Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém

Setembro 23 2017

 

Placa cerâmica, moldada em relevo, em faiança da fábrica Vestal, Alcobaça.

 

Medindo cerca de 17,2 x 16,2 x 1,8 cm., esta placa, integralmente pintada à mão, apresenta a legenda "Para os amigos / a hora / não importa", que se enquadra nos aforismos, adágios e quadras comuns na produção de algumas fábricas portuguesas durante meados do século XX.

 

De acordo com a obra Faiança de Alcobaça (1997), de Jorge Pereira de Sampaio (n. 1965), a Vestal foi fundada em 1947. A ser assim, como se comprova pelo anúncio reproduzido abaixo, e ao contrário do que se afirma nessa obra, a grafia Vistal não esteve em vigor apenas durante o primeiro ano de existência da fábrica.

 

Segundo anúncio publicado no Diário de Notícias de 17 de Maio de 2006, após a declaração de falência os bens da empresa foram colocados à venda, em hasta pública, nesse ano.

 

 

Anúncio, com o monograma do pintor e designer gráfico Fred Kradolfer (1903-1968), publicado no opúsculo As Plantas dos Cinemas e Teatros de Lisboa (1949), oferecido pela casa Larbelo aos seus clientes.

 

Neste opúsculo são publicadas a plantas das seguintes salas, por ordem de apresentação – Cinema Capitólio, no Parque Mayer, Cinema Condes, na Avenida da Liberdade, Eden-Teatro, na Praça dos Restauradores, Cinema Ginásio, na Rua Nova da Trindade, Cinema Odéon, na Rua dos Condes, Cinema Palácio, na Avenida Duque de Ávila, Teatro Politeama, na Rua Eugénio dos Santos, S. Luiz Cine, na Rua António Maria Cardoso, Cinema Tivoli, na Avenida da Liberdade, Teatro da Trindade, na Rua Nova da Trindade, Chiado Terrasse, na Rua António Maria Cardoso, Cinema Lys, na Avenida Almirante Reis, Teatro Apolo, na Rua da Palma, Teatro Avenida, na Avenida da Liberdade, Teatro Maria Victória, no Parque Mayer, Teatro Nacional, na Praça D. Pedro IV, e Teatro Variedades, no Parque Mayer.

 

 

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Maio 06 2017

 

Pequena jarra moldada, com cerca de 7 cm. de altura, apresentando decoração floral pintada à mão.

 

Este será um dos poucos exemplares que subsistem da exígua produção realizada, entre 1945 e 1947, na efémera Fábrica de Loiça de Viana. É possível que o molde desta peça tenha sido trazido, da sua fábrica de Barcelos, pelo ceramista e modelador João Macedo Correia (1908-1987), o qual foi o responsável técnico da L. V. no atribulado e curto período da sua existência.

 

A Fábrica de Loiça de Viana, Limitada, foi constituída por escritura datada de 25 de Setembro de 1945, localizando-se a sua sede e estabelecimento fabril no lugar da Senhora da Ajuda, freguesia da Meadela, em Viana do Castelo.

 

O seu capital social era de 330.000$00, distribuído da seguinte forma pelos accionistas – José Jorge Alves de Sousa Cruz, 150.000$00; D. Maria Amélia de Sousa Cruz, 100.000$00; Octávio Pereira da Silva, 50.000$00; Dr. João de Espregueira Mendes, 20.000$00; e José Augusto Rosa de Araújo, 10.000$00.

 

No entanto, à data da constitução, José Jorge Alves de Sousa apenas realizara uma entrega de 100.00$00 e José Augusto Rosa de Araújo uma entrega de 1.000$00, pelo que a caixa social apenas totalizava 279.000$00.

 

A maioria das quotas desta fábrica veio a ser adquirida em 1948 pela empresa Jerónimo Pereira Campos, Filhos, de Aveiro, que já se encontrava estabelecida, desde meados da década de 1930, a sul do rio Lima, em Alvarães.

