismo decorativo, da gramática japonesa.
Para outros exemplares Art Déco desta fábrica belga veja-se: http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/tag/boch+fr%C3%A8res.
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