Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém

Setembro 01 2024

 

Jarra, com cerca de  29,2 cm. de altura, da fábrica belga Boch Frères / Keramis.

 

Ostentando uma decoração floral estilizada, ao gosto Art Déco, apresenta ainda o característico craquelé induzido, associado à produção da fábrica durante esse período.

 

Este motivo, com a referência D. 1102, foi introduzido na produção da fábrica por volta de 1927.

 

 

 

 

© MAFLS

publicado por blogdaruanove às 23:01

Janeiro 05 2019

 

Pequena jarra, com cerca de 14,6 cm. de altura, produzida em 1927 na fábrica inglesa Ruskin Pottery.

 

Fundada em 1898 por Edward Richard Taylor (1838-1911), esta empresa homenageou na sua designação a memória e os princípios artísticos de John Ruskin (1819-1900), de quem E. R. Taylor, ele próprio um influente membro do movimento Arts & Crafts, era contemporâneo e admirador.

 

Após a morte de E. R. Taylor, a fábrica foi administrada com o mesmo entusiasmo e zelo por seu filho, William Howson Taylor (1876-1935), mas acabou por encerrar com a morte deste último.

 

O presente exemplar tardio da produção supervisionada por W. H. Taylor mantém as características implementadas por seu pai na Ruskin Pottery, particularmente no que diz respeito à pesquisa e aplicação de vidrados inovadores, ao gosto pelo efeito do vidrado microcristalino e à sobreposição de diversas camadas de vidrado escorrido.

 

Embora não se aproxime da radical desconstrução de formas que o americano George Edgar Ohr (1857-1918), o auto-proclamado "Mad Potter of Biloxi", ensaiou nas suas criações, a torção deste exemplar remete para outras peças cerâmicas europeias que também romperam com a acabada perfeição dos formatos de torno ou de moldes, tal como aconteceu, por exemplo, em alguma da produção de Sarreguemines. 

 

A esta opção técnica e estética não será estranha, certamente, a produção Arts & Crafts de alguns vidros Clutha, concebidos por Christopher Dresser (1834-1904) para a empresa escocesa James Couper & Sons, bem como alguma da cerâmica que o mesmo concebeu para a Ault Pottery (1887-1922) e a Linthorpe Art Pottery (1879-1889).

 

Veja-se outra peça da Ruskin Pottery aqui: https://mfls.blogs.sapo.pt/162460.html.

 

 

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Dezembro 25 2013

 

Como já foi referido anteriormente (http://mfls.blogs.sapo.pt/211552.html), a tradição cerâmica da família Boch remonta a meados do século XVIII, tendo a fábrica Boch Frères / Keramis sido fundada já em meados do século seguinte.

 

Este ano, o espaço dedicado à BFK ilustra alguma da diversificada produção da fábrica, quer quanto às pastas – faiança e grés, quer quanto às diferentes decorações.

 

A primeira peça apresentada, um jarrão com o motivo 17 e medindo cerca de 39,6 cm. de altura, ilustra uma decoração floral influenciada pelo estilo Art Nouveau, sobre fundo metalizado de cobre.

 

Produzida, certamente, no primeiro período da direcção artística de Charles Catteau (1880-1966), insere-se ainda na tradição de revestimentos metalizados e irisados cuja técnica foi celebrizada em França por Clement Massier (1845-1917), e seus descendentes, a partir da década  de 1880.

 

 

A segunda peça, uma pequena jarra em grés com cerca de 9,4 cm. de altura e ostentando o motivo 661, datável já de 1921, traduz ainda uma influência japonizante que transitou também do século XIX.

 

Evocando na sua forma contida aquele que poderia ser o perfil do monte Fuji, esta jarra apresenta um vidrado escorrido multicolorido sobre um vidrado verde mate, técnica característica da tradição cerâmica japonesa.

 

 

A terceira jarra, com cerca de 30,4 cm. de altura e um design datável de 1927, apresenta já uma característica decoração floral de inspiração Art Déco, com o motivo 1121, associada à técnica de vidrado e ao fundo craquelé que celebrizou a produção da fábrica nesse período.