 

Mantendo as instalações da Meadela, a empresa aveirense passou a comercializar esta sua nova produção, na maioria realizada em pasta de faiança fina, um grés feldspático não poroso, com a marca C. F. Viana.

 

 

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Junho 02 2014

James Gilman, à esquerda, e José de Sousa.

Fotografia publicada na revista Ilustração Portuguesa, número 346, de 7 de Outubro de 1912.

 

Um Pequeno Mundo…

 

Depois de acabar os meus estudos secundários segui para Stoke-on-Trent, a cidade da cerâmica, inserida numa área urbana e industrial conhecida como as "Potteries" (http://www.thepotteries.org/index.html), como já referi num anterior artigo (http://mfls.blogs.sapo.pt/185878.html).

 

Para complementar aquele relato, gostaria de contar um episódio curioso que teve lugar pouco tempo depois de eu chegar a Stoke-on-Trent. Entre outros colegas de curso, fiquei a conhecer uma colega, a Janet Hanley, a qual veio a saber que eu vivia em Portugal.

 

Passados uns tempos, ela convidou-me a ir tomar chá (tinha que ser!) a casa de uma tia dela, pois essa tia queria mostrar-me uma coisa.

 

Lá fui, então, e depois de alguma conversa a senhora entregou-me uma fotografia, perguntando-me se eu conhecia a pessoa que lá estava representada.

 

Olhei e qual não foi o meu espanto quando reconheci um João de Sousa muito mais novo, o filho do Mestre José de Sousa, que tinha sido o primeiro chefe fabril português da Sacavém!

 

De facto, o João de Sousa fez o mesmo curso que eu, como também já tive oportunidade de relatar anteriormente (http://mfls.blogs.sapo.pt/194586.html), e na altura ele tinha namorado com a tia daquela minha colega de curso!

 

Num caso posterior, e já no meu último ano, conheci outra colega de curso, a Kendal Heath. Um dia, em conversa, fiquei a saber que ela era neta do Sr. Heath, técnico de tintas e vidros (corantes e esmaltes) que prestou assistência técnica à Sacavém na segunda metade dos anos 40.

 

O seu nome completo era Sidney George Heath e de acordo com um registo da secretaria da FLS, actualmente depositado no CDMJA, colaborou com a empresa entre 5 de Abril de 1946 e 7 de Outubro de 1947.

 

Entre outros trabalhos inovadores que realizou para a FLS, foi o criador do vidrado Porto, um vidrado mate creme, muito bonito, que foi aplicado a serviços de chá e café cuja decoração era complementada ainda com as asas e as pegas pintadas a ouro.

 

Como o mundo é pequeno!

 

 

© Clive Gilbert

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Julho 24 2013

 

A propósito da publicação desta caricatura do coleccionador e estudioso de cerâmica José Queirós (1856-1920), que foi executada em 1914 por Alberto de Sousa (1880-1961), foram-nos colocadas algumas questões.


Uma delas prendia-se com as iniciais patentes no vestuário do caricaturado e com a peça que este segura na sua mão direita, indagando-se se seria esta a peça que surge na capa do volume António Capucho: O Homem Através da Colecção (2004).


Ora, tal peça, como se pode comprovar pela catalogação presente nesse volume, corresponde a um dos dois cisnes (re)criados já na segunda metade do século XIX por Wenceslau Cifka (1811-1884), muito provavelmente nas instalações da Cerâmica Constância, às Janelas Verdes, em Lisboa.


Nesta caricatura, contudo, representa-se a célebre terrina ostentando as armas do Marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo, 1699-1782) executada por Tomás Brunetto (datas desconhecidas; activo na fábrica entre 1767 e 1771) na Fábrica do Rato (1767-1834), peça que desde 1947 integra o acervo do Museu Nacional de Arte Antiga (http://www.museudearteantiga.pt/pt-PT/exposicao%20permanente/outras%20obras%20essenciais/ContentDetail.aspx?id=132).

