Cinzeiro em faiança da efémera fábrica Faianças GAL, de Lisboa.
Como é característica das peças desta fábrica, o formato, a decoração e as cores traduzem uma gramática declaradamente modernista.
© MAFLS
Cinzeiro em faiança da efémera fábrica Faianças GAL, de Lisboa.
Como é característica das peças desta fábrica, o formato, a decoração e as cores traduzem uma gramática declaradamente modernista.
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Bule em faiança, com cerca de 13,5 x 14,5 cm., decorado a aerógrafo e produzido pelas Faianças GAL, de Lisboa.
Na base apresenta a inscrição manuscrita Gal 223/39. Poder-se-ia pensar que este último numeral, 39, indicaria o ano de produção, mas de acordo com o Diário do Governo a fábrica apenas subsistiu entre 1935 e 1937 (http://mfls.blogs.sapo.pt/83667.html).
Note-se como este formato, indubitavelmente associável ao estilo Art Déco, corresponde mais a uma interpretação cerâmica da tendência de design das décadas de 1920 e 1930 que, particularmente nos EUA, veio a ser incluída na denominação genérica Machine Age Design.
Certamente influenciada pelos princípios teóricos do Manifesto Futurista (1909), de Marinetti (1876-1944), que consagrava a velocidade, a mecanização, a tecnologia e a industrialização, e pela subsequente vaga futurista que se desenvolveu na Europa, esta tendência terá sido complementada, nalguns formatos que traduziam uma abordagem mais mecanizada e industrializada dos objectos, pelos princípios teóricos e pelas práticas geometrizantes da Bauhaus e do movimento De Stijl.
Acima pode ver-se uma jarra produzida na empresa de Paul Milet (1870-1950), já na década de 1930.
A aplicação metálica em bronze cromado, que representa uma inovação relativamente às anteriores aplicações classicizantes exclusivamente executadas em bronze, traduz com fidelidade o espírito Machine Age, embora a impressão de estatismo dimanada desta jarra contraste com o dinamismo sugerido pelas formas do bule e pela sua decoração aerografada.
A bicromia da jarra Millet, curiosamente evocativa do clássico colorido dos táxis portugueses, apresenta um verde pouco vulgar na cerâmica, que epitomiza uma das cores preferidas para, através de outros materiais, complementar os cromados da década de 1930.
Para saber mais sobre a história da empresa Millet e a sua produção, veja-se o que MUONT publicou: http://modernaumaoutranemtanto.blogspot.pt/search/label/Paul%20Millet-S%C3%A8vres.
A imagem da peça das Faianças GAL consta do catálogo da exposição Portuguese Ceramics in the Art Deco Period, realizada nos EUA em 2005, e é da autoria do fotógrafo João Francisco Vilhena (n. 1965).
Note-se que a imagem original foi registada em película e posteriormente digitalizada, o que afectou a sua qualidade e não reflecte as características que uma impressão em papel fotográfico oferece.
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Jarra em faiança da fábrica Gal, moldada em relevo, com decoração a aerógrafo sobre o vidrado.
Note-se como a decoração em relevo evoca a gramática decorativa das jarras em vidro concebidas por René Lalique (1860-1945).
Actualmente desconhecida da maioria dos coleccionadores, a fábrica de Faianças Gal teve uma existência efémera durante a década de 1930. Fundada a 27 de Junho de 1935, a empresa registou a sua dissolução a 20 de Dezembro de 1937.
A fábrica localizava-se na Rua Alves Torgo, 279, em Lisboa, sendo o seu capital constituído por 30.000$00, divididos equitativamente por António Geraldes, Horácio Canto de Oliveira e José Canto de Oliveira. A quota de António Geraldes incluía maquinaria e equipamento de pintura para perfazer os 10.000$00.
Ultimamente, a memória desta empresa foi recuperada na exposição Portuguese Ceramics in the Art Deco Period, realizada nos EUA em 2005, que exibiu um bule modernista da sua produção, número 223/39, com decoração geométrica aerografada a verde e castanho, também sobre o vidrado.
Os raros exemplares desta fábrica que hoje são conhecidos apresentam, aliás, duas características comuns. Uma de origem – a decoração aerografada sobre o vidrado, outra decorrente da sua antiguidade e do uso − o grande desgaste da pasta, que é bastante mole e muito propícia a gerar diversas esbeiçadelas.
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