Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém

Abril 09 2015

 

Com a publicação deste terceiro volume, parece confirmar-se que a predominância de ilustrações alusivas às artes gráficas, aqui representando cerca de dois terços das imagens totais, configura uma opção da coordenação editorial e não dos diversos autores do texto principal de cada volume.

 

Continua a ser surpreendente o contraste entre a diversidade dos temas abordados nos textos principais, regra que a autora também segue neste volume, e as obsessivas opções pela arte gráfica que os acompanham. Infelizmente, continua a ser evidente, também, a ausência de uma revisão atenta e unificadora das afirmações patentes nos artigos de diferentes autores.

 

Só assim se compreende como é possível que, no mesmo volume, José Bártolo e Maria João Baltazar afirmem que a Secla foi fundada em 1947, enquanto Rita Gomes Ferrão nos assegura que a empresa surgiu em 1944. Quem acompanha este blog sabe bem qual destes três autores é o grande especialista na Secla e em qual destas duas datas deve confiar.

 

Mas, à puridade, à puridade, sublinhe-se que embora esta tenha as suas origens em 1944, a escritura pública da constituição legal de uma empresa sob a designação Secla apenas foi estabelecida em 18 de Dezembro de 1946 (http://mfls.blogs.sapo.pt/60571.html).

 

 

No artigo anterior referiram-se os sinetes como pequenos objectos do quotidiano que, na sua singeleza, poderiam traduzir também l'air du temps. E assim é, embora a sua origem remonte a uma tradição secular, bem anterior ao século XX. Mas é indubitavelmente através de alguns deles que podemos testemunhar uma mudança patente nas décadas de 1930 e 1940.

 

Com efeito, é nestas duas décadas que os tradicionais materiais nobres empregados na sua constituição, como a madrepérola, a prata, e o marfim, começam a ceder lugar ao bronze e a metais cromados, e a novos e sedutores materiais sintéticos, como a baquelite e o plástico.

 

Acima podem ver-se alguns exemplares com acabamento em prata de punção portuguesa, e punhos em madrepérola ou marfim, mas também dois exemplares com punho em baquelite e um outro com punho em plástico verde e preto.

 

A iconografia religiosa não ficou imune a estes materiais inovadores, como se  pode constatar abaixo, surgindo nestas décadas diversas imagens em plástico ou baquelite, muitas vezes combinadas com o alumínio que, numa versão popular, veio substituir a prata nos produtos de menor custo.

 

 

Datam também deste período as famosas figuras religiosas em plástico fosforescente, de que as esculturas evocativas de Nossa Senhora do Rosário de Fátima se tornaram paradigma incontornável, em Portugal.

 

Foi ainda no pós-guerra que a indústria de moldes para plástico, intimamente associada à tradição de moldes para vidro, teve particular expansão na área de Leiria e da Marinha Grande, permitindo aproximações inovadoras à prática do design nacional (http://mfls.blogs.sapo.pt/34301.html).

 

Um outro material que se popularizou neste período, particularmente nos brinquedos, embora já viesse a ser largamente utilizado desde o século XIX noutras áreas, como a dos enlatados, foi a folha de flandres.

 

Esta chapa metálica estanhada, frequentemente revestida a tinta de esmalte, pode-se combinar em diferentes secções para constituir modelos mais complexos, com movimento de corda, como o exemplar que se apresenta abaixo, o qual pretende ser uma réplica relativamente fidedigna de uma automotora da CP (http://www.transportes-xxi.net/tferroviario/automotoras).

 

 Exemplar em folha de flandres litografada, com logótipo da casa Coelho de Sousa. Porto, década de 1950.

 

 

No entanto, a ausência iconográfica mais notória nestes três volumes prende-se com o design da indústria vidreira.

 

Perante a magnífica fotografia, reproduzida no volume II, do stand que a Companhia Industrial Portuguesa apresentou na V Exposição Industrial e Agrícola das Caldas da Rainha, realizada em 1927, parece inacreditável que nestes volumes não se tenha dedicado maior espaço à arte do vidro e da cristalaria, que no nosso país conta já com cerca de 300 anos de constante produção industrial.

 

Não interessará aqui resumir a história das dezenas de empresas que, desde 1719, ano em que se fundou a Real Fábrica de Vidros de Coina, até ao presente, contribuíram e têm contribuído para criar um notável património português na história da indústria vidreira e no nosso quotidiano.