 

Obviamente, as abreviaturas correspondem, assim, às iniciais da Fábrica do Rato e à assinatura de Tomás Brunetto.


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Janeiro 26 2013

     

 

Pequena jarra cilíndrica, com cerca de 16,6 cm. de altura e cerca de de 8,6 cm. de diâmetro, em faiança da Cerâmica Artística e Industrial, Lda. (C.A.I.L.), localizada em Moitalina, Porto de Mós.

 

Por escritura de 31 de Dezembro de 1947, a Cerâmica Artística Industrial, Lda., através da cessão de quotas, passou a ter apenas quatro sócios – Álvaro Augusto das Neves, Jaime Augusto das Neves, Romeu Augusto e Rogério Amaral.

 

Pouco depois, através de nova escritura datada de 10 de Janeiro de 1948, a sociedade aumentou o seu capital social de 60.000$00 para 300.000$00, passando este a ficar assim distribuído – uma quota de 210.000$00, em nome de Álvaro Augusto das Neves, e três quotas de 30.000$00, estando cada uma destas em nome de Jaime Augusto das Neves, Romeu Augusto e Rogério Amaral.

 

Poder-se-ia pensar que o nome de José Rosa (datas desconhecidas), citado no catálogo da exposição Cerâmica em Alcobaça – 1875 até ao Presente: CeRamICa PLUS (2011), seria um daqueles que estaria associado à C.A.I.L. antes de 1948, mas o texto patente nesse catálogo apenas refere o seguinte sobre a fábrica – "(...) e CAIL ou Cerâmica Artística Industrial, Lda., na Moitalina, a que está ligado o nome de Romeu Augusto e, depois, José Rosa; (...)"

 

A C.A.I.L. foi dissolvida a 3 de Dezembro de 1964, não havendo lugar a qualquer liquidação por, de acordo com certidão publicada em Diário do Governo, "a sociedade não possuir activo ou passivo".

 

 

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Outubro 14 2012

 

Jarra em faiança, com cerca de 21,8 cm. de altura, da fábrica Faiança Battistini, de Maria de Portugal, apresentando o brasão de Santarém e as datas evocativas dos oitocentos anos da conquista da localidade aos mouros.

 

Maria de Portugal (pseudónimo de Albertina dos Santos Leitão, 1884-1971), discípula e musa de Leopoldo Battistini (1865-1936), surge retratada em vários obras de Battistini datadas das décadas de 1910 e 1920.

 

Depois do breve matrimónio com Clotilde Pinto de Carvalho (c. 1882- ?; matrimónio, 1899-1903?; divórcio definitivo decretado em 1912), Battistini manteve com Maria de Portugal uma relação afectiva que se prolongou por cerca de dezoito anos.  

 

 

Embora a generalidade da bibliografia sobre a fábrica refira que Maria de Portugal apenas assumiu a sua direcção e gestão após o falecimento de Battistini, foi recentemente levantada a hipótese de isso ter acontecido em 1930, hipótese consubstanciada na data e na abreviatura que surgem nesta peça: http://artelivrosevelharias.blogspot.pt/2011/05/pote-da-fabrica-constancia.html.

 

A hipótese de leitura da referida abreviatura foi colocada como sendo "Companhia [de Maria de Portugal]". Contudo, dado que a legibilidade da mesma é contestável, é mais provável que estejamos perante a abreviatura da palavra "composição", a exemplo da inscrição, por extenso, que se encontra num dos painéis do conjunto azulejar pintado em 1940 para o Mercado dos Lavradores, no Funchal, como se pode ver abaixo.

 

 

Fundada em 1836, em Lisboa, como Companhia Fabril de Louça, aquela que viria a ser a fábrica Battistini recebeu em 1842 a designação de Fábrica de Cerâmica Constância, nome que haveria de perdurar até à falência da empresa, ocorrida já neste século.

