Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém

Janeiro 13 2018

 

Pequena jarra bojuda, em pasta cerâmica vermelha e com cerca de 13 cm de altura, apresentando vidrado escorrido policromático.

 

Embora a marca não seja legível, parece corresponder a uma das marcas circulares da fábrica Bordalo Pinheiro, das Caldas da Rainha, do período posterior a Gustavo Bordalo Pinheiro (1867-1920) e à Fábrica San Rafael.

 

 

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Dezembro 22 2015

 

Vasco Lopes de Mendonça (1883-1963) formou-se em engenharia militar, fazendo carreira na área e aposentando-se enquanto técnico superior de engenharia da Câmara Municipal de Lisboa, mas dedicou também particular atenção à caricatura, à ilustração e à cerâmica.

 

Tal multiplicidade de interesses não será estranha ao facto de ter crescido, e ter sido educado, numa família, e num ambiente, de artistas e intelectuais.

 

Seu pai, Henrique Lopes de Mendonça (1856-1931), também militar de carreira, escritor e dramaturgo, elaborou em 1890, no auge do ultimato inglês, a letra de A Portuguesa, composição musicada por Alfredo Keil (1850-1907) que, após ser parcialmente expurgada no verso "Contra os britões marchar, marchar" para se tornar politicamente correcta, foi adoptada como hino nacional durante a I República.

 

Sua mãe, Maria Amélia Bordalo Pinheiro (datas desconhecidas), provinha da famosa família Bordalo Pinheiro onde, entre outros, se destacaram Columbano (1857-1929) e Rafael (1846-1905), irmãos de Maria Amélia, e o filho deste último, Gustavo (1867-1920).

 

Suas irmãs Vigínia Lopes de Mendonça (1881-1969) e Alda Lopes de Mendonça (1885-1962), destacaram-se também, como escritora e dramaturga, a primeira, e como rendeira, numa certa tradição Arts & Crafts, mas também reproduzindo desenhos de seus irmãos Vasco e Virgínia, a segunda.

 

 

Embora tenha obra reconhecida no desenho e na ilustração gráfica (http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/300833.html), áreas onde colaborou em alguns dos livros de sua irmã Virgínia, mas também em livros de Acácio de Paiva (1863-1944), Laura Chaves (1888-1966), Maria de Carvalho (1889-1973), Leonor de Campos (pseudónimo de Helena de Sousa Costa, datas desconhecidas), Emília de Sousa Costa (1877-1959), Graciette Branco (1905-?), Maria do Carmo Peixoto (1877-?), Vasco Lopes de Mendonça encontra-se ainda ligado à produção cerâmica.

 

Está documentada a sua colaboração com a fábrica Bordalo Pinheiro, das Caldas da Rainha, durante as décadas de 1940 e 1950, já muito depois do falecimento de Rafael e Gustavo Bordalo Pinheiro, para a qual modelou diversas estatuetas caricaturais.

 

Surgem neste conjunto várias figuras típicas da época ou da tradição portuguesa – alentejanos, boxeurs, cantadeiras, curas, galegos, guardas da GNR, guardas-nocturnos, lavadeiras, leiteiras, lusitos, marinheiros, meninos da Luz, polícias, regateiras, saloios, velhos e vendedeiras.

 

Mas também reconhecidas personalidades internacionais, como Adolf Hitler (1889-1945), Benito Mussolini (1883-1945), Josef Stalin (1878-1953), Nikita Khrushchev (1894-1971), e Winston Churchill (1874-1965).

 

Este último, para além daquela aqui apresentada, surge ainda na famosa versão em que é retratado com uma bengala, um bornal e capacete de guerra a tiracolo, apresentando na boca o inevitável charuto e saudando com um boné na mão do braço direito, erguido.

 

 

Está menos documentada e é menos conhecida, no entanto, a sua ligação à Fábrica de Loiça de Sacavém, ainda na década de 1940, empresa para a qual modelou algumas figuras de animais, que agora se reproduzem mas que já aqui haviam surgido (http://mfls.blogs.sapo.pt/45369.html), muito ao gosto quer da tradição dos contos populares quer de uma gramática caricatural que Walt Disney (1901-1966) recuperou daquela tradição.

