Estavam estas peças reservadas para um trocadilho, fácil, a realizar no Outono deste ano.
Mas os acontecimentos desta semana justificam a sua publicação agora, com outro valor metafórico, porque nos querem transformar em coelhos acossados e assustados.
A tradicional e assustadora imagem do homem do saco surge aqui transformada na imagem do homem do cajado, que ora o maneja como instrumento para não deixar sair carneiros e ovelhas do rebanho, ora para os reconduzir ao seu seio. Ou ainda para esmagar, de uma só cajadada, mais de um coelho.
E a maior homenagem que se pode fazer às vítimas dos atentados desta semana, particularmente aos desenhadores e cartoonistas e à sua luta pela diferença e pela liberdade, é não nos deixarmos iludir ou limitar, ainda mais, nas nossas liberdades e garantias individuais, a pretexto de maior prevenção e maior segurança colectiva.
Nos últimos anos, a nossa liberdade já foi limitada a pretexto da crise económica e financeira e da alegada necessidade de uma austeridade específica e particular. Na última década, a pretexto de uma maior segurança global – veja-se a facilidade com que actualmente os governos acedem a informação privada dos cidadãos, sem indignação ou contestação, através dos seus telemóveis ou das suas contas nas redes sociais.
Homenageiem-se as vítimas, e os valores de liberdade que defendiam, não se criem novos pretextos para atacar ainda mais esses valores.
© MSP / Mauricio de Sousa Produções
Como o artigo de hoje quase não é sobre cerâmica, nem essa é a prioridade, deixa-se apenas a informação de que a figura do coelho azul é da Electro-Cerâmica do Candal e as argolas de guardanapo são da VA, com marca do período de 1922-1947.
Vejam-se variantes cromáticas da peça do Candal aqui: http://mfls.blogs.sapo.pt/31762.html.
Bravo, Charlie!
© MAFLS