 

Durante o século XIX, o grande impulsionador da qualidade cerâmica e da celebridade da fábrica foi Wenceslau Cifka (1811-1884), que ali mandou cozer muitas das mais de centena e meia de peças que se lhe conhecem. Nascido na Boémia, Cifka parece ter chegado a  Portugal no contexto do casamento de D. Maria II (1819-1853; rainha, 1834-1853) com D. Fernando (1816-1885), realizado em 1836.

 

Em Portugal, a sua primeira actividade pública mais notória foi a de fotógrafo, surgindo já com um estúdio em Lisboa no ano de 1848 e assumindo  o estatuto de fotógrafo da Casa Real em 1855.

 

A sua ligação à produção cerâmica terá decorrido a partir da década de 1860, muito embora a primeira peça datada e assinada conhecida apenas seja de 1870. Nesta área, o seu percurso foi vertiginoso e as suas qualidades reconhecidas internacionalmente, tendo participado com sucesso na Exposição de Paris de 1878 e, como já foi referido (http://mfls.blogs.sapo.pt/20086.html), na Exposição do Rio de Janeiro de 1879. 

 

Não é muito extensa a bibliografia dedicada exclusivamente a Cifka, sendo a obra mais recente o catálogo da exposição Cifka: Obra Cerâmica, realizada em 1993-1994 no Museu Nacional do Azulejo.

 

Capa de catálogo reproduzindo uma tela de Battistini intitulada Amanti (c. 1914).

 

Natural de Jesi, Itália, Leopoldo Battistini chegou a Portugal em 1889 para leccionar na Escola Avelar Brotero, em Coimbra, onde permaneceu até 1903. Nessa cidade veio a criar amizade com diversos intelectuais, escritores e artistas, entre os quais Eugénio de Castro (1869-1944) e Carlos Reis (1863-1940).

 

Transferindo-se para Lisboa em 1903, passou a leccionar na Escola Marquês de Pombal. Depois de quase duas décadas de ensino e bem sucedidas exposições de pintura nesta cidade, Batistini assumiu em 1921, com Viriato Silva (datas desconhecidas), a recuperação e administração da fábrica Constância, que apenas depois do seu falecimento, por homenagem de Maria de Portugal, passou a ostentar o seu nome.

 

Logo nessa década a qualidade da produção cerâmica da fábrica foi, mais uma vez, reconhecida e aclamada além fronteiras, particularmente nas exposições de Milão, realizada em 1927, e de Sevilha, realizada em 1929.

 

Uma vista parcial do pavilhão de Portugal em Sevilha, com revestimentos azulejares executados por Battistini e Viriato Silva, já foi aqui apresentada anteriormente: http://mfls.blogs.sapo.pt/59383.html.

 

No artigo de José Dias Sanches (1903-1972) ali referido, Como se Trabalha em Azulejos, publicado no magazine Civilização, número 44, de Fevereiro de 1932, surge ainda, apesar da exclusividade do título, uma imagem de um monumental "Pote estilo D. João V, de Baptistini e Viriato Silva", que se reproduz abaixo.

 

 

Esta imagem já havia sido apresentada no Diário de Notícias de 11 de Abril de 1929, para ilustrar o seguinte texto:

 

"Na Fabrica Ceramica Constancia, Ltd. esteve ontem exposto, para a Imprensa, o jarrão de faiança artistica que aquela empresa vai enviar ao certame de Sevilha.

Trata-se dum trabalho que honra sobremaneira o nosso país e os seus executantes, srs. Leopoldo Battistini e Viriato Silva.

A notavel peça, que se intitula ' Varões de Portugal ', tem por divisa o seguinte verso dos ' Lusiadas ': ' Aqueles que por obras valorosas se vão das leis [sic] da morte libertando ' e é encimada por um elmo de cavaleiro. O brasão de D. João II, o iniciador da grandes descobertas marítimas, constitui a sua principal peça de heraldica. No jarrão, que tem na base reproduções das três caravelas [sic] que foram á India e, na peanha, uma teoria das esferas armilares, vêem-se ainda brasões de guerreiros e navegadores."

