Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém

Setembro 01 2023

 

 

Pote com tampa, com cerca de 21,2 cm. de altura, em porcelana da fábrica alemã LHR, Lorenz Hutschenreuther, abreviadamente conhecida como Hutschenreuther.

 

Esta fábrica foi fundada em 1857, na localidade de Selb, por Lorenz Hutschenreuther (1817-1886), vindo a empresa a absorver depois, entre 1906 e 1928, várias outras fábricas.

 

Em 1969 ocorreu a fusão entre a Porzellanfabriken Lorenz Hutschenreuther e a C. M. Hutschenreuther, de Hohenberg, sendo este conglomerado absorvido, no ano 2000, pela também famosa Rosenthal.

 

 

 

Tal como se pode constatar, o pote ostenta, apenas no seu corpo bojudo, um monograma heráldico que ainda não foi possível identificar.

 

No tardoz, verifica-se que esta peça foi concebida por Fritz Klee (1876-1976), director da escola artística para a indústria de porcelana, fundada por si em Selb, no ano de 1909.

 

Klee foi também director artístico da Lorenz Hutschenreuther, entre 1917 e 1922, continuando a colaborar com a empresa na concepção de várias peças até 1939, ano em que se mudou para Stuttgart.

 

Conhecem-se versões deste pote em azul cobalto com complementos a ouro.

 

 

 

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Dezembro 31 2016

Mostruário ilustrando a palete de cores serigrafadas a alto-fogo disponível para os serviços de mesa e hotelaria da Rosenthal nas décadas de 1980 e 1990.

 

A Rosenthal, que já tinha dedicado desde finais do século XIX particular atenção aos motivos e às formas contemporâneas, quer através de peças decorativas quer através de peças funcionais, estas últimas exemplificadas no formato Donatello (http://mfls.blogs.sapo.pt/outras-fabricas-outras-loicas-cclxii-349762), veio a afirmar-se ao longo do século XX como uma das principais fábricas de porcelana focadas na contemporaneidade e na proposta de formas e decorações inovadoras e de vanguarda.

 

Assim, iniciou o século, e o seu primeiro quartel, com uma produção, em particular a proveniente da sua secção de arte (kunstabteilung), que traduzia perfeitamente o zeitgeist, e encerrou-o, no seu último quartel, com as múltiplas propostas de diferentes formas e decorações congradas nas suas peças studio-linie.

 

Este artigo pretende ilustrar, pois, algumas das peças que traduzem a notável produção da Rosenthal quer no início do século XX quer no seu final.

 

 

Acima reproduz-se uma pequena caixa em porcelana, com cerca de 4,6 x 13 x 10 cm., apresentando sumptuosa decoração da série Indra, correspondente ao motivo 35, aqui aplicada sobre o formato número K597.

 

As séries Asra e Indra, ostentando uma peculiar estética Art Déco inquestionavelmente relacionada com os feéricos décors criados por Léon Bakst (1866-1924), e outros artistas, para os famosos Ballets Russes, foram concebidas pelo consagrado Kurt Wendler (1893-1980) e lançadas em 1919, na Feira da Primavera de Leipzig.

 

O desenho original para o motivo 35, neste mesmo formato, pode ver-se abaixo.

 

 

De seguida, apresenta-se uma jarra, com cerca de 16,8 cm. de altura, ostentando decoração floral, algo estilizada, ao gosto Art Déco.

 

A impressão de tridimensionalidade que emana desta decoração deve-se mais à técnica pictórica aplicada sob o vidrado, que parece sublinhar a pintura manual com alguns leves traços de aerógrafo, do que ao subtil relevo patente na pasta de porcelana.

 

Apesar de não ostentar a marca complementar correspondente aos anos de guerra,1914-1918, esta jarra apresenta a grafia "Kunst Abteilung" aplicada nas peças de 1918, o que, contrastando com a erupção cromática surgida em 1919 nas séries Asra e Indra, poderá explicar as tonalidades sóbrias e sombrias da sua decoração.