 

Muitos dos diversos aspectos do design e da indústria vidreira nacional do século XX foram já anteriormente referidos e documentados, embora traduzindo as limitações da fotografia não profissional e as dificuldades inerentes à especificidade do registo de imagem do vidro, quer num outro espaço (http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/?skip=10&tag=vidro) quer aqui mesmo (http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/vidro), pelo que agora apenas se reproduzirão três significativas peças da produção nacional com diferentes técnicas decorativas. 

 

 

Acima apresentam-se dois pequenos copos evocativos da secular tradição de decoração a esmalte, que em Portugal remonta ao século XVIII e aos famosos copos de saudação ao rei D. João V (1689-1750; rei, 1707-1750), promotor e protector da indústria vidreira.

 

Estas duas peças, contudo, são datáveis de 1929, foram fabricadas pela Companhia Industrial Portuguesa e ostentam a decoração que o consagrado arquitecto e designer Raul Lino (1879-1974) concebeu para que exemplares semelhantes, bem como garrafas licoreiras ostentando os mesmos motivos, fossem exibidos durante aquele ano no pavilhão português da Exposição Internacional de Sevilha (http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/tag/sevilha+1929).

 

Abaixo ilustra-se uma grande jarra, com cerca de 42 cm. de altura, elaborada em vidro doublé, com camada exterior de tonalidade ametista, lapidado e gravado a ácido e à roda.

 

Paradigma maior da arte vidreira portuguesa do segundo quartel do século XX, ostenta na sua secção central a representação de um campino conduzindo toiros numa lezíria, através de uma composição atribuível a Jorge Barradas (1894-1971).

 

 

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Março 13 2014

 

Fotografia publicada na revista Ilustração, número 84, 4.º ano, de 16 de Junho de 1929, destacando um aspecto da representação da FLS patente no Pavilhão de Portugal construído para a Exposição de Sevilha realizada nesse ano.

 

A legenda que acompanha a fotografia é a seguinte – "O stand da antiqüissima Fábrica de Loiça de Sacavem no Pavilhão de Portugal, onde se expõem primores em azulejos, faiança artística, serviços domésticos, etc."

 

Vejam-se alguns bilhetes postais alusivos ao Pavilhão de Portugal aqui: http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/tag/sevilha+1929.

 

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Fevereiro 19 2014

 

Fotografia publicada na revista Ilustração, número 84, 4.º ano, de 16 de Junho de 1929.

 

A legenda que acompanha a fotografia é a seguinte – "Um dos belos salões das novas instalações, no Pôrto, na Rua dos Carmelitas, da Fábrica de Louça de Sacavém, a maior da península, fundada em 1850."

 

A capa deste número da revista destacava, através de um desenho alegórico, a Exposição Portuguesa em Sevilha.

 

Recorde-se que a FLS veio a adquirir, logo no ano seguinte, a maioria do capital da Fábrica do Carvalhinho.

 

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Abril 23 2013

 

 

Em memória de Clariano Casquinha da Costa (1929-2013), desenhador, modelador e ceramista artístico.

 

Vejam-se algumas das notáveis obras que produziu para a FLS aqui: http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/clariano+casquinha+da+costa.

 

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Setembro 01 2012

 

Figura em faiança da unidade de Coimbra da Companhia das Fábricas Cerâmica Lusitânia, com cerca de 15,2 cm. de altura, apresentando decoração policromática a esmalte sobre o vidrado.

 

Como se pode constatar, o tratamento desta figura evoca um curioso cruzamento entre as figuras Hümmel anteriormente referidas (http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/h%C3%BCmmel), que começaram a ser comercializadas a partir de 1935, e as figuras da série Bébé da FLS (http://mfls.blogs.sapo.pt/56396.html), lançadas a partir de 1945.

 

Uma vez que esta peça não foi produzida antes da década de 1930, dado ser da unidade e Coimbra, e muito provavelmente possa ser de meados da década 1940, é possível que esta seja a resposta concorrencial da CFCL à série Bébé da FLS, embora não se conheçam muitas figuras da CFCL dentro desta gramática.

 

Como se verifica abaixo, esta peça corresponde ao formato 153. Na exposição Portuguese Ceramics in the Art Deco Period, realizada nos EUA em 2005, exibiu-se uma figura de um gato, com marca semelhante, correspondente ao formato 167.

 

Nesse evento exibiu-se ainda a figura de um pelicano, correspondente ao formato 113, com a marca CFCL2, peça semelhante a uma que já foi apresentada por MUONT (http://modernaumaoutranemtanto.blogspot.pt/2011/11/pelicano-da-lusitania-coimbra.html#links). Atendendo ao que se refere nesse artigo, a presença de uma marca de Coimbra, fica a dúvida sobre a produção dos mesmos formatos nas unidades de Coimbra e Lisboa.