 

Ainda do artigo de José Dias Sanches transcreve-se de seguida um breve trecho, dedicado a Battistini:

 

"Êste artista realizou a continuidade da grande obra de Lucca Della Robbia, na execução de um altar em majolica, representando um milagre de Santo António, em rica policromia. Ultimamente tem pintado notáveis trabalhos, destinguindo-se a reprodução das Tapeçarias de Pastrana, trabalho policrómico de grande valor técnico. Na exposição que efectuou em Milão, em 1927, entre vários trabalhos, avultava o panneaux da Madonna del Fascio em estilo primeira renascença, o qual foi adquirido por Mussolini, e que se encontra actualmente na Igreja de Predapio. As suas últimas produções foram executadas para a Biblioteca Municipal, no Palácio Galveias."

 

Leopoldo Battistini retratado por Carlos Reis.

 

Em 1969, na sequência da doação de dezenas de peças por Maria de Portugal, foi inaugurada na escola Marquês de Pombal, em Lisboa, uma sala consagrada a esse acervo de Battistini. Ainda hoje ali podem ser observadas algumas das criações cerâmicas deste autor, nomeadamente a notável jarra Nereida de Harlem, que tão ligada está ao Simbolismo português e à obra homónima (1896) de Eugénio de Castro.

 

Também ali se encontra patente o retrato de Battistini executado por Carlos Reis.

 

Tal como acontece com Cifka, tampouco é muito extensa a bibliografia exclusivamente dedicada a Battistini, destacando-se os opúsculos Harmonia Latina (1936), de Joaquim Leitão (1875-1956), e Leopoldo Battistini: Um Pré-Rafaelita Italiano na Dimensão do seu Classicismo (1992), de Manuel Cadafaz de Matos (n. 1947), e os catálogos das exposições Leopoldo Battistini: Exposição Artística e Documental (1984) e Leopoldo Battistini e l'Accademismo Romantico nella Provincia di Ancona tra ' 800 e ' 900 (1987).

 

A monografia mais completa, e recente, sobre este artista italiano deve-se a Maria Alice de Oliveira Lázaro (datas desconhecidas), que elaborou uma dissertação de mestrado publicada pela Câmara Municipal de Coimbra, em 2002, sob o título Leopoldo Battistini: Realidade e Utopia.

 

 

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Março 24 2012

 

Jarra em faiança fina de Viana, da empresa Campos & Filhos, produzida durante a década de 1960. Esta faiança fina é uma pasta feldspática de grés, não porosa, semelhante à porcelana.

 

O formato desta jarra evoca claramente formatos populares desde finais da Idade Média até ao século XVIII, como o de alguns albarellos, os famosos potes de farmácia, distinguindo-se da generalidade da loiça de Viana sua contemporânea pela ausência de qualquer pintura manual (hoje, como então, tradicionalmente apresentando o azul como cor principal) e pela modelação em relevo da pasta.

 

Esta empresa de Viana do Castelo, adquirida em 1948 pela Jerónimo Pereira Campos, Filhos, de Aveiro, tinha o seu centro de produção de loiça doméstica e decorativa na Meadela, mas a CF, mantendo estas instalações e diversificando a sua produção, veio a recuperar e ampliar na outra margem do rio Lima, em Barroselas, uma unidade onde produzia cerâmica de construção e grés, de acordo com a vocação original das suas outras unidades industriais.

 

                    

 

Um aspecto curioso sobre a produção do período de administração da CF é que esta empresa comercializou pires e chávenas de chá e café, monocromáticos e com complemento a ouro, de formatos muito semelhantes a outros produzidos pela Electro-Cerâmica do Candal, formatos esses que foram exibidos na exposição Portuguese Ceramics in the Art Deco Period, realizada em 2005 nos EUA.