 

 

A mesma tendência para concentrar a decoração na base da jarra pode ser encontrada ainda num motivo datável de 1925, também de inspiração floral, embora mais estilizado e policromático – o D946, da fábrica belga Boch Frères / Keramis (http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/boch+fr%C3%A8res) e numa peça muito posterior da própria Rosenthal, já de final da década de 1960, com um motivo concebido pelo artista plástico francês Alain Le Foll (1935-1981).

 

Conforme referido, o último quartel do século XX foi marcado pela produção das peças studio-linie, que veio ocupar parte do espaço anteriormente abrangido pela secção de arte (kunstabteilung). Estas peças foram criadas e decoradas por inúmeros designers consagrados, oriundos não apenas das predominantes escolas escandinava e italiana, mas também das escolas alemã, americana, francesa e neerlandesa, entre outras.

 

 

Embora a Rosenthal tenha comercializado várias peças no âmbito da influência escandinava e de algumas das suas figuras de proa, como Bjørn Wiinblad (1918-2006), Tapio Wirkkala (1915-1985) ou Timo Sarpaneva (1926-2006), a verdade é que na sua produção do último quartel do século XX se registou certa predominância de alguns nomes da escola italiana.

 

Nesse contexto, pode ver-se acima um castiçal intitulado Il Faro Torre "Pilsum", em edição numerada e limitada a 2.000 exemplares, concebido em 1994 por Aldo Rossi (1931-1997).

 

Esta peça foi concebida em cerâmica e cristal, servindo o corpo cerâmico como base para o copo de cristal do castiçal que, para receber a vela, deve ser invertido e novamente encaixado no corpo cerâmico.

 

 

Nas últimas décadas do século, contudo, um dos ícones da Rosenthal foi o conjunto de pires e chávena de café intitulado Espresso-Sammeltasse (comercializado no mundo anglófono como "Cupola Espresso Collector's Cups") modelado nos finais da década de 1980 pelo arquitecto e designer italiano Mario Bellini (n. 1935), formato que, no decurso dos anos seguintes, veio a ser decorado por dezenas de diferentes artistas.

 

Acima pode ver-se um desses exemplares, com uma decoração minimalista, de grande efeito, da autoria do também aclamado arquitecto e designer italiano Marcello Morandini (n. 1940; cf. http://www.morandinimarcello.com/it/home/).

 

Correspondendo ao número 12 da série Espresso-Sammeltasse, este exemplar apresenta ainda, no pires, o logótipo da Mostra Internacional de Design, MID 1991, promovida em Portugal pelo grupo empresarial Dimensão.

 

 

Mas na área da aproximação artística à criação de chávenas e pires, a Rosenthal atingiu a sua maior versatilidade e consagração na série Künstlertasse (denominada em Inglês como "Artists' Collector's Cups"), que apresentou dezenas de diferentes formatos concebidos e decorados por distintos artistas.

 

Apresenta-se acima um desses notáveis formatos, concebido pelo renomado designer, também italiano, Lino Sabattini (1925-2016), que, entre outros epítetos, aceitava ser conhecido como um "artesão sonhador" (http://linosabattini.com/).

 

Corresponde este conjunto à peça número 17 da série Künstlertasse.

 

 

 

De seguida, apresenta-se um açucareiro da linha Flash, concebida em 1982 por Dorothy Hafner (n. 1952; http://www.dorothyhafner.com) e comercializada a partir de 1984.

 

Característica do período pós-modernista no seu auge, esta linha traduz plenamente essa gramática, quer no formato quer na decoração, e representa talvez a mais famosa das criações desta designer americana.

 

Dorothy Hafner concebeu também a peça número 5, decorada apenas a preto e branco, da série Künstlertasse.

 

 

Finalmente, reproduzem-se um jarra, com cerca de 25,7 cm. de altura, e uma peculiar taça, com cerca de 11 x 20,4 e 12,2 de diâmetro máximo, apresentando formatos e motivos criados pelo consagrado artista e ceramista francês Gilbert Portanier (n. 1926; cf. http://www.gilbertportanier.com/.).

 

A decoração da jarra denomina-se Liguria, correspondendo a taça à peça número 15 da série Künstlertasse.

 

 

A encerrar, apresenta-se abaixo um registo diacrónico de marcas Rosenthal patentes em algumas das peças que se reproduzem neste artigo.

