Até ao próximo domingo, dia 4 de Setembro de 2016, poderá ainda visitar a exposição "Decorativo, Apenas?" – Júlio Pomar e a Integração das Artes, patente no Atelier-Museu Júlio Pomar, em Lisboa.
Num espaço amplo e luminoso, concebido pelo arquitecto Álvaro Siza Vieira (n. 1933), podem encontrar-se peças do acervo do Atelier-Museu, de outras instituições similares e de coleccionadores privados, que ilustram a criação do artista nos mais diversos suportes, desde a cerâmica, ou o vidro, até ao alumínio, ou a tapeçaria, e nas mais diversas técnicas, como a gravura sobre papel ou o óleo sobre tela.
Com curadoria de Catarina Rosendo (n. 1972), este conjunto expositivo propõe-nos também retomar, a partir de uma interrogação do próprio artista, a problemática da menorização, teórica e crítica, das chamadas artes decorativas, questionando ainda a validade desta adjectivação.
Considerando as posições que já haviam sido assumidas, no século XIX, pelos artistas do movimento Arts & Crafts e que Raul Lino (1879-1974) retomaria em Portugal no princípio do século XX, esta proposta não deixa de nos levar a reflectir sobre o eventual paradoxo que surge na produção cerâmica de Júlio Pomar durante a década de 1950.
De facto, numa época em que esteve profundamente ligado ao Neo-Realismo, com os seus paradigmas da arte para o povo, próxima do povo e que do povo emanava, Pomar não executou nem promoveu a criação de múltiplos cerâmicos, como a artista húngara Hansi Staël (1913-1961) condescendeu em criar para a Secla, das Caldas da Rainha (http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/hansi+sta%C3%ABl), insistindo na realização de peças únicas, fosse na Cerâmica Bombarralense ou na Secla, fosse ainda nas outras fábricas onde desenvolveu os seus painéis azulejares.
O conjunto exposto evoca, na subtileza ou no explícito de uma ou outra imagem, as diversas influências de Pomar nas décadas de 1940 e 1950, que parecem remeter claramente para obras de artistas tão diversos como Pablo Picasso (1881-1973), Jean Lurçat (1892-1966) ou Cândido Portinari (1903-1962).
Enquanto princípio de conservação e valorização de acervos cerâmicos, aproveite-se também a oportunidade para comprovar que certas peças danificadas, como a que ilustra o cartaz da exposição e as duas aqui reproduzidas, não se limitam a ter apenas um mero valor histórico ou documental.
Veja-se ainda um prato de Pomar, datado de 1951, provavelmente executado na Cerâmica Bombarralense e que não se encontra no Atelier-Museu, aqui: http://mfls.blogs.sapo.pt/148664.html.
A propósito deste exemplar, e apesar do exíguo espaço temporal disponível para a sua hipotética execução nesse ano, note-se que a exposição de Pomar realizada entre 10 e 20 de Janeiro de 1951, na Livraria Portugália, Porto, exibiu uma peça cerâmica, sob o número 73 e ao preço de 350$00, intitulada "Uma sereia".
Como nota de interesse bibliográfico e documental, refira-se a edição de um catálogo do evento, o qual deverá estar disponível ainda este mês, ou no próximo mês de Outubro, e onde se corrigirá certamente o deslize de não haver indicação das dimensões das peças.
Diga-se, contudo, que parece perpassar sobre este luminoso espaço e esta belíssima exposição a sombra de ter passado largamente despercebida... Aproveitem-se, pois, os dois dias que ainda restam e a entrada gratuita.
O Atelier-Museu está aberto entre as 10H00 e as 18h00.
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