 

O conjunto de chávena de chá e pires que se reproduz acima representa esse formato, na versão de porcelana da fábrica da Electro-Cerâmica do Candal, de que se conhecem exemplares em diversas cores. Os exemplares conhecidos da CF são em azul ultramarino, numa clara evocação do prestígio da porcelana decorada a azul cobalto e ouro, combinação cromática consagrada na expressão "ouro sobre azul".

 

Do ponto de vista formal, a única diferença significativa entre este exemplar e os exemplares da CF situa-se ao nível do remate da asa – aqui constituído pela aparente união de duas hastes, nos exemplares da CF apresentando uma única forma contínua.

 

Consultem-se aqui mais informações sobre a loiça de Viana: http://www.lrviana.com/ e http://www.youtube.com/watch?v=kV1fFj8jXZc.

 

 

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Janeiro 22 2012

 

Grupo escultural em porcelana dourada e pintada à mão, da fábrica Artibus, Aveiro, com cerca de 17,7 cm. de altura.

 

Conforme aqui foi referido anteriormente (http://mfls.blogs.sapo.pt/12467.html), a Artibus produziu cerâmicas de alta qualidade, quer quanto à pintura quer quanto à modelação, sendo esta peça paradigmática dessa sua excelente execução.

 

Como se pode verificar abaixo, o logótipo da empresa pretende sugerir o da VA, através da haste levantada no início do A e da consequente sugestão de um pequeno v a anteceder essa letra, certamente não apenas porque alguns dos seus técnicos eram daí oriundos mas também pelo prestígio associado a essa marca.

 

De acordo com o Diário do Governo, a Artibus foi estabelecida por escritura pública de 11 de Abril de 1947, embora o início da sociedade ficasse registado nesse mesmo documento como tendo ocorrido a 1 de Janeiro desse ano.

 

O seu capital social inicial era de 400.000$00, distribuído pelas seguintes quotas: Hernâni Henriques Salgueiro com 150.000$00; José Maria Vilarinho com 150.000$00; e Carlos Alberto Pinto da Mota com 100.000$00.

 

Este último sócio, Carlos Alberto Pinto da Mota, assumiu o cargo de gerente técnico da fábrica.

 

 

     

Frasco de chá, a que falta a tampa, dourado e pintado à mão. 

Esta figura feminina, evocativa dos Ballets Russes, de Diaghilev (Sergei Pavlovich Diaghilev, 1872-1929), surgia já numa pequena jarra, datável de 1928-1930, decorada por Guido Andlovitz (1900-1971) para a empresa Società Ceramica Italiana di Laveno, como se pode verificar na página 37 do livro Artes Decorativas do Século XX: Art Déco (1990), de Carla Cerutti (n. 1955).

   

             

A 31 de Outubro de 1949 uma nova escritura veio alterar significativamente quer o pacto social quer o capital da sociedade, que foi aumentado para 4.400.000$00 e ficou assim distribuído:

 

José Maria Vilarinho, 2.000.000$00; Adélia Teixeira Vilarinho, 100.000$00; Fernando Arcanjo de Sá Marta, 600.000$00; Carlos Alegre Marta, 400.000$000; Eduardo Arcanjo de Sá Marta, 300.000$00; António de Ataíde Marta, 100.000$00; Manuel Alegre Marta, 200.000$00; Augusto Alegre Marta, 100.000$00; Lucílio Garcia, 100.000$00; António Luís Marta, 200.000$00; Maria Alice de Ataíde Marta Proença, 100.000$00; Mário Ferreira da Costa, 100.000$00; Armando Costa, 25.000$00; José Ferreira Correia, 25.000$00; João Fernandes Torrão, 25.000$00; e António Valente da Silva, 25.000$00.

 

Como se verifica por estes dados, José Maria Vilarinho foi o único elemento que transitou da sociedade anterior, ficando a Artibus, a partir de 1949, a ser controlada pelas famílias Vilarinho e Marta.

 

A saída de Carlos Alberto Pinto da Mota foi suprida com a entrada dos novos sócios António Valente da Silva, Armando Costa, João Fernandes Torrão e José Ferreira Correia, que vieram assegurar competências técnicas nos diversos sectores da fábrica.

