Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém

Dezembro 06 2013

Diamantino Monteiro Pereira (1939-1982).

 

Devido à localização geográfica da empresa, em plena cintura industrial de Lisboa, a efervescência política do pós-25 de Abril de 1974 viria a ter, forçosamente, efeitos importantes na Sacavém. Estes prolongaram-se muito para além do 25 de Novembro de 1975.

 

À época, a Sacavém era uma das empresas mais antigas da zona, com um total de 1.240 trabalhadores, isto numa altura em que a generalidade da indústria cerâmica já vinha a atravessar um período de modernização tendente a transformá-la de indústria de mão de obra intensiva em indústria de capital intensivo.

 

Como consequência daquela situação política e laboral, não foi possível continuar de imediato os investimentos programados na produção dos azulejos e da loiça sanitária. Só depois de ultrapassado o pior dos efeitos do PREC, em 1977, foi possível retomar os investimentos naquelas duas áreas.

 

Infelizmente, neste curto espaço de tempo, entre 1974 e 1977, houve uma evolução nos processos técnicos de fabrico que a Sacavém não pode aproveitar pois já se tinha comprometido com os fornecedores do equipamento, tendo pago adiantadamente uma significativa tranche do investimento.

 

Apesar de tudo, com a entrada para a empresa de Diamantino Monteiro Pereira, como director-geral, foi possível retomar pelo menos o projecto da linha de fabrico da loiça sanitária.

 

No entanto, após cuidadosos estudos, chegou-se à conclusão que não seria possível enquadrar tal linha de produção na exígua área disponível nas tradicionais instalações de Sacavém, nem tal conviria em função dos movimentos sindicais mais radicais que afectavam a sua laboração.

 

Procurou-se, portanto, um terreno perto de Sacavém mas ao mesmo tempo fora da influência extremista de organizações e sindicatos de inspiração comunista, que tanta instabilidade trouxeram à empresa no período referido e que mais viriam a trazer, ainda, numa altura crítica para o projecto Sanicer, designação dada à empresa que iria ser instalada num terreno, com cerca de 130,000 m2, entretanto adquirido na zona do Carregado.

 

Diamantino Monteiro Pereira viria a ser assassinado em 6 de Dezembro de 1982, alegadamente devido à forma como geria a FLS.

 

© Clive Gilbert

© MAFLS

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Novembro 04 2013

Fotograma retirado do documentário já referido aqui: http://mfls.blogs.sapo.pt/90354.html

 

SACAVÉM… SEMPRE EM PRIMEIRO PLANO!

  

O actual Ministro da Economia, António Pires de Lima (n. 1962), esteve na semana passada (21 a 25 Outubro) em Londres onde foi entrevistado pela SkyNews e mais tarde por um canal português de televisão. Neste segundo caso, a entrevista teve lugar na Embaixada de Portugal em Londres, tendo a peça passado várias vezes na televisão nacional.

 

O mais curioso é que, como pano de fundo da entrevista, vê-se uma lareira e, por cima da mesma, um relógio de mesa. Ladeando este relógio era possível observar vários (dois de cada lado, salvo erro) oficiais cavaleiros, alusivos ao período da Guerra Peninsular, fabricados pela Sacavém! Como é geralmente sabido, estas peças foram lançadas no mercado na década de 1950, tendo sido concebidas por Leland Gilbert (1907-1979) e modeladas por Armando Mesquita (1907-1982).

 

Este pequeno episódio faz-me lembrar uma palestra que eu dei na sede da Anglo-Portuguese Society, em Canning House, Londres, edifício este a pouca distância da Embaixada de Portugal, em Belgrave Square. A comunicação que apresentei foi sobre os antecedentes britânicos da Sacavém e, consequentemente, entre as várias dezenas de assistentes à palestra apareceram meia dúzia de descendentes do barão Howorth de Sacavém (John Stott Howorth, 1829-1893; barão a partir de 1885), tendo alguns vindo até, propositadamente, da Irlanda, onde residem!

 

Na véspera do acontecimento a minha mulher e eu fomos convidados pelo senhor Embaixador de Portugal para almoçar na Embaixada. Durante o almoço reparei nos tais oficiais cavaleiros da Sacavém e observei que ficava muito satisfeito em os ver ali. Na sequência da conversa sobre a Sacavém e as tais figuras, a senhora Embaixatriz sugeriu que elas poderiam fazer parte da palestra em Canning House, embelezando a mesma. Assim foi, e no dia seguinte lá fui buscar as peças e, com enorme cuidado, transportei-as para o Anglo-Portuguese Society onde, pouco depois, fizeram as delícias de quem esteve presente no evento.

 

No final da palestra fomos convidados para jantar pela família Howorth, mas antes quis devolver os cavaleiros à Embaixada. No entanto, para surpresa minha, a senhora Embaixatriz, que tinha assistido à palestra, insistiu em ser ela própria a levá-los. Pelos vistos, ainda hoje continuam a ser muito bem cuidados!