 

A propósito da marca desta peça, ensaia-se aqui uma tentativa de sistematização, não exaustiva, de diferentes marcas impressas da CFCL, apresentando-se primeiro, por ordem cronológica, as marcas que possivelmente teriam sido exclusivas da unidade de Lisboa. 

 

Permanece, no entanto, a dúvida se a marca CFCL3 não teria sido comum às diferentes unidades da CFCL a partir da década de 1950.

   

                    

CFCL1                                                     CFCL2                                                      CFCL3

 

Foi a partir de 1929 que a CFCL expandiu consideravelmente o seu património e colocou em prática um plano de reconversão, modernização e diversificação de unidades industriais, originando assim o lançamento de diferentes marcas, conforme se pode constatar no relatório e contas da direcção da CFCL para esse ano:

 

"Completado com pleno êxito, no exercício de 1928, o primeiro plano do desenvolvimento industrial, que o nosso director geral iniciara há cêrca de  oito anos, começámos no exercício  findo a efectivar o segundo plano que, de um modo geral, mereceu já a vossa aprovação.

 

No exercício findo adquiriram-se por compra três novas fábricas de produtos cerâmicos, a de Alcarraques, a de Arraiolos e a de Coimbra, que, livres de encargos, pertencem hoje integralmente à nossa Companhia.

 

As novas fábricas possuem terrenos anexos com mais de 250:000 metros quadrados, uma superfície construída de cêrca de 40:000 metros quadrados, e devem ocupar, quando em marcha normal, mais de 1:000 operários.

 

Na nova fábrica de Coimbra, destinada especialmente a cerâmica fina, estamos concentrando quási todos os nossos esforços, com o objectivo de transformá-la ràpidamente numa das maiores fábricas da especialidade. Algumas secções trabalham já regularmente e esperamos normalizar a produção de todas elas durante o exercício de 1930.

 

É evidente que a aquisição das novas fábricas e o apetrechamento da fábrica de Coimbra, onde se construíram já cinco novos fornos e se utilizaram mais de trinta vagões de maquinismos e utensílios, nos obrigou a grandes imobilizações de dinheiro. Porém, os nossos recursos fizeram face a todos os encargos, mesmo os resultantes da compra de novas matérias primas, continuando a situação financeira da nossa Companhia a ser desafogada."

 

Abaixo apresentam-se três marcas impressas relativas a Coimbra, ressalvando-se o facto de se conhecerem também marcas de Coimbra pintadas à mão: http://modernaumaoutranemtanto.blogspot.pt/2011/11/jarra-esferica-lusitania-coimbra.html#links.

 

                   

CFCL Coimbra1                                       CFCL Coimbra2                                      CFCL Coimbra 3

 

Já no relatório e contas da direcção da CFCL para o exercício de 1930 continua a afirmar-se o sucesso da sua política e a consolidação do seu crescimento:

 

"A grave crise económica e financeira que, de um modo geral, afecta todos os países atingiu em Portugal o seu período agudo. A nossa Companhia sentiu-lhe, como é natural, os efeitos, mas o moderno apetrechamento das nossas fábricas, a perfeição dos nossos variados produtos, a nossa boa organização e os nossos fortes recursos permitiram-nos assim mesmo aumentar consideràvelmente as nossas vendas e obter lucros muitos superiores aos do exercício de 1929.

 

À nova fábrica de Coimbra continuou o nosso director geral a dispensar a maior parte dos seus esforços. A produção desta fábrica está hoje normalizada e os respectivos produtos, especialmente a louça sanitária, os azulejos, o grés, os produtos de barro vermelho e os pavimentos hidráulicos e cerâmicos, estão obtendo um interessante sucesso no mercado. As obras de ampliação, a instalação de novas máquinas e a construção de novos fornos tomaram no exercício findo grande desenvolvimento, e vão continuar, com a possível actividade, no exercício de 1931.

 

Nas outras fábricas continuámos a habitual política de aperfeiçoamento e modernização, conservando-se paradas duas delas, por assim o aconselharem os nossos interêsses e a situação do mercado.

 

Estabelecemos no exercício findo o nosso depósito no Pôrto, ficando o escritório e os armazéns centrais instalados na Rua do Almada, 249 a 253.