 

Dos trabalhadores da fábrica registe-se ainda o nome de José Augusto Ferreira dos Santos (n. 1930), que aí trabalhou como oleiro, entre 1948 e 1959, antes de se transferir para a fábrica Aleluia onde permaneceu até 1969, tendo exercido nesta última a actividade de pintor de painéis e de modelador (cf. http://www.prof2000.pt/users/secjeste/ZeAugusto/Antospg31.htm e http://www.cm-aveiro.pt/www/cache/imagens/XPQ5FaAXX29248aGdb9zMjjeZKU.pdf).

  

A Artibus ainda existia em 1988, pois nas actas da C. M. de Aveiro de 8 de Agosto desse ano (http://www.cm-aveiro.pt/www/cache/imagens/XPQ5FaAXX20848aGdb9zMjjeZKU.pdf) refere-se que seriam imputados à empresa 50% dos custos globais (estimados em 42.266.600$00) das infraestruturas da área sul do Canal do Cojo, onde se situavam os terrenos da fábrica.

 

O grupo escultural aqui reproduzido ilustrou um dos artigos do catálogo da exposição Portuguese Ceramics in the Art Deco Period, realizada em 2005 nos EUA.

 

 

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Agosto 15 2010

 

"A Mocidade que passa / Garbosa e cheia de graça!". Bilhete postal editado pela Mocidade Portuguesa e circulado em Setembro de 1947. Aguarela original assinada "Leonel" [Cardoso] e datada [1]"939". Ainda em 1939, o autor desenhou uma série de postais reproduzindo trajos portugueses, cujas sucessivas tiragens ultrapassaram os 80.000 exemplares.

 

De entre a vasta obra de Leonel Cardoso (1898-1987) para a FLS, a série Bébé, cuja produção se iniciou em 1945, estabeleceu uma imagem de marca especificamente associada à fábrica, cuja popularidade se manteve ao longo de quase duas décadas. Em menos de cinco anos, Leonel Cardoso criou para esta série mais de cinquenta figuras diferentes, as quais estão assim registadas na tabela de Maio de 1951:

 

 

391 - Figura bébé "Saloio do Ribatejo"; 392 - Figura bébé "Saloia"; 399 - Figura bébé "Alentejano; 400 - Figura bébé "Alentejana" (ceifeira); 401 - Figura bébé "Peixeira" (Lisboa); 402 - Figura bébé "Marujo"; 403 - Figura bébé "Galucho"; 416 - Figura bébé "Guarda Republicano"; 417 - Figura bébé "Criada"; 418 - Figura bébé "Estudante"; 419 - Figura bébé "Tricana"; 420 - Figura bébé "Moço de forcado"; 421 - Figura bébé "Toureiro a pé"; 422 - Figura bébé "Minhota"; 423 - Figura bébé "Homem do Douro"; 424 - Figura bébé "Amola tesouras"; 425 - Figura bébé "Pauliteiro"; 426 - Figura bébé "Homem da Madeira"; 427 - Figura bébé "Mulher da Madeira"; 428 - Figura bébé "Pescador da Nazaré"; 429 - Figura bébé "Mulher da Nazaré"; 430 - Figura bébé "Saloio"; 431 - Figura bébé "Campino a cavalo"; 432 - Figura bébé "Cavaleiro tauromáquico"; 433 - Figura bébé "Homem da Beira"; 434 - Figura bébé "Mulher da Beira (fiandeira)"; 435 - Figura bébé "Cavaleiro hípico"; 436 - Figura bébé "Aluno Colégio Militar"; 437 - Figura "O Fado" (Severa); 444 - Figura bébé "Gaita de foles"; 445 - Figura bébé "Lavadeira"; 446 - Figura bébé "Açoreana"; 447 - Figura bébé "Tocador de harmónio"; 448 - Figura bébé "Zé Pereira"; 449 - Figura bébé "Mulher de Leiria"; 450 - Figura "As três irmãs"; 451 - Figura bébé "Pastor da Serra"; 475 - Figura bébé "Magala a cavalo"; 477 - Figura bébé "Romaria"; 477-A - Figura bébé "Fogueteiro"; 477-B - Figura bébé "Homem dançando"; 477-C - Figura bébé "Mulher dançando"; 477-D - Figura bébé "Homem dançando"; 477-E - Figura bébé "Mulher dançando"; 483 - Carro de bois (Minho); 483-A - Figura bébé "Minhota", para acompanhar o mesmo [todas as figuras anteriores foram criadas, seguramente, até 1947]; 495 - Figura bébé "Toureiro e touro"; 511 - Figura bébé "Futebolista"; 512 - Figura bébé "Polícia"; 521 - Figura bébé "Ardina"; 522 - Figura bébé "Engraxador"; 523 - Figura bébé "Vendedeira de criação"; 532 - Figura bébé "Vendedeira com burro"; 534 - Figura bébé "Moço de forcados e touro"; 542 - Grupo "Três bêbados".