 

 

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Janeiro 03 2016

 

Pequena caixa em porcelana lapidada da VA, concebida pela designer Diana Borges (datas desconhecidas).

 

Para além das três peças que integram a série Plissé (http://red-dot.de/pd/online-exhibition/work/?lang=en&code=04-03248-2015&y=2015&c=181&a=0), também o serviço de mesa Orquestra (http://red-dot.de/pd/online-exhibition/work/?lang=en&code=04-05173-2015&y=2015&c=181&a=0) da VA recebeu galardão semelhante em 2015.

 

Diana Borges concluiu a sua licenciatura em Design de Comunicação e Técnicas Gráficas, em 2005, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Portalegre, tendo depois ingressado na SPAL, onde criou um conjunto, denominado Blue Rain, que também foi distinguido no concurso Design Plus 2010 (http://dbdesign.blogs.sapo.pt/780.html).

 

 

O Red Dot Design Award (http://en.red-dot.org/71.html) é concedido anualmente pelo Design Zentrum Nordrhein Westfalen, sedeado em Essen, na Alemanha, a objectos e projectos enquadráveis em trinta e uma diferentes categorias. Para o galardão de 2015 o painel de jurados foi constituído por vinte elementos, das mais diversas nacionalidades.

 

Como se pode verificar pela imagem apresentada abaixo, a série Plissé, quanto ao seu formato, evoca claramente caixas semelhantes da série Sarastro, lançada pela fábrica alemã Rosenthal e celebrizada pela sumptuosa decoração alusiva à ópera Die Zauberflöte, de Mozart (1756-1791), concebida pelo dinamarquês Bjørn Wiinblad (1918-2006).

 

 © Rosenthal

 

A grande inovação da série Plissé é a conjugação da tradicional técnica cerâmica com a intervenção dos lapidadores da Atlantis, resultando em peças que aliam uma exaustiva intervenção característica da indústria vidreira a um design onde os efeitos escultóricos são acentuados pela alternância de luz e sombra resultante do relevo da lapidação. 

 

A combinação das técnicas cerâmicas e vidreiras passou a ser aplicada na produção da VA quando a Atlantis integrou o grupo, havendo no início deste século sido lançadas já duas jarras globulares, uma com fundo negro, outra com fundo branco, onde a aplicação de dois círculos lapidados, não concêntricos e de diferente diâmetro, constituía o principal motivo decorativo das mesmas.

 

 

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Novembro 28 2015

 

Conjunto individual de chávena e prato para torradas em porcelana da Electro-Cerâmica do Candal.

 

Correspondendo a uma tendência que se desenvolveu na Europa e nas Américas a partir de finais do século XIX, e se manteve durante a primeira metade do século seguinte, estes conjuntos eram predominantemente destinados a um serviço individual de pequeno-almoço ou lanche.

 

Em Portugal, conjuntos similares, mas com diferentes formatos, foram também produzidos em porcelana quer pela Sociedade de Porcelanas, de Coimbra, quer pela Vista Alegre.

 

Este conjunto apresenta, no seu prato de torradas, quer no rebordo, quer no relevo interior, sinuosidades características dos curvilíneos formatos Art Nouveau.

 

 

No entanto, uma observação atenta da chávena permite verificar que este exemplar comercializado pela EC replica o famoso formato Jugendstil (em alemão, equivalente ao galicismo Art Nouveau) denominado Donatello, que originalmente havia sido lançado pela fábrica alemã Rosenthal.

 

Acima reproduz-se uma chávena de café dessa fábrica, onde se pode encontrar uma decoração modernista que, ilustrando embora o tradicional prestígio do azul cobalto associado à porcelana, antecipa o minimalismo repetitivo de décadas mais recentes.

 

Ao contrário do que se verifica na conservadora versão floral aplicada no conjunto do Candal, a simplicidade deste motivo traduz bem um renovado espírito geométrico favorecido por algumas escolas pioneiras, como a escocesa Glasgow School of Art, fundada em 1845 mas com o seu apogeu oitocentista a ocorrer na última década desse século, em paralelo com a ascensão do consagrado Charles Rennie Mackintosh (1868-1928), a austríaca Wiener Secession, fundada em 1897, ou a alemã Bauhaus, fundada já em 1919.

