Figura moldada em terracota patinada, com cerca de 25,7 cm. de altura, apresentando uma réplica da célebre escultura clássica denominada Vénus de Milo, produzida pela fábrica Moderna Industrial Decorativa, de Coimbra.
Esculpida originalmente em mármore, cerca de 130-100 A.C., esta figura hoje incompleta, com cerca de 203 cm. de altura, é atribuída a Alexandros de Antioquia (datas desconhecidas) e integra o acervo do Museu do Louvre, em Paris (http://www.louvre.fr/accueil).
Imagem extremamente popular ao longo dos últimos dois séculos, paradigma da arte clássica greco-latina e termo de comparação para os novos paradigmas modernistas do século XX – "O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo", afirmou Fernando Pessoa (1888-1935; http://arquivopessoa.net/textos/224), esta escultura tem sido reproduzida em diversos formatos e diferentes materiais.
Como exemplo dessa produção diversificada, apresenta-se abaixo um pequeno sinete, com cerca de 7 cm. de altura, em vidro moldado, possivelmente também de manufactura portuguesa, embora se conheça uma outra peça similar que ostenta uma etiqueta, em papel metalizado, da antiga Checoslováquia.
No final deste artigo pode ver-se a etiqueta que acompanha a figura em terracota, MID 2, que nos permite já começar a ensaiar uma sistematização da cronologia e das marcas desta fábrica.
Ao contrário do que acontece com as peças da primeira fase (http://mfls.blogs.sapo.pt/154589.html), talvez porque a patine também se estende à base, contribuindo assim para uma eventual obliteração ou ilegibilidade das marcas na pasta, parece que a produção posterior desta fábrica tende a apresentar exclusivamente uma etiqueta identificativa da sua origem, sem qualquer marca impressa ou incisa na pasta.
Esta opção, como é óbvio, prejudica uma posterior e precisa identificação das peças oriundas da Moderna Industrial Decorativa, pois, ao contrário das marcas impressas ou incisas, a maioria das etiquetas dificilmente sobrevive à passagem do tempo.
A propósito de mais esta peça da MID, aproveita-se a oportunidade para reproduzir abaixo uma fotografia datável da década de 1940 (também já publicada por Maria Andrade no seu espaço: http://artelivrosevelharias.blogspot.pt/2012/05/moderna-industrial-decorativa-de.html) onde surgem retratados os trabalhadores desta unidade cerâmica coimbrã.
© Ana Maria Caetano
Cedida por Ana Maria Caetano (veja-se um blog de sua autoria aqui: http://rdqntnadaquefazer.blogspot.pt/), a quem se agradece a amabilidade, esta fotografia apresenta ao centro, na última fila, envergando uma bata branca, seu avô Francisco Caetano Ferreira (1908-1987), um dos fundadores da empresa e seu responsável artístico, cargo que provavelmente desenvolveria em conjunto com o desenhador Carlos dos Reis (datas desconhecidas).
Francisco Caetano Ferreira modelou diversas peças cerâmicas, dentro e fora da MID, colaborando posteriormente, segundo declarações desta sua neta, com a Companhia da Fábricas Cerâmica Lusitânia, quer na unidade de Coimbra quer na unidade do Porto.
É possível, pois, que algumas das peças escultóricas da Lusitânia de Coimbra sejam de sua autoria, havendo também notícia de que modelou um presépio produzido pela MID e exibido, no início da década de 1950, no posto de turismo do Largo da Portagem, em Coimbra.
Finalmente, sublinhe-se como é curioso o facto de esta peça ser da MID, quando o logótipo da fábrica A Nova Decorativa, também de Coimbra, é que ostenta o busto da Vénus de Milo (http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/f%C3%A1brica+a+nova+decorativa).
Não se conhecendo dados sobre a fundação ou encerramento de A Nova Decorativa, nem dados sobre a data de encerramento da Moderna Industrial Decorativa, esta coincidência faz-nos reflectir sobre a hipótese de estas duas fábricas estarem de algum modo relacionadas, eventualmente através de alguns sócios da MID que tenham vindo a fundar a AND, ou mesmo sobre o facto de a AND ter sucedido à MID.
MID 1 MID 2
© MAFLS