Para encerrar a série The Twelve Days of Christmas de 2014/2015, e no contexto do vigésimo quinto aniversário da queda do Muro de Berlim, apresentam-se algumas peças posteriores ao período delimitado entre o estilo Arts & Crafts e o estilo Art Déco.
São peças de produção húngara e soviética, que traduzem um nicho de coleccionismo cerâmico que se tem vindo a desenvolver em torno da produção da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e dos países da Europa Central e de Leste que integravam o denominado bloco comunista.
Acima, uma peça da fábrica húngara Hollóháza, fundada em 1831, com cerca de 29,8 cm. de altura, abaixo uma peça da fábrica soviética Lomonosov, fundada em 1744, com cerca de 12,8 x 14,8 x 9,4 cm., e no final do artigo uma jarra da fábrica húngara Zsolnay, fundada em 1853, com cerca de 19,8 cm. de altura.
A produção cerâmica deste período, desenvolvida aproximadamente entre 1918 (ano em que o Narkompos, o Comissariado do Povo para a Educação Pública, assumiu a administração da fábrica posteriormente denominada Lomonosov) e 1991, caracteriza-se por três fases distintas.
As duas primeiras correspondem à produção exclusivamente soviética, que na primeira fase esteve ligada ao Suprematismo e ao Construtivismo e na segunda à intervenção reguladora da arte pelo Estado, instaurada por Estaline (Iossif Vissarionovitch Djugashvili, conhecido como Stalin [aço, de aço], 1879-1953) na década de 1930, intervenção essa que consolidou aquilo que se veio a denominar como Realismo Socialista.
O Suprematismo, que preconizava o abstraccionismo geométrico absoluto, supremo, teve como expoentes, entre outros pintores e outras pintoras, Kazimir Malevich (1878-1935) e Nicolai Suetin (1897-1954) e, já numa vertente mais próxima dos conteúdos ideológicos e propagandísticos do Construtivismo, El Lissitzky (1890-1941; cf. http://mfls.blogs.sapo.pt/153365.html).
Curiosamente, a VA veio a reproduzir, na década de 1970, por encomenda, um conjunto de chávena de chá e pires, e um bule, com a seguinte inscrição "VA Vista Alegre Portugal / Mottahedeh / © The Museum of Modern Art, New York / Reproduction of a teapot decorated with suprematist designs by Nicolai Suetin and manufactured by the Petrograd Porcelain Factory [Lomonosov], 1923"
A terceira fase deste período de cerca de sete décadas corresponde ao pós-guerra e está representada pela produção de todos os países que, depois de 1945, passaram a integrar o bloco comunista.
A figura feminina da fábrica Hollóháza (http://www.hollohazi.hu/), concorrente tardia, na produção de peças decorativas, das mais conhecidas e consagradas empresas húngaras Herend e Zsolnay (cf. http://mfls.blogs.sapo.pt/twelve-days-in-twelve-hours-xii-341795.), traduz uma das tendências comuns a vários estados ditatoriais europeus durante o século XX – a recuperação e revalorização de figuras e imagens associadas a motivos populares e folclóricos.
Em Portugal, esta tendência foi dinamizada pela acção do SPN/SNI, e verifica-se que também ocorre, entre outras, na produção da Aleluia, da FLS, da Secla, da SP de Coimbra e da VA.
A segunda figura representa um pioneiro da juventude comunista, através de uma peça da fábrica Lomonosov que se destinava apenas ao mercado interno, conforme se comprova pela marca aplicada exclusivamente em cirílico.
A fábrica apenas recebeu esta designação em 1925, por ocasião do bicentenário da Academia Russa das Ciências, sendo a marca aqui reproduzida, que foi desenhada por A. A. Yatskevich (1904-1952), aplicada entre 1936 e 2005. A partir deste ano, a fábrica recuperou a designação Imperial Porcelain, passando a apresentar a águia bicéfala imperial na sua marca.
Algumas fontes referem que as marcas da Lomonosov estabeleciam uma gradação de qualidade consoante a sua cor – vermelho para a primeira qualidade, azul para a segunda e verde para a terceira. Mas este não é um sistema invariável e sem excepções, pois qualquer peça que apresentasse o complemento IC era sempre considerada de primeira qualidade, independentemente da cor da marca aplicada.
Finalmente, a última peça, da fábrica húngara Zsolnay, produzida já em 1982, traduz plenamente a exaltação do trabalho e dos operários, característica do Realismo Socialista.
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