 

Muito provavelmente, para além dos dois exemplares acima ilustrados, que correspondem aos números 368 e 368A da tabela de 1945 da FLS, Vasco Lopes de Mendonça terá modelado também mais algumas figuras de animais, bem como certas figuras caricaturais, algumas delas correspondentes às enunciadas anteriormente, que constam das tabelas de 1945 e 1951.

 

O artista foi homenageado postumamente, ainda em 1963, através de uma exposição retrospectiva realizada no Palácio Galveias, em Lisboa, onde se podiam observar vários óleos de Columbano retratando sua irmã e seu sobrinho Vasco e vários exemplos da arte deste – esculturas e medalhões em gesso, desenhos a lápis e a sanguínea, e aguarelas.

 

 

Faziam parte daquela exposição dezasseis vitrinas que, para além de mostrarem caricaturas, originais de ilustrações e exemplares de livros ilustrados pelo homenageado, exibiam ainda, em cinco delas, as mais de cinquenta obras que Vasco Lopes de Mendonça executou em faiança e terracota.

 

Embora no evento não surgisse qualquer referência à colaboração do autor com a FLS, algumas das peças então exibidas foram indubitavelmente produzidas por esta fábrica.

 

As imagens aqui reproduzidas a preto e branco foram retiradas do respectivo catálogo, onde surge ainda a fotografia de um conjunto de quatro patos, ilustrados abaixo, que certamente corresponderá ao conjunto 368B, "Grupo de patos humorísticos", referenciado nas tabelas de 1945 e 1951 da FLS.

 

 

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Agosto 19 2012

 

Prato em faiança da fábrica Bordalo Pinheiro, Caldas da Rainha, decorado com motivos marinhos em relevo – algas, amêijoas, um berbigão, um pequeno búzio, mexilhões e percebes.

 

Característico, como se sabe, da produção oitocentista e novecentista de diversas fábricas caldenses, este tipo de decoração é muitas vezes enriquecido com a adição de diversos peixes e crustáceos.

 

Escrevendo em Os Gatos (seis volumes publicados entre 1889 e 1894; citação efectuada a partir do volume 6, editado em 1992 pelo Círculo de Leitores) sobre a cerâmica de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) e a visita que efectuou às Caldas da Rainha em 27 de Setembro de 1892, Fialho de Almeida (1857-1911) declarou:

 

"A cerâmica de Bordalo abrange artefactos de louça caseira ou decorativa, azulejos, telha de cores, etc., constituindo a produção usual da fábrica, e obras de escultura, que são na desabrochante curva da vida artística do meu amigo a terceira grande fase monumental do seu talento."

 

 

Com efeito, pratos como este, que foi certamente produzido depois do falecimento de Rafael e seu filho Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro (1867-1920), mas seguia modelos executados em vida dos artistas, traduzem a convergência da produção bordaliana face à tradição cerâmica Caldense, a qual vinha na linha dos modelos quinhentistas do ceramista francês Palissy (1510-c.1590). 

 

Fialho de Almeida prosseguiu o seu texto no sentido de destacar não estas peças mais vulgares mas sim as figuras monumentais da Paixão de Cristo, executadas por Rafael para as capelas da mata do Buçaco, e a talha manuelina que foi adquirida nesse ano pelo rei D. Carlos (1863-1908; rei, 1889-1908).

 

Mas a dimensão da genialidade criativa e inovadora de Rafael na cerâmica define-se ainda com a monumental jarra Beethoven, com as figuras de movimento, com as peças únicas dedicadas a homenagear diversas personalidades, com as figuras de escárnio e maldizer produzidas entre o episódio do Ultimato (1890) e a captura (1895) do régulo Gungunhana (c.1850-1906) e com as inúmeras outras peças de cerâmica decorativa que a fábrica executou.

