Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém

Setembro 01 2023

 

Jarra em porcela da Vista Alegre, produzida no período de 1947 a 1968 e com cerca de 24,5 cm. de altura, ostentando combinação cromática e decoração floral evocativas da gramática e estética características da famosa fábrica francesa de Sèvres.

 

A decoração floral, executada manualmente, quer na composição multicromática quer nos complementos a dourado, é realçada pelo fundo branco envolvido por um azul que abdicada da tonalidade proporcionada pelo tradicional e prestigiado tom, mais escuro, do azul cobalto de Sèvres, criado cerca de 1778, para recuperar um mais claro e muito prestigiado azul celeste, conhecido como azul antigo (bleu ancien), que combina cobalto, cobre, potássio e sódio, introduzido cerca de 1753.

 

 

Uma jarra com formato e dimensões similares, mas com diferente decoração e do período imediatamente anterior (1922-1947), que ilustrou o convite para a inauguração da exposição Portuguese Ceramics in the Art Deco Period, realizada nos EUA, em 2005, pode ser vista aqui: https://mfls.blogs.sapo.pt/72873.html.

 

Curiosamente, considerando a mudança do escudo para o euro e a sua equivalência, estas duas jarras tiveram um custo semelhante, embora a anterior tenha sido adquirida em 1988, numa loja que sobreviveu ao incêndio do Chiado, em Lisboa, e a actual tenha sido adquirida durante o corrente ano de 2023, também numa loja de Lisboa.

 

 

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Setembro 01 2023

   

 

Pequena taça em porcelana da Vista Alegre, com decoração foral e filetagem a dourado.

 

O motivo floral, que traduz uma certa influência oriental na escolha da flor e na sua estilização, foi estampado, tendo sido complementado com uma esmaltagem branca, sobreposta em relevo e aplicada à mão.

 

  

 

Esta taça apresenta uma inscrição relativa à estância termal das Pedras Salgadas, inserindo-se numa tradição portuguesa que, depois da amplitude das generalizadas práticas romanas e de algum retrocesso medieval, voltou a ter grande projecção a partir do último quartel do século XIX, como se comprova no livro Banhos de Caldas e Aguas Mineraes (1875), de Ramalho Ortigão (1836-1915).

 

Associadas a esse revivalismo oitocentista estiveram a produção e comercialização de várias lembranças destinadas a aquistas e visitantes das estâncias termais, de que esta peça é exemplo.

 

 

 

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Setembro 01 2023

  

 

Estatueta de ceifeira alentejana, com cerca de 19,8 cm. de altura, em biscuit da Vista Alegre, ostentando uma variante da marca utilizada pela fábrica entre 1971 e 1980.

 

As estatuetas de figuras femininas e masculinas apresentando motivos regionais, como esta, foram introduzidas em 1956 e sucederam a outras, comercializadas no período 1922-1947, cuja modelação geral sugeria menos movimento, representava essencialmente figuras femininas e aparecia até em formato de garrafa.

 

As figuras deste conjunto introduzido no período de 1947 a 1968 surgem também na versão com pintura polícroma, aplicada à mão, e ainda hoje são comercializadas pela VA.

 

Como já foi referido (https://mfls.blogs.sapo.pt/190317.html), o modelo original desta estatueta terá sido modelado pelo escultor conimbricense Cabral Antunes (1916-1986).

 

Veja-se uma outra estatueta desta série, alusiva ao Douro Litoral e decorada em policromia, aqui: https://mfls.blogs.sapo.pt/outras-fabricas-outras-loicas-cccii-373648.

 

  

 

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Outubro 18 2013

 

Jarra em faiança da FLS, formato "Portugalia 4", com decoração aplicada a esmalte azul sob o vidrado e esmalte preto sobre o vidrado.

 

Com cerca de 19,8 cm. de altura, esta peça integra o acervo do MCS, estando inventariada com o número MC 1101.

 

A presente decoração deriva claramente dos retratos recortados que se tornaram populares na Europa a partir da segunda metade do século XVIII e se consagraram no século seguinte com a designação silhouette.

 

Embora esta técnica decorativa tenha sido comum a diversas fábricas europeias e americanas, de porcelana e faiança, o motivo do toureio a cavalo é, como se sabe, exclusivamente português.

 

Na produção nacional, tal técnica decorativa foi também usada pela Vista Alegre, tendo um exemplar desta fábrica sido exibido na exposição que a seguir se refere. Com o mesmo tipo de fundo branco, e bandas a castanho, esse exemplar apresentava um conjunto de patos em vôo, como se pode observar abaixo.