 

 

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Agosto 08 2015

 

Pequena jarra, com cerca de 6,1 cm. de altura, em faiança da fábrica Aleluia, de Aveiro. 

 

Como MUONT demonstrou recentemente, este formato inspirou-se num modelo que terá tido origem na consagrada fábrica alemã Rosenthal (http://modernaumaoutranemtanto.blogspot.pt/2015/07/jarra-art-deco-com-tres-asas-pequena.html), embora a Vista Alegre também tenha produzido um formato semelhante, com quatro asas, a partir do final da década de 1930.

 

Através desta peça pode comprovar-se como a decoração apresentada, embora em faiança, reproduz fielmente a simples e elegante decoração minimalista patente no modelo em porcelana da Rosenthal.

 

Curioso é constatar que a Aleluia apenas tenha optado por esta réplica do original, correspondente ao formato 273, numa fase mais tardia da sua produção e em dimensões ainda mais reduzidas do que as dos formatos 20 e 21.

 

Esta opção tardia poderá relacionar-se com o domínio de certas técnicas de vidrado que a Aleluia adoptou predominantemente na década de 1950 (http://mfls.blogs.sapo.pt/154322.html), conhecendo-se um cinzeiro com este vidrado e a referência X-261-AA (http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/371206.html), que ostenta a marca do cinquentenário da fábrica (1955).

 

 

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Julho 26 2015

 

Pequena taça promocional, com cerca de 9,9 cm. de diâmetro maior, em porcelana da SPAL.

 

Esta peça recente apresenta os nomes de diversos ceramistas e designers, nacionais e internacionais, que, ao longo das cinco décadas de existência da empresa, têm colaborado com a SPAL.

 

Para além de Mary Lou Goerzen (n. 1929), que já aqui foi referida (http://mfls.blogs.sapo.pt/outras-fabricas-outras-loicas-ccxlix-349090), nesta taça são também evocados Gerard [sic] Gullota (n. 1921), Stefanie Hering (n. 1967), Lauren Horwitz (datas desconhecidas), Martin Hunt (n. 1942), Carl Gustaf Jahnsson (n. 1935), António Mira (datas desconhecidas), Jack Prince (n. 1926), David [Douglas, marquess of] Queensberry (n. 1929), Rosaria Rattin (datas desconhecidas), Alda Tomás (n. 1970; cf. http://www.remadeinportugal.pt/default/designers/ver/ano/2012/id/5) e Rezzan Unver (datas desconhecidas). 

 

Nas últimas três décadas do século XX, o americano Gerald Gullota desenhou ainda peças de vidro e cristal para as fábricas de Alcobaça Crisal e Atlantis (https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/artists/9806/Gerald_Gulotta), integrando esta última, actualmente, o grupo Vista Alegre Atlantis. 

 

 

A maioria destes artistas desenvolve criações para outras áreas do design e ainda para diversas outras fábricas de cerâmica, como o inglês Martin Hunt que criou o conjunto de taça e pires em porcelana, acima ilustrado, para a consagrada fábrica alemã Rosenthal.

 

Os nomes patentes nesta taça não esgotam, contudo, a totalidade dos artistas que durante o último meio século colaboraram com a SPAL. Entre os portugueses, por exemplo, conceberam motivos para as suas peças, encomendadas por outras instituições, Lima de Freitas (1927-1998) e João Machado (n. 1942), devendo notar-se que também o pintor Luís Pinto-Coelho (1942-2001) criou em 1988 o motivo Palácio de Anglona, cuja designação deriva do homónimo palácio madrileno onde residia, para um serviço distribuído pela empresa Braz & Braz (http://www.brazebraz.pt/). 

 

Ao longo destas cinco décadas, a SPAL desenvolveu ainda diversas criações personalizadas para inúmeras empresas e instituições, nacionais e internacionais, algumas delas já desaparecidas, como a Torralta.

 

Desenvolveu também vários serviços de bordo para os aviões da TAP, empresa que, no ano do seu septuagésimo aniversário, acaba de ser privatizada e tem uma exposição que lhe é consagrada no MUDE, Museu do Design e da Moda (http://www.mude.pt/).

