
Autocolante comemorativo dos dois anos de actividade legal das Edições Avante!, 1976.
O jornal Avante!, órgão central do Partido Comunista Português, publicou o seu primeiro número a 15 de Fevereiro de 1931. Desde a fundação do P.C.P., a 6 de Março de 1921, havia sido antecedido por dois outros títulos de imprensa – O Comunista, publicado logo em 1921, ainda durante a I República, e O Proletário, publicado em 1929, já em período da Ditadura Nacional, que antecederia o Estado Novo.
Publicando-se e distribuindo-se na clandestinidade entre 1931 e 1974, o Avante! apresentou durante esse período diversos artigos, ou curtas notícias, sobre a FLS.
Por cortesia do Gabinete de Estudos Sociais do P.C.P., que novamente se agradece, o Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém recebeu cópia de jornais onde alguns desses artigos surgiram, os quais serão aqui transcritos ao longo do corrente mês de Março.
No jornal Avante! número 46, de Agosto de 1937, publicou-se o seguinte artigo:
"GRAVES ACONTECIMENTOS EM SACAVEM
Acaba de se produzir em Sacavem um acontecimento duma gravidade extrema. Em resposta às reclamações dos aprendizes da fabrica de loiça, que pretendiam um aumento de salário há vários meses prometido e exigiam a libertação de dois camaradas injustamente presos, o fascismo pôs em prática as mais violentas medidas contra os operarios e contra todo o povo de Sacavem. Pôs Sacavem em estado de sítio fazendo invadir esta pacífica população [sic] por tropas numerosas da polícia, G.N.R. e polícia da Informa armados de mais de 40 metralhadoras.
Depois de cercarem a fabrica espancaram violentamente os operarios.
Foi tão barbara esta violencia que a mãe dum camarada, muito doente, faleceu, vítima da comoção sofrida. Um camarada foi assassinado.
O povo de Sacavem, em pêso, vibra de indignação contra estas prepotências do fascismo. E assim, esta luta que, a princípio, se resumia na luta pela melhoria da miseravel situação em que se encontravam os aprendizes, tornou-se com razão a luta de tôdo o povo de Sacavem contra o fascismo barbaro e assassino.
Não foi casualmente que a população de Sacavem ao ter conhecimento das dezenas de prisões que se efectuaram na fabrica, tocou os sinos a rebate e compareceu em massa em auxílio da parte agredida. Graças à intervenção rapida e massiva do povo, fôram restituidos à Liberdade 40 trabalhadores que já estavam sob prisão, ficando, no entanto, 25 que já tinham seguido para Lisboa.
Todas as pessoas honestas de Sacavem estão ao lado dos operarios e vêem claramente a sua razão.
Quem poderá, depois disto, esconder a verdadeira cara de assassino do govêrno de Salazar? Quem acreditará mais na demagogia fascista? Ninguem, certamente.
Para todos é claro que o fascismo quere reduzir a população laboriosa de Portugal a simples escravos, sem vontade, e sem direitos de especie alguma. Mas a essa tendencia bestial deve o povo trabalhador opor uma firme resistência organizada e uma vontade inquebravel de luta.
O fascismo é o inimigo fundamental de todos os povos.
Trabalhadores da fabrica de loiças de Sacavem, não vos submeteis [sic] à canga infamante que vos querem pôr.
Se fôsseis agora derrotados, os patrões desencadeariam contra as vossas condições de vida a mais violenta ofensiva.
Lutai até arrancar a vitória.
Povo de Sacavem. Êste caso não interessa só aos operarios das fábricas, mas a todos nós. Uni-vos todos, e como um só homem, exigi a liberdade dos presos!
Não permiti [sic] que tais violências se repitam em Sacavem.
Todos juntos lutar;
Pela liberdade dos presos!
Pela solidariedade às suas familias!
Pelo cumprimento das promessas feitas aos homens!"

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