© Clive Gilbert
Efígies de Herbert (1878-1962) e Laura Gilbert (1881-1962) modeladas em barro parian por Armando Mesquita (1907-1982).
O INÍCIO DE UMA CARREIRA NA FLS (XIII)
Os investimentos realizados na Sacavém até à década de sessenta permitiram que os materiais de construção (loiça sanitária, azulejos e mosaicos) tomassem a dianteira em termos de vendas globais da empresa.
Isto porque o período pós-Guerra veio dinamizar a construção em todo o país. O turismo também veio reforçar o sector da construção civil e, aqui, a Sacavém dominou o fornecimento aos novos hotéis, em particular aos das redes internacionais, tais como Sheraton, Holiday Inn, Hilton e Penta, mas também aos nacionais.
Naquela altura as vendas dos materiais da construção civil chegaram a representar cerca de 70% das vendas da empresa (55% para sanitários e 15% para azulejos e mosaicos), enquanto a loiça de mesa representaria 27,5% e a loiça decorativa uns meros 2,5%.
Entre o final dos anos sessenta e o princípio dos anos setenta tornou-se óbvio que seria indispensável a Sacavém passar por uma reestruturação, pois o espaço fabril onde se encontrava instalada, pelas razões já explicadas anteriormente, não permitia um desenvolvimento racional.
Nesta altura existia uma pequena produção de azulejos (cerca de 500 a 600 metros quadrados por dia) e uma ainda menor produção de mosaico de pavimento, claramente insuficiente perante a crescente procura de loiça sanitária, e uma produção de loiça de mesa com qualidade pouco concorrencial para enfrentar um mercado cada vez mais exigente em termos de qualidade e design.
Perante uma situação destas, que haveria a fazer? Em 1962 morreu Herbert Gilbert, o grande impulsionador da Sacavém nos anos 30 e nos difíceis anos da Segunda Guerra Mundial. O problema da gestão de meu avô era que ele centralizava tudo na sua pessoa, tentando controlar todas as áreas e trabalhando até às duas da manhã.
Assim sendo, meu pai Leland Gilbert, seu filho e continuador, concentrara-se num conjunto específico de produtos de loiça decorativa – tais como os cavaleiros medievais, a série de figuras da Guerra Peninsular (Invasões Francesas), as peças em loiça parian e a série Arte Nova, entre outras, que criaram um grande nome à Sacavém no estrangeiro mas pouco ou nada fizeram financeiramente pela empresa, pois a sua produção pouco representava em termos de vendas globais.
Como consequência desta situação, os investimentos que se seguiram foram manifestamente insuficientes para garantir um futuro seguro à empresa. Nesta altura, a Sacavém detinha ainda a Fábrica Cerâmica do Carvalhinho, em Vila Nova de Gaia. Esta, adquirida nos anos 30, fabricava azulejos, loiça sanitária e decorativa mas, tal como a Sacavém, também em pequenas quantidades.
Numa fase vital para o futuro da empresa, tomaram-se decisões pouco ambiciosas que propiciaram as condições para que se reestruturassem, e viessem a conquistar significativa quota de mercado, algumas empresas concorrentes, tais como a Valadares (1921), de V. N. de Gaia, a Estatuária Artística de Coimbra (1943) e a Ceres (1956), também de Coimbra, nos materiais de construção, ou se fundassem outras, como a SPAL (1965), de Alcobaça, na loiça de mesa.
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