 

 

A TAP encomendou diferentes peças a, pelo menos, seis fábricas portuguesas de cerâmica – Carvalhinho, Fábrica de Loiça de Sacavém (http://mfls.blogs.sapo.pt/13526.html), Faiart, Gresval, SPAL e Vista Alegre, sendo esta última aquela que actualmente fornece o seu serviço de bordo Top Executive.

 

A Vista Alegre forneceu também esse serviço entre 1962 e 1974, seguindo-se um período, entre 1974 e 1979, em que tal fornecimento foi assegurado quer pela SPAL quer pela VA. Foi ainda no primeiro destes períodos, em 1966, que a VA desenvolveu, para a TAP, oito travessas ilustrando outros tantos motivos diferentes com danças regionais.

 

Durante mais de vinte e cinco anos, contudo, o serviço de bordo foi assegurado em exclusivo pela SPAL, nomeadamente entre 1980 e 2006. Neste período, a SPAL apresentou dois conjuntos diferentes, um entre 1979 e 2001, outro entre 2002 e 2006.

 

Acima apresentam-se três das peças que integravam o conjunto utilizado a partir de 1979, numa simples mas elegante e luxuosa combinação de ouro e azul cobalto, ostentando já o novo logótipo da TAP que havia sido adoptado nesse mesmo ano.

 

 

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Janeiro 11 2014

 

Pequena jarra antropomórfica em faiança, com cerca de 17,6 cm. de altura.

 

Embora apenas apresente a inscrição MADE IN PORTUGAL na base, sabe-se que esta peça foi produzida na fábrica Pedros, em Alcobaça, muito provavelmente na década de 1960.

 

A modelação e a decoração desta figura recordam muito o espírito das peças produzidas pela ceramista sueca Lisa Larson (http://lisalarsonsweden.com/home/en), mas também, como CMP* referiu, a linha de algumas das obras e dos desenhos do consagrado ceramista dinamarquês Bjørn Wiinblad  (1918-2006).

 

 

 

Acima podem ver-se duas placas em faiança, com cerca de 15,3 cm. de diâmetro, apresentando desenhos de Wiinblad – à esquerda intitulada Nocturne, aludindo ao mês de Julho, e à direita intitulada Bye-Bye, aludindo ao mês de Agosto.

 

Apesar de Wiinblad ter tido a sua obra amplamente divulgada e consagrada depois de passar a colaborar com a fábrica alemã de porcelana Rosenthal, a sua obra cerâmica tinha anteriormente começado a ser lançada em Nymölle, na Dinamarca, onde estas duas placas foram produzidas.

 

     

 

Como se pode constatar ainda nas duas peças ilustradas acima, com a passagem da fábrica Nymölle para a Rosenthal, a exuberância do desenho de Wiinblad passou a estar associada à exuberância cromática que a porcelana permite e ainda à sumptuosidade do ouro, muitas vezes associada também à da prata e do cobre.

 

A taça da esquerda, com cerca de 16,2 cm. de diâmetro e decoração intitulada Quatre Couleurs, exemplifica essa combinação de metais associada ao relevo da porcelana. Já a taça da direita, com cerca de 26cm. de diâmetro e assinatura de BW datada de 1973, ilustra a exuberância cromática associada à exuberância do desenho.

 

Vejam-se duas outras peças desta série da Pedros, apresentadas por CMP*, aqui: http://ceramicamodernistaemportugal.blogspot.pt/2012/09/jarras-antropomorficas-pedros-lda.html.

 

 

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Dezembro 15 2011

 

Num ciberespaço com as actuais características de propagação viral de imagem e texto, cem mil visitas representam certamente um número insignificante.

 

Insignificância que se acentua se considerarmos que este número, largamente suplantado num só dia por visitas a qualquer vídeo, fotografia ou artigo de actualidade aparecido na net, apenas foi atingido ao fim de mais de dois anos.

 

Mas para um espaço específico como este, dedicado quase exclusivamente ao património português e, dentro dele, à restrita temática da cerâmica, tal número não deixa de ser significativo.

 

A peça escolhida para marcar esta efeméride é uma escultura em porcelana representando um cabrito, com cerca de 19 x 17 cm., produzida pela fábrica alemã Rosenthal (http://www.rosenthal.de/).