 

Adquirimos em 1930 uma casa de habitação e uma regular propriedade rústica em Coimbra, e terrenos de apreciável valor industrial nos lugares de Marmeleira, Adémia e Alcarraques."

 

CFCL Porto / Massarelos

 

Apesar das dificuldades decorrentes do contexto económico-financeiro e de grandes contratempos na implementação total e eficaz da unidade de Coimbra, a política de expansão e aquisições da CFCL veio a desenvolver-se durante mais alguns anos, culminando em 1936 com a compra da fábrica de Massarelos, no Porto.

 

Essa aquisição originou o aparecimento de uma nova marca, LUFAPO / MASSARELOS, que se reproduz acima. Como se verifica, esta é uma marca que manteve na essência o modelo instituído no início do século XX durante a fase da Empresa Cerâmica Portuense (1904-1912), o qual fora também preservado posteriormente na fase Chambers & Wall (1912-1936).

 

Assim, no interior do círculo, às iniciais ECP sucederam-se as iniciais C&W e, no período CFCL, a cruz de Cristo.

 

 

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Julho 03 2012

 

Travessa oval em faiança, com cerca de 37,8 x 26,2 cm., apresentando uma variante da decoração habitualmente designada por Cantão Popular pintada à mão e aplicada a stencil (chapa recortada).

 

Este exemplar ilustra uma das inúmeras variantes conhecidas do Cantão Popular, neste caso uma variante produzida pela Companhia da Fábrica [a designação "fábricas" apenas foi instituída por escritura de 3 de Dezembro de 1929] Cerâmica Lusitânia, a única das grandes unidades industriais portuguesas de faiança que parece ter replicado este motivo.

 

Com efeito, a marca pintada e manuscrita existente nesta travessa, e reproduzida no final deste artigo, corresponde à primeira marca conhecida da fábrica Lusitânia, em Lisboa.

 

Uma marca que, sendo pintada e manuscrita, variava consoante a maior ou menor qualidade do pintor e a segurança do seu traço. Imediatamente abaixo pode ver-se uma variante dessa marca aplicada no tardoz de um prato semelhante a outro que já foi apresentado pelo autor do blog A Memória dos Descobrimentos na Cerâmica Portuguesa: http://memoriadosdescobrimentosnaceramica.blogspot.pt/2011/02/n60-prato-nau-portuguesa-fabrica-de.html.

 

 

Embora desde a sua fundação, em 1890, a fábrica Lusitânia tivesse estado particularmente ligada à produção de material cerâmico destinado à construção, e assim tivesse continuado logo após a venda que o casal Bessière efectuou em 1920, surgiu nesta nova fase uma clara intenção de entrar no segmento da loiça doméstica e decorativa.

 

É certamente nesse pressuposto que o artigo terceiro dos estatutos, estabelecidos por escritura de 28 de Dezembro de 1921, consagra o seguinte: "O seu objecto é a fabricação e venda de produtos cerâmicos, especialmente tejolo, telha, manilhas, produtos artísticos e similares (...)".


Mas logo em nova escritura, datada de 2  de Junho de 1925, esse artigo passava a ter diferente redação, clarificando esse objectivo – "O seu objecto é a fabricação e venda de produtos cerâmicos e especialmente telhas, tejolos, manilhas, azulejos, faianças, produtos refractários, ladrilhos, mosaicos, etc. (...)".

 

Talvez o período de transição entre as intenções expressas nos estatutos e a real capacidade de produzir faianças na CFCL explique os intrigantes aspectos patentes nesta travessa.

 

De facto, para além da marca pintada e manuscrita, esta travessa ostenta ainda uma marca impressa na pasta que se pode ver imediatamente a seguir.

 

 

A marca talvez não se apresente muito nítida nesta imagem, mas é perfeitamente legível na peça, à vista desarmada. Trata-se de um conjunto de dois numerais, "57" e "?", entre os quais surge, invertida, a palavra... SACAVEM!

 

Com efeito, esta travessa parece corresponder ao formato Hotel da FLS. Estaremos, portanto, perante um surpreendente caso de produção repartida que, tanto quanto se sabe, ainda não havia sido detectada ou divulgada.

 

Parece, assim, que a CFCL se terá socorrido inicialmente de alguns biscoitos, ou chacotas, da FLS, os quais seriam depois decorados e vidrados nas suas instalações. Esta tese está em consonância com o deficiente vidrado da travessa, que é particularmente visível nas três manchas claras existentes na ponte, as quais correspondem a três áreas não vidradas.

