Um trabalhador exemplar
Quem visitar o Museu de Cerâmica de Sacavém poderá reparar num busto masculino em gesso, da autoria do escultor Armando Mesquita (1907-1982), actualmente colocado junto à base do forno número 18.
Trata-se de uma homenagem a Joaquim Baptista, chefe dos pedreiros da Sacavém.
Porquê esta homenagem? Por uma razão muito simples. Porque ele foi um trabalhador extraordinário. Trabalhou mais de cinquenta anos na empresa (com mais três irmãos) e nunca teve um dia de falta, nem qualquer baixa médica, muito menos um castigo a manchar a sua ficha profissional.
Como pedreiro, e mais tarde como encarregado, o seu trabalho exigia grande esforço físico pois os pedreiros tinham, entre outras tarefas, de reparar os fornos quando estes encravavam. Muitas vezes era preciso entrar neles com temperaturas ainda elevadas. Uma tarefa extremamente árdua! Sei do que falo pois também fiz este trabalho, uma vez, durante um estágio numa empresa de pavimentos cerâmicos, no sul da Inglaterra.
Ainda por cima, o Joaquim Baptista vivia bastante longe da fábrica, para onde tinha de ir a pé (transportes públicos, nessa altura, nem vê-los!). Por conseguinte, tinha de se levantar às 5 da manhã para estar na Sacavém às 7h00, hora do início do trabalho. Quando um dia o Joaquim ficou viúvo, viu-se ainda forçado a preparar o seu jantar quando chegava, já exausto, a casa...
A propósito da sua energia, contaram-me que, algum tempo depois, conheceu uma senhora, também viúva, que morava em frente à fábrica, no mesmo prédio do conhecido restaurante ‘O João da Ana’. O problema para o Joaquim era que ao fim do dia ele estava estoirado e não tinha nem forças nem vontade para estar com a senhora.
Sendo homem de grande determinação, e não querendo mudar-se para casa da senhora, o Joaquim Baptista resolveu a situação sem descurar aquilo que considerava serem as obrigações perante a sua própria casa. Passou a levantar-se uma hora mais cedo para assim poder estar na companhia da senhora antes de começar a trabalhar.
Quantos homens poderiam, hoje em dia, seguir este ritmo?! Uma horazinha num ginásio qualquer e ficamos arrasados!
© Clive Gilbert
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