 

Correspondendo ao formato 836, esta peça foi modelada pelo consagrado escultor português João da Silva (1880-1960; cf. http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/85920.html), que produziu uma das escassas peças cerâmicas de autoria portuguesa comercializadas por fábricas estrangeiras no século XX, durante o período que decorreu entre as duas guerras mundiais.

 

Nesse percurso internacionalmente reconhecido de modelação cerâmica, João da Silva foi ainda acompanhado pelo também consagrado Ernesto do Canto da Maia (1890-1981) e pelo brilhante, mas entretanto esquecido, Correia Dias (1892-1935; cf. http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/tag/correia+dias).

 

Embora Canto da Maia tivesse modelado diversas peças em terracota, incluindo algumas das suas obras maiores (cf. http://tv1.rtp.pt/noticias/?headline=20&visual=9&tm=4&t=Exposicao-de-Canto-da-Maia-no-Palacio-Galveias.rtp&article=347825), a sua obra cerâmica industrializada foi essencialmente marcada pela criação de uma máscara feminina com acabamento craquelé, reproduzida abaixo e comercializada em França pelas empresas Guillard e Robj.

 

 

Este momento também não deixa de ser apropriado para referir outros espaços da blogosfera lusófona que, estando exclusivamente dedicados à divulgação e estudo da cerâmica, prestam inestimável serviço público nessa área. 

 

Apresentam-se, assim, ligações para cinco espaços portugueses e um brasileiro.

 

Sublinhe-se que o autor deste último, o artista plástico Fábio Carvalho, foi este ano convidado pela fábrica Bordallo Pinheiro (http://www.bordallopinheiro.pt/index.html) para desenvolver uma peça cerâmica no âmbito das suas edições de autor limitadas, a qual será comercializada em 2012.

 

 

Moderna Uma, Outra Nem Tanto: http://modernaumaoutranemtanto.blogspot.com/.

 

 

Cerâmica Modernista em Portugal: http://ceramicamodernistaemportugal.blogspot.com/.

 

 

O Motivo Estátua na Faiança Portuguesa dos Séculos XIX e XX: http://motivoestatuanafaiancaportuguesa.blogspot.com/.

 

 

A Memória dos Descobrimentos na Cerâmica Portuguesa: http://memoriadosdescobrimentosnaceramica.blogspot.com/.

 

 

A Fábrica de Louça de Alcântara: Breves Notas Sobre a Sua Produção: http://fabricadealcantara.blogspot.com/.

 

 

Porcelana Brasil: http://porcelanabrasil.blogspot.com/.

 

Finalmente, refiram–se ainda outros espaços que, não se dedicando exclusivamente à cerâmica, revelam também grande paixão por esta área de investigação e coleccionismo, e igualmente prestam inestimável serviço público:

 

 Armazém de Paixões: http://armazemdepaixoes.blogspot.com/.

 

 Arte, livros e velharias: http://artelivrosevelharias.blogspot.com/.

 

  As Coisas de que Eu Gosto: http://ascoisasdequeeugosto.blogspot.com/.

 

  Azulejos na Minha Terra: http://azulejosnaminhaterra.blogspot.com/.

 

  Fabrica de Louças de Sacavem: http://antigoseantiguidades.blogspot.com/

 

  Lérias e Velharias: http://leriasrendasvelhariasdamaria.blogspot.com/.

 

 Memórias de Sacavém: http://memoriasdesacavem.blogspot.com/.

 

 Trapos, Cacos e Velharias...: http://traposcacosevelharias.blogspot.com/.

 

 Velharias: http://velhariasdoluis.blogspot.com/.

 

 

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publicado por blogdaruanove às 01:56

Agosto 10 2011

 

 

Chávena de chá e pires em faiança da fábrica OAL, em Alcobaça.

 

Este motivo, conhecido em diferentes cores – amarelo, azul, verde e vermelho, não deixa de recordar as serigrafias com flores de grandes dimensões produzidas nas décadas de 1960 e 1970 por Andy Warhol (1928-1987).