 

Através da consulta de correspondência arquivada no CDMJA sabe-se que a FLS estabeleceu colaboração com outras fábricas portuguesas em situações pontuais, tal como o intercâmbio de ouro para decoração com a VA, em períodos de escassez do produto, mas ainda não haviam sido encontrados documentos, ou peças, que comprovassem uma colaboração com a CFCL.

 

Este exemplar surge, assim, como um importante e inédito testemunho dessa possível colaboração.

 

Sobre características e outros exemplares de Cantão Popular veja-se o que foi escrito nos seguintes blogs:

 

≈  Arte, livros e velharias (http://artelivrosevelharias.blogspot.pt/2011/07/algumas-versoes-do-cantao-popular.html

≈  Lérias e Velharias (http://leriasrendasvelhariasdamaria.blogspot.pt/search/label/Cant%C3%A3o%20Popular%3A%20Amostragem

≈  Velharias (http://velhariasdoluis.blogspot.pt/search/label/faian%C3%A7a%3A%20cant%C3%A3o%20popular).

 

 

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Fevereiro 25 2012

 

Chávena de café e pires formato Porto, da Sociedade de Porcelanas de Coimbra, com filetagem dourada e decoração geométrica esmaltada sobre o vidrado. Ambas as peças apresentam a marca SP1.

 

O motivo geométrico triangular aplicado nesta decoração é claramente evocativo de uma famosa litografia construtivista de El Lissitzky (1890-1941), editada em 1919 e reproduzida abaixo, denominada Derrotar os Brancos com a Cunha Vermelha, título que alude ao confronto entre bolcheviques (vermelhos) e mencheviques na URSS.

 

A evocação é ainda mais evidente quando se sabe que esta decoração também foi comercializada pela SP em vermelho (cf. http://modernaumaoutranemtanto.blogspot.com/2012/01/servico-de-cafe-modelo-cubico-porcelana.html#links), embora neste caso se tratem de chávenas e pires octogonais do formato Cúbico, onde o valor simbólico da intersecção do círculo pelo triângulo está diluído.

 

Este exemplar foi exibido na exposição Portuguese Ceramics in the Art Deco Period, realizada nos EUA em 2005, conjuntamente com um bule, uma leiteira, um açucareiro e uma chávena de chá com pires (respectivamente, números 45 e 48 a 51 do catálogo) do mesmo formato e com a mesma decoração, embora as asas destes últimos estejam apenas decoradas com uma filetagem a ouro.

 

 

Conforme já foi referido anteriormente (cf. http://mfls.blogs.sapo.pt/143462.html), aquela que mais tarde ficou a ser a Sociedade de Porcelanas de Coimbra denominava-se Porcelana de Coimbra quando se constituíu como sociedade anónima de responsabilidade limitada, em 13 de Maio de 1922.

 

A designação Sociedade de Porcelanas, Limitada, foi instituída a 31 de Agosto de 1926, num período em que a situação empresarial e financeira da Porcelana de Coimbra (PC) era já preocupante e a SP lhe sucedeu, com a fábrica na Arregaça.

 

Com efeito, a PC acabou por ser dissolvida em 8 de Julho de 1929, tendo entrado em imediata liquidação, para a qual foram nomeados "com os mais amplos poderes" Faustino Corrito e José Cordeiro Guerra, poderes que incluíam os "de venda ou alienação de bens móveis e imóveis da sociedade particularmente, sem dependência de hasta pública".

 

O activo desta sociedade veio a ser colocado em praça a 17 de Julho desse ano. Ainda a 25 de Outubro de 1929, na sequência deste processo, foi contraído pela SP um empréstimo junto da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, garantido com hipoteca e penhor mercantil dos antigos bens da Porcelana de Coimbra.

 

Este empréstimo encontrava-se ainda por liquidar a 28 de Junho de 1935, data em que foi substituído o pacto social da SP. A 15 e 27 desse mês havia-se registado a primeira intervenção da Empresa Electro-Cerâmica (EEC), do Candal, e da Vista Alegre, de Ílhavo, no capital social da SP, que era então de 10.000$00 e passou a estar equitativamente dividido por estas duas empresas.

 

Um dos responsáveis pela VA, João Teodoro Ferreira Pinto Basto (1870-1953), na sua obra A Cerâmica Portuguesa (1935), que reproduz um discurso proferido em 20 de Dezembro de 1934, refere o seguinte sobre a SP:

 

"6.º Centro – Coimbra – Porcelana – Sociedade de Porcelanas. Produz loiça domestica e artigos electricos. Começou a sua laboração há cerca de 12 anos. Emprega caolino da sua concessão de S. Vicente em Ovar e tem aperfeiçoado principalmente o fabrico de loiça domestica de uso corrente."