 

          

 

Nos arquivos da VA surge registado um modelo similar, com bandas a verde, denominado jarra Boca Larga PB 24 Verde, aprovado para produção em 1 de Setembro de 1921. Do período 1922-1947, conhecem-se ainda outros exemplares desta fábrica com diferentes animais, como ovelhas, diferentes bandas coloridas e diferentes formatos.

 

As presentes imagens constam do catálogo da exposição Portuguese Ceramics in the Art Deco Period, realizada nos EUA em 2005, e são da autoria do fotógrafo João Francisco Vilhena (n. 1965).

 

Note-se que as imagens originais foram registadas em película e posteriormente digitalizadas, o que afectou a sua qualidade e não reflecte as características que uma impressão em papel fotográfico oferece.

 

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Setembro 30 2013

 

 

Chávena de chá e pires, em porcelana da Vista Alegre, com decoração floral policromática, ao gosto Art Déco, aplicada por decalcografia.

 

Conforme foi referido anteriormente, esta decalcomania foi também utilizada pela FLS na sua loiça de mesa (http://mfls.blogs.sapo.pt/247795.html).

 

A presente imagem consta do catálogo da exposição Portuguese Ceramics in the Art Deco Period, realizada nos EUA em 2005, e é da autoria do fotógrafo João Francisco Vilhena (n. 1965).

 

Note-se que a imagem original foi registada em película e posteriormente digitalizada, o que afectou a sua qualidade e não reflecte as características que uma impressão em papel fotográfico oferece.

 

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Abril 14 2013

 

Placa oval em biscuit, com cerca de 16,4 x 11,9 x 1 cm., representando um barco moliceiro da ria de Aveiro.

 

Encontrando-se aplicada sobre veludo, esta placa não ostenta qualquer marca visível. Sob a popa do moliceiro, contudo, é possível distinguir a assinatura manuscrita C. Calisto (Carlos da Rocha Calisto, 1934-2009).

 

Carlos Calisto foi um dos mestres modeladores da Vista Alegre, onde trabalhou até 1981.

 

Abaixo pode ver-se um pequeno azulejo quadrangular, com cerca de 10,1 cm. de lado, produzido pela fábrica Aleluia, de Aveiro, apresentando um motivo similar.

 

     

 

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Dezembro 12 2012

   

 

Cafeteira formato Estoril, decorada a azul e dourado sobre o vidrado, com o motivo 933.

 

Este formato ainda surge referenciado no catálogo de formatos de Maio de 1950, embora a pasta rosa não esteja registada na tabela de preços de 1938. Se compararmos esta cor, que terá sido produzida num curto período de tempo, com o Damask Rose (http://mfls.blogs.sapo.pt/160638.html) da Newport Pottery, constatamos que este rosa da FLS foi produzido num tom mais claro.

 

Aliás, este tom é tão claro que poderia ser tomado pelo designado barro marfim do FLS, caso não seja muito mais provável que este corresponda ao tom ilustrado num açucareiro aqui mostrado: http://mfls.blogs.sapo.pt/76995.html.

 

Quanto ao design deste formato, é na cafeteira que se comprovam as características ergonómicas da asa, a qual permite perfeita adaptação de três dedos da mão ao seu ondulado.

 

Com a mesma decoração, mas em pasta azul, veja-se um conjunto de chávena de café e pires aqui: http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/motivo+933.

 

Conforme referido nesse artigo, este formato foi também produzido pela fábrica inglesa Carlton Ware, provavelmente aquele que serviu de protótipo a este modelo da FLS. Mas o formato foi ainda produzido pela empresa francesa Robj, a qual deverá ter sido a inspiradora do modelo comercializado também pela VA.

 

Conhece-se, com efeito, este modelo de cafeteira em porcelana da VA, que surge registado no verbete 4848, datado de Fevereiro de 1938, sob a designação Cafeteira Paris c/ asa canelada.

 

As observações desse verbete referem que o modelo se produzia no tamanho 3, com 195 mm. de altura, e no tamanho 5, com 150 mm. de altura, e ainda que se fazia também com as asas Valente, Quadrada e Mota.

 

De acordo com o verbete 1973 da VA, sabe-se que o modelo de chávena Paris com asa quadrada, e a decoração P.A. 458, já se produzia em Junho de 1934, registando-se nos dados históricos a seguinte anotação - "de 1 jornal francez". Os dados históricos do verbete 2242 da VA registam ainda que esse modelo, com a decoração FA. 64, foi produzido para "o [hotel] Continental de Vigo [Galiza, Espanha]".