 

© Clive Gilbert

© MAFLS

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Outubro 01 2013

Fotografia de Leland Gilbert publicada em 1950, na brochura comemorativa do centenário da Fábrica de Loiça de Sacavém.

Agradece-se a Hector Castro a cedência desta imagem, obtida a partir de um exemplar dessa publicação.

  

 O INÍCIO DE UMA CARREIRA NA FLS (XIV)

  

Perante a situação descrita no mês anterior, a Sacavém de certo modo teve alguma sorte pois a evolução económica do país a partir dos anos sessenta permitiu à fábrica aguentar a concorrência das novas empresas, quer na área dos materiais de construção, quer na área da loiça de mesa.

 

No entanto, num aspecto mais abrangente, a evolução tecnológica dos processos e a própria tecnologia do fabrico dos vários produtos cerâmicos estavam a sofrer alterações que, em certa medida, poderiam ser consideradas drásticas. Estas mudanças implicavam processos de fabrico totalmente distintos uns dos outros, embora a prensagem fosse comum a todos.

 

Se, por um lado, o fabrico do azulejo e do mosaico continuava a efectuar-se através da prensagem hidráulica, no caso da loiça sanitária a prensagem veio a realizar-se através do sistema isostático, processo bastante complexo que, na altura, veio a sobrecarregar a Divisão Técnica.

 

Com a reforma de meu pai, Leland Gilbert (1907-1979), no início dos anos setenta, ingressou na empresa, como administrador, Fernando Barros, pessoa que até aquele momento tinha colaborado na reorganização da Sacavém através da sua empresa de assistência, a SANA. Embora tenha conseguido alguns resultados positivos, a sua maneira de estar não agradou ao pessoal da empresa e quando veio o 25 de Abril de 1974 ele foi saneado pela Comissão de Trabalhadores.

 

Nessa altura Leland Gilbert sofreu de um aneurisma e teve de ser operado. No entanto, na véspera da intervenção cirúrgica, inesperadamente, o hospital foi ocupado pelos trabalhadores. Consequentemente, foi necessário arranjar outra solução.

 

Através de contactos na Inglaterra foi possível conseguir uma vaga num hospital que aceitou o seu internamento e onde posteriormente a operação decorreu satisfatoriamente. Embora ainda tivesse voltado uma vez a Portugal, meu pai resolveu ficar a viver no Reino Unido até à sua morte, ocorrida em Janeiro de 1979.

 

© Clive Gilbert

© MAFLS

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Fevereiro 16 2012

 

 

 

De acordo com o Diário do Governo, por escritura de 11 de Março de 1946, a FLS procedeu a um novo aumento do capital social, de 2.000.000$00 para 3.000.000$00, estando a subscrição desse capital definida da seguinte forma:

 

"Evelyne Maria Howorth, 1.497.000$00; 

 Rupert Beswicke Howorth, 1.500$00;

 Herbert Gilbert, 1.422.000$00;

 Leland Gilbert, 75.000$00; e

 Laura de Moura Teixeira Gilbert, 4.500$00"

 

Com um total de 1.501.500$00, ficou assim estabelecida a posição maioritária da família Gilbert no capital da FLS. Este aumento de capital havia sido decidido na assembleia geral da empresa realizada em 28 de Dezembro de 1944.

 

© MAFLS

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Janeiro 21 2012

 

 

 

De acordo com o Diário do Govêrno, por escritura de 17 de Abril de 1929, a FLS passou de "sociedade anonima de responsabilidade limitada" a "sociedade por cotas, de responsabilidade limitada", mantendo o seu capital de 2.000.000$00 assim subscrito:

 

"D. Elvira James Gilman, 679.000$00;

 Raúl Gilman, 180.000$00;

 D. Evelyne Maria Howorth, 618.000$00; 

 Rupert Beswicke Howorth, 1.000$00; e

 Herbert Gilbert, 522.000$00."

 

O artigo 4 dos novos estatutos estabelecia: "A denomição social continua a ser a mesma Fábrica de Louça de Sacavém e seguida da palavra Limitada."

 

O parágrafo 2 do artigo 7 indicava a gerência: "Ficam desde já nomeados gerentes efectivos os sócios Raúl Gilman e Herbert Gilbert, e substitutos João Hermenegildo Nogueira de Araújo, o Dr. Nuno de Moura Teixeira e José de Sousa." 

 

O parágrafo único do artigo 11 admitia ainda a possível entrada de mais membros da família Gilbert na gestão da empresa, pois estabelecia o seguinte: "Fica, desde já, expressamente autorizado o sócio Herbert Gilbert [1878-1962] a ceder uma parte da sua cota a seu filho Leland Herbert Gilbert [1907-1979], ficando, depois da cessão, constituindo [sic] duas cotas distintas".

 

© MAFLS

publicado por blogdaruanove às 21:01

Setembro 01 2009

 

Secção do Museu de Cerâmica de Sacavém que preserva no local original o forno número 18.

 

Fundada entre 1856 e 1859 na localidade de Sacavém, à época pertencente a Lisboa e a partir de 1886 ao então recém-criado concelho de Loures, a fábrica manteve durante décadas a mítica referência a 1850 como ano de fundação, tendo a administração celebrado oficialmente o seu centenário em 1950.