 

 

É possível que os modelos da série Bébé se tenham inspirado nas populares figuras dos Meninos Gordos de meados do século XIX, largamente reproduzidas em faiança na época. Contudo, é importante notar a semelhança entre os cinco desenhos de Stuart Carvalhais (1887-1961), intitulados Figurinos para Carnaval de Miúdos e  publicados em 1935 na revista Sempre Fixe, e a obra de Leonel Cardoso, que também colaborou na mesma publicação.

 

Aliás, as semelhanças entre os desenhos de Stuart, o postal reproduzido e as peças 401 - Peixeira, 445 - Lavadeira, 447 - Tocador de harmónio e 511 - Futebolista, evidenciam essa provável inspiração de Leonel Cardoso. Note-se, no entanto, que a série não apresenta nenhuma figura da Mocidade Portuguesa.

 

Conforme referido anteriormente, a FLS reproduziu em 1989, por ocasião da exposição dedicada a Leonel Cardoso no Museu de Cerâmica das Caldas da Rainha, um conjunto de peças desta série, limitadas a três exemplares para cada figura. De acordo com o catálogo da exposição, essas reproduções correspondem a Guarda Republicano, Toureiro, Manolete [sic], Marujo, Magala, Polícia Sinaleiro, Homem do Harmónio, Jogador de Futebol - Sporting, Ardina, Sopeira, Amola Facas e Tesouras, Fogueteiro, Santo António, Lavadeira de Caneças, Tricana, Homem da Beira, Mulher da Beira, Homem de Trás-os-Montes, Mulher do Minho, Vindimador do Alto Douro, Mulher dos Açores, Homem da Madeira, Mulher da Madeira, O Fado, Os Bêbedos.

 

Entre outros, exemplares destes dois últimos conjuntos – O Fado e Os Bêbedos, pertencentes ao acervo do MCS e evocativos de dois famosos quadros homónimos do pintor José Malhoa (1855-1933), foram exibidos em 2005 nos EUA, durante a exposição Portuguese Ceramics in the Art Deco Period. Estes dois conjuntos são também os únicos da série Bébé que ainda são referenciados na tabela de 1960.

 

 

As figuras desta série tornaram-se tão populares nas décadas de 1940 e 1950 que houve oficinas e pequenas fábricas de cerâmica a produzir peças claramente inspiradas nestes modelos, como o mealheiro em barro não-vidrado reproduzido acima. É claro que, observando hoje esta curiosa peça, não podemos deixar de pensar na sua semelhança com as figuras entretanto criadas por Fernando Botero (n. 1932) no seu universo pictórico e escultórico.

 

Relativamente ao tema do bilhete postal, note-se que Leonel Cardoso executou também uma ilustração com a Mocidade Portuguesa em marcha, a qual foi reproduzida numa jarra em vidro da Marinha Grande.

 

 

© MAFLS

publicado por blogdaruanove às 21:01

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