 

Uma dessas obras – Ten Foot Flowers (1967), contemporânea, aliás, desta peça cerâmica da OAL, pode ser observada na magnífica Colecção Berardo de arte moderna (cf. http://mirror.berardocollection.com/?toplevelid=1&lang=pt), depositada no CCB, em Lisboa.

 

Esta decoração cerâmica surge na senda de uma outra gramática decorativa ligada à representação floral de grandes dimensões, praticada nas décadas de 1920 e 1930, particularmente em Inglaterra, na cerâmica de Clarice Cliff (1899-1972; cf. http://www.claricecliff.com/picture_gallery/index_js.shtml), e de outras ceramistas como Susie Cooper (1902-1995) e Charlotte Rhead (1885-1947), mas também na cerâmica continental, em fábricas como a belga Boch Frères Keramis, com Charles Catteau (1880-1966) e seus discípulos (cf. http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/tag/boch+fr%C3%A8res).

 

Em Portugal, a FLS também seguiu essa tendência com motivos florais de grandes dimensões, podendo dois exemplos dessa decoração ser vistos aqui: http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/fgd.

 

 

 

Esta caixa em porcelana da fábrica Vista Alegre, com decoração a esmalte e ouro sobre o vidrado, ilustra também essa tendência noutras fábricas portuguesas.

 

Ostentando a marca VA correspondente ao período 1922-47, esta peça apresenta uma decoração floral invulgar na produção da fábrica, quer pelo tratamento estilizado dos motivos florais ampliados quer pelas tonalidades aplicadas, evocativas de alguma decoração presente na produção das fábricas russas da época, como a Lomonosov.

 

    

 

Prato decorativo de meados do século XX, em porcelana da celebre fábrica russa ΔYΛΕΒΟ (Dulevo), com motivos florais pintados à mão e complementos a ouro.

 

Embora este fundo azul evoque, e tenha conseguido preservar, o prestígio do azul cobalto de Sèvres, é comum encontrar na decoração das grandes fábricas russas (soviéticas), do segundo quartel do século XX, flores de grandes dimensões associadas, obviamente, à cor vermelha.

 

Assim, durante o século XX, a decoração com motivos florais de grandes dimensões teve dois períodos marcantes – as décadas de 1920 e 1930, que coincidiram com o período do estilo Art Déco, e as décadas de 1960 e 1970, que coincidiram com o período da Arte Pop.

 

 

 

No entanto, o pós-modernismo também lhe concedeu atenção, como se  pode observar nestas peças concebidas pelo designer holandês Maarten Vrolijk (n. 1966; cf. http://www.maartenvrolijk.com/; peça à esquerda, editada em 1993) e pelo consagrado e já clássico designer e ceramista dinamarquês Bjørn Wiinblad (1918-2006. cf. http://www.rosenthalusa.com/1288d808/WIINBLAD_Bj%C3%B8rn.htm) para a fábrica alemã de porcelana Rosenthal.

 

O conjunto da direita, modelado pelo arquitecto e designer italiano Mario Bellini (n. 1935), tem a sua componente escultórica complementada com a decoração de Wiinblad, que fez sair da asa da chávena a haste da flor. O conjunto de Vrolijk, modelado e decorado por si, assume-se como um todo escultórico, onde forma, decoração e função pretendem conjugar-se harmoniosamente, formando o próprio conjunto uma flor estilizada.

 

Ao contrário do que se possa pensar, contudo, a tradição da decoração cerâmica com flores de grandes dimensões já vinha de séculos anteriores.

 

Sem recuar à decoração dos azulejos de Iznik (alguns exemplares belíssimos podem ser observados na colecção da FCG, em Lisboa: http://www.museu.gulbenkian.pt/obra.asp?num=1641&nuc=a4&lang=pt), ou de peças de épocas anteriores, basta mostrar o conjunto para chá, fabricado pela empresa inglesa Davenport entre cerca de 1815 e 1860, reproduzido abaixo.

 

Apresentando óbvia influência da cerâmica azul oriental, com uma taça, não uma chávena com asa, e um pires de rebordo alto (características que nos podem levar a datar o seu fabrico do início do período indicado), quase nos faz esquecer as pequenas florinhas que marcaram muita da decoração cerâmica inglesa da segunda metade do século XIX.

 

 

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