 

Não se conhece, contudo, documentação que consolide a referência de 1850 como data de fundação da empresa, pelo que actualmente se aceita 1856 como o ano em que Manuel Joaquim Afonso (1804-1871) procedeu à efectiva fundação da fábrica, embora João Teodoro Ferreira Pinto Basto (1870-1953), na sua obra A Cerâmica Portuguesa (1935), indique a data de 1859.

 

Antes de estabelecer esta empresa, Manuel Joaquim Afonso administrara a fábrica de vidros da Marinha Grande, que fora de John Beare (datas desconhecidas) e depois dos irmãos Stephens (Guilherme, 1731-1803, e João Diogo, 1748-1826), e a fábrica de vidros da Rua das Gaivotas, em Lisboa.

 

A permanência de Manuel Joaquim Afonso na empresa que fundara foi breve, tendo-a vendido entre 1861-1863 a John Stott Howorth (1829-1893; nomeado Barão Howorth de Sacavém em 1885). Logo após a morte deste último proprietário, os seus herdeiros estabeleceram uma parceria empresarial em comandita com James Gilman (1854-1921), antigo funcionário da fábrica.

 

John Stott Howorth teve descendêndia de três senhoras – Alice Rawstron (1831-1925), mãe de Alice Annie Howorth (nasceu e faleceu em 1859); Henriquete da Conceição Almeida (datas desconhecidas), mãe de João George Howorth (1865-?) e Henrique Almeida Howorth (1868-?); e Maria Margarida Pinto Bastos (1866-1916; registos alternativos referem 1936 como data de falecimento), mãe de John Pinto Stott Howorth (?-1949), Mary Stott Howorth (1890-1977) e Henrique Anthony Stott Howorth (1891-1981).

 

Embora este assunto esteja longe de ser consensual, algumas fontes referem que foi Maria Margarida Pinto Bastos quem usou o título de Baronesa Howorth de Sacavém, e não Alice Rawstron, o que parece consentâneo quer com as suas datas de maternidade quer com a data em que o título foi conferido a John Stott Howorth.

 

No entanto, nem ela (entretanto falecida?) nem nenhum dos seus descendentes surgiam como accionistas da FLS entre 1922 e 1946, ao contrário do que acontecia com Alice Rawstron, que, com o apelido Howorth, surgia ainda como accionista da FLS em 1922.

 

Espaço envolvente do Museu de Cerâmica de Sacavém.

 

Após a morte de James Gilman, sucedeu-lhe na orientação da fábrica seu filho Raul Gilman (?-1935), em associação com Herbert Gilbert, tendo a fábrica sido administrada até ao seu encerramento por três gerações desta última família, que entretanto se tornara proprietária da FLS  –  Herbert Gilbert (1878-1962), Leland Gilbert (1907-1979) e Clive Gilbert (n. 1938).

 

Depois de um período áureo que se desenvolveu até princípios da década de 1970, a fábrica acabou por encerrar, segundo algumas fontes em 1983 (embora se conheçam peças datadas de 1986...), segundo fontes mais fidedignas, como Clive Gilbert e o MCS, em 1989, tendo a falência judicial sido declarada em 1994.

 

Contudo, segundo os registos do MCS, cerca de meia centena de trabalhadores garantiram o funcionamento da empresa entre 1989 e 1994.

 

No local onde originalmente se encontrava a fábrica desenvolveu-se uma urbanização que, entre as contrapartidas negociadas pelo município com a empresa construtora, promoveu a preservação de um pequeno espaço da zona fabril, onde se veio a implantar o Museu de Cerâmica de Sacavém (http://www.cm-loures.pt/aa_patrimonioredemuseussacavema.asp), inaugurado em 2000.

 

Este museu integrou parte dos arquivos da antiga FLS no acervo do Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso (http://www.ipmuseus.pt/pt-PT/rpm/museus_rpm/admin_local/PrintVersionContentDetail.aspx?id=1234) e apresenta algumas centenas de peças da produção da fábrica, promovendo ainda exposições e actividades regulares de divulgação da história, do património e do saber-fazer na cerâmica.

 

O Museu Nacional do Azulejo (http://mnazulejo.imc-ip.pt/) é também depositário de parte do património cerâmico da Fábrica de Loiça de Sacavém, conservando nas sua reservas exemplares de particular relevância na história dos vidrados, da modelagem e das diversas técnicas da fábrica.

 

Em 2007 constituiu-se a Associação Amigos da Loiça de Sacavém, que conta entre os seus associados com Clive Gilbert, último administrador e proprietário da fábrica.

 

Veja mais algumas fotografias do exterior do museu aqui: http://www.trekearth.com/viewphotos.php?l=3&p=1018222 e aqui: http://www.trekearth.com/gallery/Europe/Portugal/South/Lisboa/Sacavem/photo883468.htm.

 

Uma das entradas do Museu de Cerâmica de Sacavém.

 

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publicado por blogdaruanove às 09:01

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