 

O tom verde de jade predominante nesta peça remete ainda para uma cor derivada do óxido de ferro, denominada celadon green em inglês, característica de diversas peças cerâmicas chinesas e coreanas.

 

Sob a inscrição D.1121 parecem surgir as iniciais L. L., que corresponderão a Leon Lambillotte (1908-1980), um artista que colaborou com a BFK a partir de 1925.

 

 

Finalmente, a última jarra, com cerca de 30,1 cm. de altura, apresenta novamente um vidrado distinto, cuja superfície é mais lisa ao tacto, com tonalidades características do final da década de 1930 e princípios da década seguinte.

 

Através de um prato comemorativo do centenário da fundação da BFK (datado de 18 de Março de 1941), com a mesma tonalidade, a mesma técnica decorativa desta jarra e numeração próxima (2741), deduz-se que o motivo 2524 terá sido criado em 1940, durante o primeiro ano de ocupação da Bélgica pelas forças nazis.

 

               

 

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Dezembro 12 2011

Desenho de Alonso (pseudónimo de Joaquim Guilherme Santos Silva, 1871-1948).

 

" — Para lhe falar com o coração nas mãos, ia eu dizendo enquanto o entrevistador da "Modernia' analisava a minha casa de mastigar, devo confessar–lhe que foi só aos quatorze anos que a minha vocação literária se declarou. Tive, então, a minha primeira paixão e datam de então os meus primeiros versos...

— Isto foi comprado a prestações? indagou o homenzinho, apontando desdenhosamente para os meus tarécos.

— Não, senhor. Foi num leilão dos Transportes Maritimos, respondi eu.

E prossegui:

— Mas a minha personalidade de humorista só se revelou quando aos vinte e um anos fui ás sortes e me apresentei em pêlo diante duns senhores doutores. Ao olharem para o meu esquelêto puseram–se a rir de tal maneira que, num relance, compreendi o meu destino: fazer rir os meus semelhantes, mesmo sem tirar a camisola...

— Esta louça de Sacavem e muito ordinaria, comentava o homem, mirando as minhas faianças artisticas.

Eu, sem ligar importancia áquelas indiscretas considerações – ou desconsiderações, como lhes queiram chamar – continuei entusiasmadissimo:

— Como humorista afirmei–me rapidamente o primeiro no genero. A minha carreira não ha quem em Portugal a ignore e vivo cercado da admiração e do respeito de toda a gente alfabéta. Vou dar–lhe agora alguns detalhes acêrca da minha existencia de todos os dias...

— O que eu queria vêr era a cozinha, interrompeu o malcriadão...

 

 

Resignei–me e acompanhei–o. Enquanto ele fitava sorrindo os sete tachos, duas frigideiras e cinco cafeteiras que compõem a minha bataria volante, eu continuava: 

— Levanto–me, em geral, pelas onze e meia da madrugada. Tomo café com leite, como Alexandre Dumas. Espreguiço–me e, saltando do leito, dirijo–me ás minhas abluções, como Mahomet...

— A proposito: tem casa de banho?

— Ora essa! De banhissimo. E′ aqui...

E abri outra porta, por onde o entrevistador avançou sempre com o seu eterno sorriso de desdem.

— Lavado e barbeado, leio os jornais nacionais e estrangeiros. Em seguida almoço frugalmente, se bem que com suculencia. Depois durmo cinco horas para auxiliar a digestão. Ao acordar, trabalho dez minutos...

O homenzinho, nessa altura, voltou–se para mim e deixou cair dos labios, com a maior impertinencia:

— E que tenho eu com tudo isso?

Eu olhei o espantado e preguntei muito azedo já:

— Então o senhor não é o entrevistador da "Modernia", revista–magazine de luxo, que deseja saber como vivem na intimidade os grandes escritores nacionais?

— Não, senhor. Sou avaliador da companhia de seguros onde o cavalheiro queria segurar por trezentos contos meia duzia de tarécos que não chegam a valer trezentos escudos. Passe muito bem."

 

Excerto do conto Coisas que Só a Mim Acontecem, de André Brun (1881–1926), publicado no seu livro póstumo A Sogra do Barba Azul (1927).

  

 

 

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