 

Um conjunto de sete pratos da colecção Berardo, utilizando essencialmente variantes da decoração aqui apresentada, pode ser visto no catálogo da exposição O Universo de Rafael Bordalo Pinheiro: da Caricatura à Cerâmica, realizada no Museu do Douro em 2009.

 

 

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Fevereiro 05 2012

 

Pequena jarra bulbosa em faiança da fábrica Bordalo Pinheiro, com cerca de 6,8 cm. de altura, decorada sob o vidrado e apresentando a escultura de um caranguejo aplicada em relevo.

 

Este é um formato comum na produção da fábrica, conhecendo-se peças semelhantes com maiores dimensões, nomeadamente com cerca de 8, 12 e 15 cm. de altura, mas sem a aplicação do caranguejo.

 

Pela data inscrita na base, 1908, vê-se que este é um exemplar produzido no ano em que a fábrica foi adquirida por Manuel Augusto Godinho Leal, embora ostente a marca de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) e seja característico da sua produção.

 

Como se sabe, o ceramista francês Bernard Palissy (1510-1590) celebrizou no século XVI a cerâmica com aplicações em relevo, entre as quais surgiam várias peças com motivos marinhos, criando imagens que foram posteriormente seguidas por vários centros cerâmicos europeus.

 

Já na China, durante o período Kangxi (1662-1722), os motivos com peixes e crustáceos surgiam com frequência nas características decorações pintadas a azul sobre o fundo branco da porcelana.

 

 

As artes japonesas, largamente difundidas no Ocidente durante as últimas quatro décadas do século XIX, vieram novamente avivar o interesse ocidental pelos motivos marinhos que surgiam profusamente nas mais pequenas peças do quotidiano japonês, como os okimono, os netsuke, as tsuba, bem como nas populares xilogravuras, quer em kakemono quer em surimono.

 

Esta pequena caixa japonesa, em bronze patinado com aplicações em latão, ilustra perfeitamente no exíguo espaço da sua tampa essa profusão de elementos marinhos – uma lagosta, uma amêijoa, um polvo, um caranguejo, três peixes e um mexilhão.

 

Em França, o consagrado ceramista Adrien Dalpayrat (1844-1910) criou também pequenas jarras ao gosto nipónico, com aplicação de crustáceos em relevo. Umas dessas peças, com uma sapateira (Cancer pagurus L.) aplicada sobre um vidrado vermelho de cobre, recorda o presente exemplar de Bordalo, salvaguardadas as devidas distâncias entre as qualidades e caraterísticas dos diferentes vidrados.

 

Ainda em França, no mesmo período, diferentes ceramistas, como Charles Greber (1853-1935), e diferentes fábricas, como a Denbac (cf. http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/tag/denbac e http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/tag/denbac), produziram peças com crustáceos  e motivos marinhos aplicados em relevo, prática que também ocorria no resto da Europa e nos EUA.

 

Entretanto, em Portugal, os motivos marinhos aplicados em relevo vieram a tornar-se uma das imagens de marca da cerâmica das Caldas da Rainha, em geral, bem como das peças de Rafael e seu filho Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro (1867-1920). 

 

Com a decoração desta pequena jarra estamos, portanto, perante uma imagem comum na cerâmica caldense e bordaliana.

 

 

Mas esta imagem vulgar ganha nova dimensão se recordarmos um dos desenhos de Manuel Gustavo publicado em A Paródia, número 30, de 8 de Agosto de 1900. 

 

Surgindo na primeira página da publicação, e incluído numa série de críticas às instituições e à situação do país, o desenho é acompanhado da legenda "O Progresso Nacional: o grande Caranguejo." 

 

Com este pano de fundo, a mordacidade crítica de Rafael e Manuel Gustavo não podem deixar de nos sugerir novas leituras das suas mais simples e, aparentemente, inócuas produções cerâmicas.

 

Vejam-se alguns desenhos destes autores nos seguintes espaços (as imagens truncadas podem ser visionadas na íntegra depois de guardadas): http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/?skip=10&tag=rafael+bordalo+pinheiro, http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/tag/manuel+gustavo+bordalo+pinheiro, e http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/tag/rafael+bordalo+pinheiro.

 

 

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