Miniatura de urinol formato Inglez, conforme se verifica pela anotação manuscrita na etiqueta de papel.
Esta raríssima peça, com cerca de 8,7 x 7,1 x 6,5 cm., integraria certamente os mostruários que a FLS disponibilizava através dos seus agentes ou, eventualmente, dos caixeiros-viajantes que representassem a empresa.
A tabela de preços de revenda das loiças sanitárias de Julho de 1938 regista urinóis deste formato ao preço de 65$00, referenciando ainda modelos de face e de canto, ao preço de 40$00, e higiénico, ao preço de 120$00. Regista ainda um "Formato especial para serie", "Tipo moderno Higienico", ao preço de 300$00.
Aparentemente, a marca aqui reproduzida aplicou-se apenas na loiça sanitária da FLS, pois ao contrário do que acontece nas tabelas de serviços de mesa e de loiça decorativa, esta tabela reproduz a marca da FLS que aparece neste exemplar, sem no entanto apresentar o acrónimo S.A.R.L.
A brochura encerra com diversos considerandos, entre os quais surgem os seguintes:
"A nossa loiça sanitaria é de faiança vitrificada que, não sendo porosa, não pode absorver aguas nem sujidades."
"O seu vidrado não é uma simples capa de vidro que cae ou fendilha com pouco uso, deixando infiltrar os detritos. Perfeitamente identificado com a pasta, torna o artigo impermeavel, dando-lhe a condição sine qua non para que seja efectivamente loiça sanitária."
"Toda a loiça sanitaria de Sacavem leva a nossa marca registada, devendo os nossos estimaveis clientes rejeitar qualquer peça que lhes seja apresentada como sendo do nosso fabrico e que não tenha a marca Sacavem".
Através da intervenção de Marcel Duchamp (1882-1968), que em 1917 assinou um exemplar com o pseudónimo de R. Mutt e, invertendo-lhe a tradicional posição de colocação, o apresentou como uma fonte, o urinol acabou por ser um dos ícones paradigmáticos da revolução da arte na década de 1910.
Duchamp, aliás, desenvolveu ainda outros exemplares desses objectos, que posteriormente vieram a ser conhecidos por ready-made, como a roda de bicicleta, de 1913, o escorredor de garrafas, de 1914, e a famosa imagem litografada de Mona Lisa com bigode e pêra e a inscrição L.H.O.O.Q., de 1919 (desta, Duchamp produziu diversas réplicas, as últimas das quais em 1964; cf. http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/96303.html.).
A estrutura do escorredor de garrafas foi recentemente evocada e recriada, a outra escala, numa obra (http://mirror.berardocollection.com/?toplevelid=33&CID=102&opt=sw&v1=988&lang=pt) de Joana Vasconcelos (n. 1971) executada em 2006 para a Fundação Colecção Berardo, em Lisboa, que aliás possui uma das réplicas do modelo original que Duchamp veio a produzir já na década de 1960 (http://mirror.berardocollection.com/?toplevelid=33&CID=102&a1=artist&v1=110&lang=pt&tab=works).
© Nick Knight Show Studio & Lady Gaga
Mais recentemente ainda, o conceito do urinol de Duchamp foi reaproveitado pela cantora e performer Lady Gaga (pseudónimo de Stefani Joanne Angelina Germanotta, n. 1986) para uma sessão fotográfica da revista Japan Vogue Home (http://www.vogue.co.jp/).
Esse urinol, da marca Armitage Shanks, em que Lady Gaga inscreveu o texto “I’m not a fucking king Duchamp but I love pissing with you” e a sua assinatura, foi colocado à venda em Novembro de 2011 por US $ 460,000.
© MAFLS