 

 

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Agosto 10 2011

 

 

Chávena de chá e pires em faiança da fábrica OAL, em Alcobaça.

 

Este motivo, conhecido em diferentes cores – amarelo, azul, verde e vermelho, não deixa de recordar as serigrafias com flores de grandes dimensões produzidas nas décadas de 1960 e 1970 por Andy Warhol (1928-1987).

 

Uma dessas obras – Ten Foot Flowers (1967), contemporânea, aliás, desta peça cerâmica da OAL, pode ser observada na magnífica Colecção Berardo de arte moderna (cf. http://mirror.berardocollection.com/?toplevelid=1&lang=pt), depositada no CCB, em Lisboa.

 

Esta decoração cerâmica surge na senda de uma outra gramática decorativa ligada à representação floral de grandes dimensões, praticada nas décadas de 1920 e 1930, particularmente em Inglaterra, na cerâmica de Clarice Cliff (1899-1972; cf. http://www.claricecliff.com/picture_gallery/index_js.shtml), e de outras ceramistas como Susie Cooper (1902-1995) e Charlotte Rhead (1885-1947), mas também na cerâmica continental, em fábricas como a belga Boch Frères Keramis, com Charles Catteau (1880-1966) e seus discípulos (cf. http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/tag/boch+fr%C3%A8res).

 

Em Portugal, a FLS também seguiu essa tendência com motivos florais de grandes dimensões, podendo dois exemplos dessa decoração ser vistos aqui: http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/fgd.

 

 

 

Esta caixa em porcelana da fábrica Vista Alegre, com decoração a esmalte e ouro sobre o vidrado, ilustra também essa tendência noutras fábricas portuguesas.

 

Ostentando a marca VA correspondente ao período 1922-47, esta peça apresenta uma decoração floral invulgar na produção da fábrica, quer pelo tratamento estilizado dos motivos florais ampliados quer pelas tonalidades aplicadas, evocativas de alguma decoração presente na produção das fábricas russas da época, como a Lomonosov.

 

    

 

Prato decorativo de meados do século XX, em porcelana da celebre fábrica russa ΔYΛΕΒΟ (Dulevo), com motivos florais pintados à mão e complementos a ouro.

 

Embora este fundo azul evoque, e tenha conseguido preservar, o prestígio do azul cobalto de Sèvres, é comum encontrar na decoração das grandes fábricas russas (soviéticas), do segundo quartel do século XX, flores de grandes dimensões associadas, obviamente, à cor vermelha.

 

Assim, durante o século XX, a decoração com motivos florais de grandes dimensões teve dois períodos marcantes – as décadas de 1920 e 1930, que coincidiram com o período do estilo Art Déco, e as décadas de 1960 e 1970, que coincidiram com o período da Arte Pop.

 

 

 

No entanto, o pós-modernismo também lhe concedeu atenção, como se  pode observar nestas peças concebidas pelo designer holandês Maarten Vrolijk (n. 1966; cf. http://www.maartenvrolijk.com/; peça à esquerda, editada em 1993) e pelo consagrado e já clássico designer e ceramista dinamarquês Bjørn Wiinblad (1918-2006. cf. http://www.rosenthalusa.com/1288d808/WIINBLAD_Bj%C3%B8rn.htm) para a fábrica alemã de porcelana Rosenthal.

 

O conjunto da direita, modelado pelo arquitecto e designer italiano Mario Bellini (n. 1935), tem a sua componente escultórica complementada com a decoração de Wiinblad, que fez sair da asa da chávena a haste da flor. O conjunto de Vrolijk, modelado e decorado por si, assume-se como um todo escultórico, onde forma, decoração e função pretendem conjugar-se harmoniosamente, formando o próprio conjunto uma flor estilizada.

 

Ao contrário do que se possa pensar, contudo, a tradição da decoração cerâmica com flores de grandes dimensões já vinha de séculos anteriores.

 

Sem recuar à decoração dos azulejos de Iznik (alguns exemplares belíssimos podem ser observados na colecção da FCG, em Lisboa: http://www.museu.gulbenkian.pt/obra.asp?num=1641&nuc=a4&lang=pt), ou de peças de épocas anteriores, basta mostrar o conjunto para chá, fabricado pela empresa inglesa Davenport entre cerca de 1815 e 1860, reproduzido abaixo.

 

Apresentando óbvia influência da cerâmica azul oriental, com uma taça, não uma chávena com asa, e um pires de rebordo alto (características que nos podem levar a datar o seu fabrico do início do período indicado), quase nos faz esquecer as pequenas florinhas que marcaram muita da decoração cerâmica inglesa da segunda metade do século XIX.

 

 

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