 

Conforme também já foi anteriormente referido, a aposta da VA na SP consolidou-se em 1945.

 

 

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Janeiro 21 2012

 

 

 

De acordo com o Diário do Govêrno, por escritura de 17 de Abril de 1929, a FLS passou de "sociedade anonima de responsabilidade limitada" a "sociedade por cotas, de responsabilidade limitada", mantendo o seu capital de 2.000.000$00 assim subscrito:

 

"D. Elvira James Gilman, 679.000$00;

 Raúl Gilman, 180.000$00;

 D. Evelyne Maria Howorth, 618.000$00; 

 Rupert Beswicke Howorth, 1.000$00; e

 Herbert Gilbert, 522.000$00."

 

O artigo 4 dos novos estatutos estabelecia: "A denomição social continua a ser a mesma Fábrica de Louça de Sacavém e seguida da palavra Limitada."

 

O parágrafo 2 do artigo 7 indicava a gerência: "Ficam desde já nomeados gerentes efectivos os sócios Raúl Gilman e Herbert Gilbert, e substitutos João Hermenegildo Nogueira de Araújo, o Dr. Nuno de Moura Teixeira e José de Sousa." 

 

O parágrafo único do artigo 11 admitia ainda a possível entrada de mais membros da família Gilbert na gestão da empresa, pois estabelecia o seguinte: "Fica, desde já, expressamente autorizado o sócio Herbert Gilbert [1878-1962] a ceder uma parte da sua cota a seu filho Leland Herbert Gilbert [1907-1979], ficando, depois da cessão, constituindo [sic] duas cotas distintas".

 

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Abril 23 2011

 

Pequena jarra de porcelana da Vista Alegre, com 14,2 cm. de altura, decorada com pintura manual sobre o vidrado.

 

De acordo com uma ficha dos arquivos da Vista Alegre, este é o motivo P.799, o qual foi aprovado em 22 de Janeiro de 1929 pelo director artístico da empresa, J. Cazaux (datas desconhecidas), para um outro formato, o 1169, que corresponde à jarra Quatro Asas e tem 25 cm. de altura.

 

Anotações complementares desta ficha referem que a pintura foi executada por Ângelo Chuva (datas desconhecidas), a partir de um modelo adquirido pela VA, e que o custo do formato 1169 decorado com este motivo complementado a ouro era de 18$20 à saída da fábrica, sendo o seu preço de comercialização de 80$00. 

 

Para comparação de custos e preços entre o formato 1169 e o formato 1401, correspondente ao modelo Quatro Asas sem Asas, cf. http://mfls.blogs.sapo.pt/72873.html.

 

Um jarra formato 1169, decorada com este motivo complementado a ouro, foi exibida na exposição Portuguese Ceramics in the Art Deco Period, realizada nos E.U.A. em 2005.

 

 

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Setembro 02 2010

 

(continuação)

 

"Foi na Fábrica de Louça de Sacavém que o artista [Jorge Colaço] começou a trabalhar em azulejos, e dali saíram os seus panneaux decorativos dos Passos Perdidos da Escola Médica de Lisboa, e em seguida os do Hotel do Bussaco, da Estação dos Caminhos de Ferro no Pôrto, já feitos com um processo de trabalho diferente. A par da sua vida de ceramista, continuou mais tarde a colaborar em jornais de caricaturas, fundando o "Talassa", que começou em 1913, e acabou a 14 de Maio de 1915. Nesta familiar descrição que o mestre nos faz, ressurgiu-nos [sic] os seus últimos trabalhos realizados para a Exposição do Rio de Janeiro, Sevilha, etc. A Ala dos namorados, In Hoc Signo Vinces, e tantos outros. Nas molduras que orlam êstes quadros, domina o baroco [sic], que em Portugal ficou quási inteiramente livre de exagêros. É já tempo de deixar o mestre novamente entregue à sua obra; e por isso, despedimo-nos de aquela figura típica de artista sempre de negro, barbicha quichotesca, grande laço preto a emmoldurar-lhe a expressão."

 

in Como se Trabalha em Azulejos, artigo publicado no magazine Civilização, número 44, de Fevereiro de 1932.

 

 

Pavilhão de Portugal na Exposição de Sevilha de 1929.

 

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